Após quase dois anos atuando na Fundação de Ciência e Tecnologia (Cientec), o professor universitário e bioquímico Marc François Richter deixa, nesta segunda-feira (12), a presidência do órgão. De saída, ele aponta discordância com a extinção da Cientec e diz que a medida do governo de José Ivo Sartori deve causar prejuízos ao desenvolvimento econômico do Estado, uma vez que a fundação é a única prestadora de serviços no Rio Grande do Sul para uma série de testes e verificações contratadas por setores da iniciativa privada.
— Estou triste. Em primeiro lugar, o prejuízo é para as empresas gaúchas, que precisarão buscar novos lugares para testar seus produtos. Existem alguns serviços que apenas a Cientec oferece, como laboratório credenciado no Estado, na Região Sul e, em alguns casos, somos os únicos no Brasil. (Com a extinção), algumas empresas terão que mandar (suas amostras) para São Paulo – avalia.
O bioquímico defende ainda que a Cientec é útil ao Estado por ser isenta na realização de testes de qualidade de obras públicas efetivadas por empresas privadas.
— Somos uma entidade pública, então somos isentos. O Estado, quando está fazendo uma obra, seja a ponte de Guaíba ou uma estrada, é importante que tenha uma fiscalização e uma verificação de qualidade (por parte do próprio Estado), porque essas obras são terceirizadas. Eu entendo que uma entidade pública tem mais isenção nessa verificação.
Ainda de acordo com Richter, o governo nem tentou fazer um enxugamento da Cientec que melhorasse a situação financeira do órgão, antes de encaminhar a extinção. Uma solução, segundo ele, seria realizar um programa de demissão voluntária (PDV) associado a uma prospecção de mercado.
— A Cientec enxugada, com menos custo, seja como fundação, seja em outro modelo, poderia fazer um ótimo trabalho. Quando eu entrei, a terceira parte do trabalho de reestruturação seria uma diminuição das pessoas que trabalham aqui. Se fosse um PDV com atração financeira boa, dessas 230 pessoas (que trabalham na fundação), ao menos cem teriam aceito. Se buscássemos mais clientes, poderíamos aumentar a receita e, com um pouco de sorte, igualar despesas e receitas. Quando assumi, vi esses valores e perguntei por que não tentar melhorar essa situação financeira. No final não deu tempo, porque entramos no pacote de extinção — relatou.
Em outubro de 2016, Richter representou a Cientec em uma missão internacional em busca de parcerias com institutos alemães, como o Instituto de Tecnologia Karlsruhe (KIT) e o Instituto de Microtécnica Fraunhofer. Este último é a maior organização de pesquisa aplicada da Europa e a ideia de Richter era reproduzir o modelo na Cientec, com objetivo de ampliar a carteira de clientes e os recursos da fundação. Um mês depois, entretanto, sem consulta a ele, o Piratini encaminhou a extinção do órgão – que acabou aprovada na Assembleia Legislativa, no mês seguinte. Richter diz que não teria realizado a missão internacional se soubesse dos planos de extinção do governo.
— Quando eu estava fazendo a viagem, em outubro (de 2016), não sabia disso, obviamente. Um mês depois da viagem, a Cientec entrou nesse pacote. A direção da Cientec não sabia disso. Ficamos sabendo um dia antes (do envio da proposta de extinção). Se eu soubesse disso, não iria fazer nenhuma viagem, exatamente para não gastar dinheiro público. Porque seria ineficiente. Confesso que, até hoje, não sei se o próprio governador, que estava junto (na missão) já sabia que a Cientec estaria dentro (do pacote de extinções).
A previsão, segundo Richter, é de que a extinção, iniciada em 2017, seja concluída em abril. A exoneração do luxemburguense, criado na Alemanha e radicado há duas décadas no Brasil, foi publicada no Diário Oficial desta segunda-feira (12) e, em seu lugar, foi nomeado o advogado Marcus Vinicius de Araújo Goes. Richter vai retornar, agora, à atividade de professor na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs).