Líder mundial de material de telefonia móvel e número dois em smartphones, a Huawei tem um ponto fraco: sua dependência da tecnologia americana de chips eletrônicos, usados em seus celulares.
A proibição dos Estados Unidos imposta sobre companhias americanas para comercializar com empresas estrangeiras de telecomunicações é um duro golpe contra os próprios grupos americanos, de quem a Huawei é um dos maiores clientes, mas ainda maior para a empresa chinesa.
Graças a seu material de redes, a Huawei é uma líder inquestionável do 5G, a quinta geração de telefonia móvel, que vai permitir um acesso ultrarrápido à internet. Mas mesmo nesta área, a Huawei pode estar vulnerável: anualmente, compra US$ 67 bilhões em materiais e equipamentos, US$ 11 bilhões deles de fabricantes americanas.
De acordo com a consultoria de risco político Eurasia Group, as grandes fabricantes de chips – Qualcomm, Qorvo e Texas Instruments – já suspenderam suas entregas à Huawei, à espera de que as coisas se acalmem, bem como as desenvolvedores de softwares Oracle e Microsoft.
Isso poderia "comprometer totalmente" as ambições da Huawei no 5G, alerta a Eurasia. O fundador da Huawei, Ren Zhengfei, ex-engenheiro do Exército chinês, descarta estes temores e garante que o grupo tem reservas de chips e pode produzi-los sozinho. Mas especialistas do setor não estão convencidos.
— A rede 5G da Huawei não será afetada. Em matéria de tecnologia 5G, para que as outras empresas alcancem a Huawei, será preciso dois ou três anos — prometeu Zhengfei, referindo-se aos grupos americanos e europeus.
Já a Eurasia afirma: "Não há nenhuma possibilidade de que a empresa sobreviva de forma duradoura (...) sem acesso à cadeia de fornecimento mundial". A Huawei de fato criou sua própria filial de produção de chips eletrônicos, a HiSilicon, mas esta também será afetada pelas sanções americanas.
Um dos objetivos de isolar tecnologicamente a Huawei é forçar os europeus a deixar de lado o grupo chinês para a instalação do 5G, segundo o Eurasia. Vários países, como Alemanha, França e Holanda, resistem à ofensiva norte-americana por ora.
Mas no caso de uma pressão crescer por parte de Washington, "será muito difícil para a UE continuar trabalhar com a Huawei", alerta Guntram Wolff, diretor do "think tank" de Bruxelas, Bruegel.
Dependência do sistema operacional Android
Outro revés no caminho da Huawei é o corte de laços anunciado pelo Google no domingo (19). O grupo chinês depende da gigante americana e seu sistema operacional Android, usado na maioria dos smartphones do mundo. Sem o Android, dificilmente a Huawei conseguirá convencer os clientes a comprarem seus smartphones, sem apps como Gmail, Google Maps e YouTube – apenas entre os mais conhecidos. No Brasil, a empresa anunciou recentemente sua volta ao mercado, com a família de aparelhos P30.
— Trata-se de um revés considerável para a divisão de smartphones da Huawei — observa o professor Ryan Whalen, do Centro de Direito e Tecnologia da Universidade de Hong Kong.
A Huawei afirma estar elaborando seu próprio sistema operacional, mas o atual duopólio formado pelo Android e pelo iOS, da Apple, parece impossível de ser destronado – como mostram os fracassos da Nokia, da Blackberry e da Microsoft neste setor.
Os usuários de telefones da Huawei em todo o mundo se perguntam agora se poderão continuar acessando os serviços do Google em seus dispositivos. Diante dessas preocupações, Washington pareceu querer reduzir as tensões e, na segunda-feira (20), decretou um prazo de 90 dias antes de impor sanções.
Zhengfei considerou nesta terça (21) que a medida tem "pouco sentido" e anunciou que seu grupo e o Google "discutem" para buscar soluções para a proibição.