Nascida no Jardim Catarina, no Rio de Janeiro – considerada a maior favela plana da América Latina por muitos anos –, a carioca Nina Silva, 36 anos, subiu a rampa de acesso ao palco principal da Campus Party, em São Paulo, para falar sobre tecnologia, diversidade e inclusão. Formada em Administração, gerente de projetos na ThoughtWorks e executiva na área de tecnologia da informação (TI) há mais de 16 anos, ela é considerada pela instituição internacional Most Influential People of African Descent (Mipad) como uma das cem afrodescendentes mais influentes do mundo.
Na palestra Tecnologia para Quem?, realizada no fim da manhã desta quinta-feira (14), Nina relatou que a cada passo dado em direção à consolidação da sua carreira no ramo de TI, ela sentia de maneira mais aguda a falta de diversidade de gênero e de raça dentro da área. Ancorada em informações compiladas pelo Instituto Locomotiva, com dados divulgados pela Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (Pnad Contínua), de 2017, a executiva ressaltou que mulheres negras chegam a receber até 43% menos do que um homem branco, mesmo que ambos apresentem a mesma formação e ocupem o mesmo cargo.
Dentro deste contexto, Nina destacou que a tecnologia pode segregar ainda mais as pessoas e aumentar as disparidades sociais já experienciadas por milhares de pessoas.
— Existem estruturas no mundo que impõem e deixam o privilégio de acesso a bens e serviços nas mãos de poucos, mas, com a era digital, podemos dar um basta nisso, porque estamos conectados e isso traz muitas possibilidades de realizarmos uma grande mudança. O acesso à tecnologia precisa ser democrático para que a gente consiga avançar socialmente — diz a especialista em TI.
Nina apontou também os benefícios financeiros que a diversidades traz aos empreendimentos. Ela ressaltou que uma pesquisa feita, em 2017, pela McKinsey mostrou que empresas com time de executivos mais plurais lucram 31% a mais quando têm funcionários negros e 21% quando mulheres compõem o grupo de funcionários.
Vontade de promover a mudança
Motivada pela vontade de mexer com estruturas pesadas que estratificam e imobilizam a sociedade, Nina, com outras pessoas, criou o Movimento Black Money, que tem como objetivo estimular a afroempreendedores e seus ecossistemas. Além disso, o projeto tem outras duas frentes: a da comunicação, que tem como meta tornar a comunicação menos agressiva à população e trabalhar com a ressignificação de símbolos e quebras de estereótipos, e a da educação, no qual oferece cursos de curta duração nas áreas de inovação, gestão e tecnologia voltados para a população negra.
Por fim, Nina disse que as ferramentas precisam ser democráticas e ter como propósito a resolução de uma demanda social, seja ela de entretenimento, econômica ou política.
— A tecnologia social precisa ser simples, reaplicável e de fácil acesso. Essas ferramentas já não podem ficar restritas nas mãos de poucos, e as empresas precisam entender isso — finalizou.