Dezesseis das maiores empresas anunciantes do mundo informaram, na quarta-feira (18), que unirão esforços com Google, Facebook, YouTube e Twitter para promover um ambiente mais seguro na internet. O acordo internacional foi nomeado Aliança Global para Mídias Responsáveis (Global Alliance for Responsible Media, na sigla em inglês). A ideia é assegurar a privacidade de dados dos usuários e combater discursos de ódio, notícias falsas e bullying online.
Fazem parte da aliança empresas como Adidas, Nestlé, Bayer, Unilever (responsável por marcas como Omo, Rexona e Axe), Danone, MasterCard e Proctor & Gamble (dona da Oral-B, Gilette e Pampers). O primeiro encontro da aliança foi nesta quinta-feira (19), no Festival Internacional de Criatividade de Cannes, na França.
A medida ocorre em meio a um cenário de perda de credibilidade de redes sociais, por permitirem a veiculação de fake news e de discursos discriminatórios, e de críticas a grandes empresas pelo uso de dados privados de usuários para anúncios digitais.
O Facebook, por exemplo, é constantemente criticado por não empreender esforços suficientes para filtrar conteúdos prejudiciais - promovendo a exibição de notícias falsas ou de vídeos de execução e de consumo de drogas. Mark Zuckerberg chegou a depor por cinco horas ao Senado dos Estados Unidos, em abril do ano passado, para explicar o vazamento de dados a usuários.
Até hoje, apesar de afirmar que a empresa irá promover a segurança na internet, ele não classifica a rede social como uma empresa de mídia, o que implicaria assumir responsabilidade pelo conteúdo veiculado. Em vez disso, Zuckerberg defende que o Facebook é uma empresa de tecnologia que dá voz às pessoas.
Outra crítica é ao YouTube: reportagem do New York Times publicada no início de junho revelou que o sistema automático de sugestões de vídeos relacionados promovia a visualização de imagens de crianças em trajes de banho - um looping favorecendo a pedofilia online - e de conteúdos discriminatórios contra negros, mulheres e estrangeiros.
O escândalo levou empresas como Nestlé, Disney e McDonald's a suspenderem a publicidade no YouTube. Em fevereiro, o site já havia sido criticado por permitir que pedófilos comentassem em canais de vídeos infantis.
"Membros da Aliança vão trabalhar de forma colaborada para identificar ações que protejam mais os consumidores online e atuar em prol de um ambiente onde discursos de ódio, bullying e desinformação é combatido, onde os dados pessoais são protegidos e usados com responsabilidade quando fornecidos, e onde todos, sobretudo crianças, estão melhor protegidos", diz o comunicado assinado pelas 17 empresas.
Grandes empresas se veem em escândalos por uso de dados vazados
A falta de regulação na internet é um dos grandes debates atuais, em uma era na qual a tecnologia cada vez mais se populariza – estudo da empresa norte-americana Bond Cap estima que 51% da população mundial, cerca de 3,8 bilhões de pessoas, está conectada à internet.
A União Europeia chegou a aprovar regras mais rígidas envolvendo direitos autorais contra Facebook e Google – agora, em países europeus, obras intelectuais e artísticas (fotos, vídeos e textos) só podem ser compartilhadas em redes sociais vinculadas às empresas após a aprovação dos autores.
Grandes multinacionais se envolveram no debate após serem criticadas por direcionarem anúncios a partir do uso de dados privados de consumidores. As empresas também são criticadas por associarem publicidade a conteúdos falsos e discriminatórios – o medo é de associar a marca a um texto conspiratório ou preconceituoso, o que pode prejudicar as vendas.
— Quando os desafios da indústria impactam a sociedade, criando divisão e colocando nossas crianças em risco, cabe a nós fazer algo. Criar esta aliança é um grande passo para reconstruir a confiança em nosso mercado e na sociedade — afirmou Luis Di Como, diretor de mídia global da Unilever, no comunicado da aliança.
As medidas práticas a serem tomadas ainda não foram definidas. Por enquanto, a Aliança Global para Mídias Responsáveis se comprometeu a criar e dar poder para um grupo de trabalho, que será responsável em definir os novos passos.