- Atualmente não há registro de nenhum grupo criminoso especializado em roubo de veículos atuando no RS, segundo a Polícia Civil.
- Sincronização do trabalho entre as forças de segurança é um dos fatores apontados para a redução.
- Desempenho é puxado pela queda de casos na Capital, que em 2015 chegou a ter 30 ocorrências por dia.
De janeiro a maio de 2024, os roubos de veículos no Rio Grande do Sul caíram 50%, seguindo o movimento que se desenhou no mesmo período do ano passado. Quando comparados os 1.739 casos registrados nos primeiros cinco meses de 2023 com os 1.091 de 2024, a redução é de 37%. Os dados são da Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP).
O diretor da Divisão de Investigação do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), delegado Eibert Moreira Neto, pontua que a baixa nos números do Estado é puxada pela queda das ocorrências na Capital. Ele comenta que, embora o mês de maio tenha sido atípico em razão da maior enchente da história do RS, os números dos primeiros dias de junho reforçam a tendência de diminuição.
— Foram 20 roubos nos primeiros 20 dias de junho, assim como em maio. Mês a mês tivemos reduções com números cada vez menores — diz Moreira.
Conforme o diretor, atualmente não há registro de nenhum grupo criminoso especializado em roubo de veículos atuando no RS, e os casos registrados geralmente são de criminosos que agem individualmente. Segundo ele, o principal alvo dos ataques são os motoristas de aplicativo.
Moreira sublinha que no ano passado, quando assumiu a direção do Deic junto da delegada Vanessa Pitrez, foi montado um protocolo de atuação integrada da Polícia Civil, em conjunto com a Brigada Militar (BM) e o Instituto-Geral de Perícias (IGP).
Ele também lembra que, em 2019, uma portaria da Chefia de Polícia concentrou todas as investigações de roubos de veículos dentro do Deic, o que viabilizou uma maior capacidade de correlacionar as investigações.
— Fizemos a sincronização do trabalho para que a gente conseguisse coletar um maior número de informações e aprimorar a capacidade de elucidação dos roubos de veículos em Porto Alegre. Antes, as investigações eram pulverizadas dentro dos 20 distritos de Porto Alegre. Cada um investigava o fato que ocorreu na sua área — explica o delegado.
Maio de chuva e queda histórica
Em maio, o RS teve 139 registros de roubos de veículos. No mesmo período de 2014, o Estado somava 1.154 casos, o que representa uma redução de 88% deste tipo de crime no comparativo dos últimos 10 anos.
Em comparação com maio do ano passado, quando houve 314 ocorrências, os roubos de veículos diminuíram 56%. O decréscimo é ainda mais evidente quando se compara com 2016, ano do pico de ocorrências da última década, com 1.517 casos em maio, o que representa uma queda de 91% para o período.
Segundo o delegado Eibert Moreira, mesmo com as complicações da enchente, em maio, ainda houve 39 registros de roubos de veículos em Porto Alegre, índice que, em 2015, chegou a 30 por dia. Além da dificuldade de locomoção pelas ruas em razão dos alagamentos, os reforços da Polícia Militar e da Força Nacional vindos de outros Estados também contribuíram para a redução dos crimes no mês passado.
— A atuação de outras forças policiais de outros Estados também auxiliou no reforço do policiamento preventivo, mas vale salientar que não houve um trabalho direcionado no reforço das investigações dos roubos de veículos. Talvez seja um efeito repressivo pela presença dos policiais nas ruas — pondera o delegado.
Reformulação de protocolos
Em 2024, os protocolos de atuação da polícia foram reformulados. Com a nova estratégia, a Delegacia de Roubo e Furtos de Veículos (DRV) foi redistribuída, fortalecendo o núcleo de inteligência da delegacia. Além disso, foram colocadas equipes de prontidão, trabalhando em regime de plantão dentro das cinco áreas integradas de segurança pública de Porto Alegre. Veja abaixo:
- Zona Norte
- Extremo Norte
- Região Central e início da Zona Sul
- Zona Leste
- Extremo Sul
Dentro da DRV, foram divididas equipes com atribuições específicas para cada território. Com isso, se ocorrer um roubo de veículo em qualquer área de Porto Alegre, imediatamente uma equipe da DRV vai iniciar as investigações.
— Isso é um fato novo. Nós estabelecemos uma rotina de investigação preliminar. Essa é uma experiência que nós trouxemos do Departamento de Homicídios, em que ocorre a investigação preliminar do crime no local do fato. O que nós estamos fazendo é reproduzir essa experiência dentro do Deic e da DRV — explica.
Além disso, há equipes que atuam fixas na base fazendo pesquisas nos sistemas da polícia, como o cercamento eletrônico, e efetuando o cruzamento de dados. Segundo Moreira, esse trabalho integrado foi o que permitiu ampliar o número e recuperação de veículos, prisões em flagrante e identificação de autores de roubos de veículos imediatamente após o fato. Ele diz ainda que o sistema facilita a identificação do modus operandi dos grupos criminosos.
Desde o ano passado, os carros roubados que são recuperados na Capital estão sendo agrupados no pátio do Deic com o objetivo de coletar evidências e fazer perícias. A partir disso, segundo o delegado, o potencial de elucidação dos fatos foi ampliado. Ele pontua que, com esse trabalho, em dezembro de 2023 houve o registro de 79 carros roubados — menor número desde o início da série histórica na Capital.
Dados criminais e cercamento eletrônico
O comandante do Comando de Policiamento da Capital (CPC), coronel Luciano Moritz, explica como a BM colabora no combate aos roubos de veículos. Ele pontua que os agentes atuam em três frentes:
- Análise de dados criminais
- Identificação de modus operandi, como padrões e tendências
- Utilização de ferramentas como cercamento eletrônico e Gestão Estatística em Segurança Pública - GESeg
Conforme o comandante, com a análise dos dados obtidos, é realizado um direcionamento eficaz dos recursos operacionais para as áreas e horários de maior risco.
— O Comando de Policiamento da Capital mantém policiamento em processo a pé, em viaturas, motocicletas que realizam patrulhamento de saturação de área em pontos sensíveis apontados pela inteligência, devido sua mobilidade no trânsito, e emprego de bicicletas nos pontos de maior circulação de pessoas através dos batalhões subordinados a esse comando regional — destaca Moritz.