— Ele matou a minha filha!
O grito dolorido de Mareci Rosa dos Santos, 68 anos, enquanto caminhava à frente da manifestação na manhã deste sábado (2) em Canoas, na Região Metropolitana, representa a revolta que abate familiares e amigos de Patrícia Rosa dos Santos, 41 anos. A enfermeira morreu dentro do apartamento onde vivia no bairro Igara, no último dia 22 de outubro. O marido dela, o médico André Lorscheitter Baptista, 48 anos, está preso por suspeita ter cometido o crime.
— Eu estou aqui junto com os amigos da Patrícia para haver justiça. Justiça na Terra e justiça de Deus. E ele não ficar impune. Deus tem que mostrar para esse mundo quem era esse monstro. O que ele se mostrava para minha família e para ela. Ele se mostrava um anjo bom. Mas ele era um monstro — desabafou a mãe.
Mareci segurava uma das faixas com a frase “Justiça pela Patrícia”. Ao lado, as outras filhas dela Priscila e Bruna, junto de outros familiares, sustentavam uma faixa com a foto da irmã: “Somos todos Patrícia”.
— Eu sei que isso acontece com muitas mulheres, todos os dias. Eu tenho que fazer a diferença. Vou fazer a diferença. E ela não vai ser só mais um número. Não vai ser só mais um homem que mata a mulher. É um médico, que tem diploma. É pior do que outros casos ainda — disse a irmã, Priscila Rosa dos Santos, 43 anos.
O cuidado que Patrícia mantinha rotineiramente com a saúde foi um dos pontos que fez a família suspeitar da versão apresentada pelo marido. Baptista alegou aos familiares da esposa que ela havia sofrido uma parada cardiorrespiratória. A irmã Priscila suspeitou da versão e decidiu acionar a polícia. As perícias realizadas no corpo da vítima constaram a administração de três medicamentos.
Segundo a Polícia Civil, o médico teria adicionado um medicamento sedativo a um sorvete, que foi consumido pela vítima. Depois, com ela adormecida, teria administrado outros dois medicamentos injetáveis, o que teria causado a parada cardiorrespiratória na vítima.
“Ela transbordava amor, empatia”, diz amiga
A partir das 8h, houve concentração de familiares e amigos de Patrícia para o início da manifestação. A caminhada partiu do cruzamento da Avenida Dr. Sezefredo Azambuja com a Açucena em direção à Central de Polícia de Canoas. Muitos presentes eram pessoas ligadas à área de saúde. A técnica de enfermagem Andrea Oliveira, 54 anos, trabalhou por 13 anos com Patrícia no Hospital de Pronto Socorro de Canoas.
— Ela era um ser humano incrível. Sempre ajudando as pessoas — recordou.
A enfermeira Angélica Siqueira, 39 anos, também recorda da amiga com afeto. A sensação entre as pessoas próximas ainda é de incredulidade.
— Ela transbordava amor, empatia. Sempre se colocando no lugar do próximo. O que ela fazia pelos pacientes, pela família, pelos amigos é indescritível. Era um ser humano especial, abençoado. Não tem palavras suficientes para descrever o tipo de ser humano que ela era. É inacreditável isso tudo que aconteceu. Tenho certeza de que ela estaria aqui por qualquer pessoa, da mesma forma que hoje a gente está aqui. Então por isso que todas essas pessoas estão aqui hoje — disse.
Janaína Longaray, 50 anos, também é enfermeira, próxima de Patrícia. Ela lembra que a amiga era uma mãe dedicada, de um menino de dois anos.
— Tirar a vida de uma pessoa, que é a mãe do seu filho, é muito revoltante. Uma pessoa que jurou salvar vidas. A gente pede Justiça. O filho não vai ter mais a mãe. É o que nos comove mais ainda. Pensar numa criança que ficou órfã — lamenta.
Na chegada em frente à Central de Polícia, os manifestantes gritaram mais uma vez, pedindo “júri popular” e “justiça”. O intuito da família é manter as mobilizações nas próximas etapas do caso.
— Não desistam. Não deixem isso acontecer. Cada audiência no Fórum a gente vai estar lá. A gente vai conseguir. Ele não pode matar. Ele jurou salvar vidas — desabafou a irmã, Priscila.
O pai, o aposentado João Carlos dos Santos, 71 anos, agradeceu às pessoas que participaram da manifestação, e aos policiais que investigaram o caso.
— Queria agradecer à Delegacia de Homicídios, o delegado. Toda a equipe deles. E por toda a polícia. Isso não poderia ficar impune — disse.
O advogado de André Lorscheitter Baptista, Luiz Felipe Magalhães, emitiu nota sobre o caso:
"Em atenção à imprensa e à sociedade, e considerando a veiculação de notícias imprecisas e especulações sobre a morte de Patrícia Rosa dos Santos, Andre Lorscheitter Baptista, por meio de sua defesa técnica, representada pelo advogado Luiz Felipe Mallmann de Magalhães, declara ser absolutamente inocente de todas as graves imputações que estão sendo feitas. Além disso, assegura que o que ocorreu com Patrícia Rosa dos Santos foi uma tragédia, mas jamais um crime de homicídio.
Percebe-se que houve precipitação nas declarações veiculadas pelos órgãos competentes, visto que os fatos relacionados à morte da senhora Patrícia Rosa dos Santos ainda não foram devidamente esclarecidos. Qualquer especulação que presuma a culpabilidade do investigado, sem as provas necessárias, viola o princípio constitucional da presunção de inocência, além de acarretar sérios prejuízos à imagem do investigado e de sua família, que jamais poderão ser revertidos.
Esses são os esclarecimentos que a defesa técnica de Andre Lorscheitter Baptista considera necessários no momento."