Uma equipe internacional de astrônomos revelou nesta quarta-feira (17) ter descoberto uma estrutura colossal dos primórdios do universo: um protossuperaglomerado de galáxias, que foi chamado Hyperion, segundo a European Southern Observatory (ESO). Trata-se da maior e mais massiva estrutura encontrada em um tempo tão remoto e a uma distância tão grande — cerca de 2 bilhões de anos após o Big Bang.
O cálculo é de que a enorme massa do protossuperaglomerado seja mais de um quatrilhão de vezes a do Sol. A massa é semelhante à das maiores estruturas observadas no universo atual. Ainda assim, a descoberta foi surpreendente.
— Trata-se da primeira vez que uma estrutura tão grande foi identificada a um desvio para o vermelho tão elevado, correspondente a um pouco mais de 2 bilhões de anos após o Big Bang — explicou Olga Cucciati, do Istituto Nazionale di Astrofisica, de Bolonha, na Itália, e primeira autora do artigo científico que descreve estes resultados — Normalmente, este tipo de estruturas são conhecidas, mas a desvios para o vermelho mais baixos, o que corresponde a uma época em que o universo teve muito mais tempo para se desenvolver e construir algo tão grande. Foi uma surpresa encontrar uma estrutura tão evoluída quando o universo era ainda relativamente jovem.
O desvio para o vermelho e como isso explica a idade de Hyperion
A luz que chega à Terra emitida por galáxias extremamente distantes levou muito tempo para viajar, o que é capaz de abrir uma janela para o passado. O comprimento de onda desta radiação foi “esticado” pela expansão do universo ao longo da sua viagem, um efeito chamado desvio para o vermelho cosmológico. Objetos mais distantes e mais velhos têm um desvio para o vermelho maior, o que leva os astrônomos a usar frequentemente o desvio para o vermelho e a idade de forma semelhante. O desvio para o vermelho do Hyperion é 2,45, o que significa que os astrônomos observaram este protossuperaglomerado como ele era 2,3 bilhões de anos após o Big Bang.
O instrumento utilizado pelo grupo de pesquisadores, liderado por Olga, foi o VIMOS, montado no Very Large Telescope (VLT) do ESO. Hyperion fica na constelação do Sextante no campo Cosmos e foi identificado por meio da análise de uma enorme quantidade de dados obtidos por rastreio do VIMOS. O estudo também identificou que Hyperion tem uma estrutura muito complexa, que contém pelo menos sete regiões de alta densidade ligadas por filamentos de galáxias, e que o seu tamanho é comparável ao de superaglomerados próximos, apesar da estrutura ser muito diferente.
— Compreender o Hyperion e ver como se compara a estruturas semelhantes recentes pode dar-nos pistas sobre como é que o universo se desenvolveu no passado e como evoluirá no futuro, dando-nos ainda a oportunidade de desafiar alguns modelos de formação de superaglomerados — conclui Cucciati. — A descoberta deste titã cósmico ajuda-nos a descobrir a história destas estruturas de larga escala.
Por que Hyperion?
O nome Hyperion foi escolhido devido a um titã da mitologia grega, pelo tamanho e massa do protossuperaglomerado. A inspiração para esta nomenclatura mitológica vem de um proto-aglomerado anteriormente descoberto no interior de Hyperion, ao qual se chamou Colosso.