Amanhecia no bairro São João do Rio Vermelho, área periférica de Florianópolis, Santa Catarina, quando uma família em aflição chamou o Samu. Eram 5h desta quinta-feira (17) e o motivo do pedido era o primogênito, Guilherme Jockyman, 31 anos, que carregava duas facas e ameaçava ferir a si mesmo. Pai, 68, e mãe, 54, não conseguiram convencê-lo a recuar. Os profissionais de saúde pediram apoio da Polícia Militar.
— A viatura chegou e bateu nele. Derrubou meu irmão. Ordenaram que deitasse e colocasse as mãos na cabeça. Ele não obedeceu. Deram dois tiros no peito, ainda de dentro da viatura. Se ele tivesse conseguido se matar, nós estaríamos muito tristes. Mas quem matou meu irmão foi quem chamamos para nos socorrer — lamenta Arthur Jockyman, 23, caçula da família.
Ele conta que seus familiares viveram em Porto Alegre até 2022, quando houve o projeto de mudança para a capital catarinense. Arthur diz que Guilherme enfrentava condição de saúde adversa, por conta de depressão severa. Perdeu o trabalho e foi separado da família. Ele deixa uma filha de 5 anos.
— Ele pegou as facas. Estava ameaçando se ferir. Não machucou, nem ameaçou ninguém. Meu pai, idoso, estava ao lado dele, tentando acalmar meu irmão. O Guilherme não iria ferir ninguém. Por que não usaram outro meio? Viram ele com as facas e chegaram atirando. Foi morto na frente dos meus pais. Nunca vão esquecer essa cena. Estamos inconformados. Esperamos justiça — define Arthur.
O corpo de Guilherme será velado até a manhã desta sexta-feira (18), pois os pais e irmãos esperam familiares e amigos do Rio Grande do Sul para a despedida. O sepultamento deve ocorrer ao final da manhã em um cemitério municipal de Florianópolis.
Investigação
A apuração sobre os fatos está sob responsabilidade da Delegacia de Homicídios de Florianópolis, sob responsabilidade do delegado Enio de Oliveira Matos. Para o delegado, a situação representava risco real às pessoas que atuavam na ocorrência.
— O relato é de que o pessoal do Samu foi recebido a tijoladas. Que o homem em surto investiu contra os policiais, que reagiram. Estamos ouvindo testemunhas e autores (policiais militares). A família será ouvida após os compromissos de funeral — pontua Matos.
O delegado diz que pretende concluir as investigações no prazo formal de elaboração do inquérito, em 30 dias.
O que diz a Polícia Militar
A Polícia Militar de Santa Catarina (PMSC) informou que a ocorrência foi atendida pelo 21º Batalhão de Polícia Militar. Por nota, a corporação confirma que foi acionada para prestar apoio ao Samu "em uma situação envolvendo um homem em surto psicótico".
"Durante a primeira tentativa de atendimento, a equipe do SAMU enfrentou dificuldades, sendo recebida com pedradas. Diante da situação crítica, foi solicitado apoio policial para garantir a segurança da equipe e possibilitar um atendimento adequado", aponta o texto da PMSC.
A nota sustenta que informações preliminares indicam que o homem em surto estaria de posse de duas armas branca (facas) e, no momento da abordagem, teria investido contra a guarnição policial militar, "tendo sido empregado o uso de força letal, resultando no seu óbito".
O texto conclui indicando que o 1º Comando Regional de Polícia Militar instaurou um Inquérito Policial Militar para apurar as circunstâncias do atendimento da ocorrência.
Procure ajuda
Caso você esteja enfrentando alguma situação de sofrimento intenso ou pensando em cometer suicídio, pode buscar ajuda para superar este momento de dor. Lembre-se de que o desamparo e a desesperança são condições que podem ser modificadas e que outras pessoas já enfrentaram circunstâncias semelhantes.
Se não estiver confortável em falar sobre o que sente com alguém de seu círculo próximo, o Centro de Valorização da Vida (CVV) presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo e anonimato. O CVV (cvv.org.br) conta com mais de 4 mil voluntários e atende mais de 3 milhões de pessoas anualmente. O serviço funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados), pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil (confira os endereços neste link).
Você também pode buscar atendimento na Unidade Básica de Saúde mais próxima de sua casa, pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), no telefone 192, ou em um dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) do Estado. A lista com os endereços dos CAPS do Rio Grande do Sul está neste link.