Após William Bonner virar meme ao aconselhar espectadores a filmarem vídeos pelo celular na horizontal, uma pergunta surgiu: afinal, é melhor gravar imagens em qual posição? A resposta não é definitiva: depende do propósito e da plataforma na qual elas serão veiculadas.
De fato, nosso olhar é horizontal. Até pouco tempo atrás, as imagens nesse formato eram as consideradas "corretas" – afinal, telas de pintura, fotografias, TV e cinema são, todos, horizontalizados. O pedido de Bonner é nesse sentido: grave de uma forma que os vídeos enviados à Globo possam ser exibidos sem tarja preta nas laterais.
Outro tipo de plataforma, porém, é cada vez mais usada: o smartphone. É verdade que imagens na vertical já existiam antes (basta pensar em pinturas chinesas), mas a popularização de celular a nível mundial deve mudar nossa estética de consumo e de produção de imagens. Nele, consumimos imagens verticalizadas devido ao próprio design do aparelho, feito para interagirmos usando apenas indicador e polegar. Portanto, se você planeja bombar em redes sociais como Instagram, Facebook e SnapChat, imagens no modo retrato podem ser mais indicadas em muitos casos.
— Na vertical, sobra menos espaço nas laterais. Até por isso SnapChat e Instagram usam muito a vertical, já que são baseados em selfies, na imagem que você pega de si mesmo — observa Eduardo Pellanda, um dos coordenadores do Laboratório de Pesquisa em Mobilidade e Convergência Midiática (Ubilab) da PUCRS.
Na esteira dessa nova tendência, há até um festival focado apenas em imagens no modo retrato: o Vertical Film Festival (VFF), com edições em 2014 e 2016, na Austrália. A ideia é subverter os padrões e valorizar vídeos produzidos no novo formato.
Ao mesmo tempo, é preciso levar em conta a história que você quer contar por meio das imagens. Filmar na horizontal é interessante se você quer mostrar uma paisagem ou um objeto em deslocamento – ou seja, quando os detalhes do cenário acrescentam na narrativa. Já a vertical é melhor se você está fazendo uma selfie ou se a cena é, de fato, vertical, como uma árvore, um prédio ou um vídeo de um bungee-jump. Vale pensar: o que quero focar e o que não faz diferença se ficar de fora?
— Uma imagem na praia basicamente precisa de detalhes da paisagem, então a horizontal é melhor. Agora, para tirar a foto da namorada com o Papai-Noel e a árvore, talvez a vertical seja uma boa escolha — diz Douglas Barra, professor da pós-graduação em Criação e Produção de Narrativas Multimídia da ESPM-Sul.
Rogerio Amaral Ribeiro, diretor da Escola Câmera Viajante, de Porto Alegre, observa que a plataforma que usamos para entrar em contato com o mundo transforma o jeito como o interpretamos. É como dizia o filósofo canadense Marshall McLuhan: "o meio é a mensagem".
— Os olhos do ser humano enxergam mais na horizontal, mas a tecnologia interfere na linguagem de expressão. O formato retangular foi imposto pela pintura e pela arte plástica. Com o cinema, a imagem se se alongou para os lados. Depois, na televisão, ela se torna mais quadrada, ainda que na horizontal. Agora, com os smartphones, as imagens estão se verticalizando, mas elas não devem se tornar as únicas. Seguiremos com as imagens horizontais no cinema, por exemplo — observa.