Mais da metade das 11,6 toneladas de drogas apreendidas nas rodovias federais do RS no primeiro semestre de 2024 foram encontradas no norte do Estado. A maior parte das apreensões se concentra nas BRs 386 e 285, que são trechos comumente utilizados como rota de entrada de entorpecentes no Rio Grande do Sul.
O posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF) de Sarandi, que atende sete rodovias, que atravessam 48 municípios, apreendeu 7,4 toneladas de drogas entre janeiro e junho desse ano, equivalente a 63,8% da quantia apreendida no Estado. Essa foi a maior quantidade dos últimos cinco anos na região. No mesmo período do ano passado, as apreensões somaram 994 quilos. O chefe do Núcleo de Policiamento e Fiscalização da PRF em Sarandi, Lúcio Finkler, explica que a variação pode ser sazonal.
— Às vezes, essa variação pode ser refletida pela própria safra da maconha. Tivemos 18 ocorrências de tráfico de drogas nesse semestre, que fica dentro da normalidade, porém nenhuma dessas apreensões em grande quantidade. Por isso, a quantidade total de maconha apreendida foi menor (em 2023) — pontua Finkler.
O agente da PRF explica que a delegacia de Sarandi abrange uma faixa da fronteira com a Argentina e grande parte da divisa do RS com Santa Catarina. Ele explica que essa é uma posição estratégica com relação aos crimes transfronteiriços, especialmente quanto ao tráfico de drogas, que vem principalmente do Paraguai.
— A BR-386 é uma das principais rotas de entrada no Estado das pessoas que vêm da região de fronteira com o Paraguai. Presume-se que grande parte da droga que entra no RS com destino aos grandes centros, como Região Metropolitana e Serra, principalmente, transite pela BR-386 e demais rodovias da região, como a BR-285 — diz Finkler.
Modus operandi
Os métodos usados pelos criminosos para acessar o Estado com drogas escondidas são variados e desafiam as autoridades. Finkler diz que são recorrentes, por exemplo, os casos de grandes apreensões em veículos com droga escondida em meio a cargas de grãos.
Além disso, há diversos casos menores de “tráfico formiguinha", nas palavras do PRF, com flagrante de carros e caminhonetes carregados com droga no compartimento de carga, em fundos falsos, no painel, na forração das portas e até dentro do tanque de combustível.
— A PRF vem, há anos, fazendo grandes apreensões na região, provenientes do investimento em tecnologias, qualificação e capacitação do quadro de policiais e direcionamento dos esforços à atividade de combate aos crimes transfronteiriços, como tráfico de drogas, contrabando, tráfico de armas — frisa Finkler.
Cinco toneladas
Foi também no posto de Sarandi que ocorreu a apreensão mais expressiva da PRF no primeiro semestre de 2024, e a terceira maior da instituição no Estado. O fato se deu em 3 de junho, quando cinco toneladas de maconha foram localizadas dentro dos tanques de carga de uma carreta bitrem usada para o transporte de óleo vegetal.
No interior da carreta havia um casal, que foi abordado em uma ação de combate ao crime. Segundo a PRF, o motorista da carreta, de 35 anos, e a passageira, de 29, disseram aos policiais que o compartimento de carga estava vazio. Ao abrir os tanques de carga, os agentes localizaram centenas de fardos de maconha.
O motorista e a passageira foram presos em flagrante e encaminhados para a Polícia Civil. Segundo o delegado Cristiano de Bone, titular da DP de Sarandi, foi pedida conversão do flagrante em prisão preventiva, mas somente ao homem foi concedida. Conforme o delegado, a mulher alegou que tem quatro filhos, sendo um menor de 12 anos e, por isso, a Justiça deferiu o alvará de soltura.
O delegado diz que, em depoimento, ambos optaram por permanecer em silêncio. O destino que a droga teria ainda não é conhecido pela polícia, mas o delegado aponta que certamente há relação com o crime organizado. Ele diz que segue aguardando pelo resultado da perícia nos aparelhos celulares apreendidos com a dupla para dar prosseguimento às investigações.
Sarandi é, tradicionalmente, uma rota de tráfico pela sua localização.
CRISTIANO DE BONE
Delegado da DP de Sarandi
— Sarandi é, tradicionalmente, uma rota de tráfico pela sua localização. A droga vem, em tese, da divisa do Paraná com o Paraguai ou do Mato Grosso do Sul com o Paraguai, e precisa passar pela BR-386 para chegar a outros pontos como a Região Metropolitana — explica De Bone.
Conforme o delegado, uma amostra da droga apreendida foi encaminhada para análise do Instituto-Geral de Perícias (IGP), e o restante foi incinerado.