Apesar da redução das ocorrências em todo o Estado, o roubo de gado segue sendo desafio para a polícia em várias regiões, onde a incidência desse tipo de crime aumentou. Para combater a ação das quadrilhas, a Polícia Civil anunciou a criação de quatro novas delegacias especializadas.
Em Minas do Leão, na Região Carbonífera, ladrões levaram de uma só vez 66 cabeças de gado de uma propriedade de 2,4 mil hectares, na última sexta-feira (13).
A intensa movimentação militar, decorrente da existência de um campo de treinamento do Exército na propriedade vizinha, não inibiu a ação dos criminosos, que utilizaram cavalos e possivelmente dois caminhões para transportar os animais.
— Como cidadã, me sinto altamente ultrajada, invadida. Invadida na minha propriedade. Agora eu tenho medo de me movimentar por aqui — diz a pecuarista que divide a administração da fazenda com outras três irmãs e prefere ficar no anonimato.
Das 66 cabeças furtadas, 26 foram recuperadas em um horto florestal das proximidades. O prejuízo estimado é de R$ 140 mil.
Toda a região está em alerta. O próprio presidente do Sindicato Rural de Butiá e Minas do Leão, José Fernando Almeida Vieira, foi atacado, em abril. Das 26 cabeças de gado furtadas, 20 foram recuperadas no mesmo horto.
— A sorte que nós temos a lavoura de soja, lavoura de trigo, lavoura de milho, bons parceiros na região, mas eu vejo assim a pecuária diminuindo, diminuindo, por causa desse tipo de situação, do abigeato que está sendo muito frequente — lamenta Vieira.
O caso mais recente deste tipo de crime aconteceu na noite de terça-feira (17), em São Francisco de Paula, nos Campos de Cima da Serra, onde um terneiro foi abatido com um tiro na cabeça e abandonado no campo.
Crime revelado pelo GDI
Há 10 dias, o GDI revelou o drama dos fazendeiros que criam gado na fronteira do Brasil com o Uruguai, em Santana do Livramento. Um produtor sofreu prejuízo de R$ 300 mil depois que um lote de 70 cabeças foi furtado, em agosto.
— É o roubo do lucro líquido. Porque o remédio daquele gado que foi roubado inclusive, eu vou ter que vender o outro para pagar. Do ponto de vista administrativo, literalmente, de repente te tiraram mais de um ano de lucro líquido — queixa-se o produtor.
Além das quadrilhas que furtam lotes inteiros de gado, existem bandidos que agem de forma mais isolada, mas não menos cruel. Em Glorinha, um produtor relatou que criminosos arrancaram os olhos de um touro e romperam os tendões das patas, para facilitar o abate.
Queda nos números oficiais
No geral, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) garante que as estatísticas diminuíram 24% entre janeiro e agosto deste ano na comparação com 2023.
Esse número vem caindo desde que a primeira delegacia especializada foi criada, em 2017. Desde então, quatro já foram instaladas.
Outras quatro estão sendo anunciadas, das quais, três devem estar funcionando até o final do ano, segundo o diretor do Departamento de Polícia do Interior, Anderson Spier.
— O foco dessas delegacias é exatamente o combate aos crimes rurais, inclusive o abigeato, com uma investigação qualificada. E quando eu digo qualificada, eu falo que elas mudaram a forma sistemática de investigação de crimes rurais aqui no Estado, porque por meio delas a polícia passou a ver o crime rural como o resultado de uma atividade criminosa organizada — garante o delegado.
Onde são as delegacias
Além das cidades de Alegrete, Camaquã, Cruz Alta e Bagé, onde as estruturas já foram criadas, Santo Antônio da Patrulha, Santa Maria, Vacaria e Santo Ângelo devem receber as novas delegacias.
*Colaboraram Beatriz Coan e Gherusa Cassol