Um dos homens resgatados de condição análoga a de escravidão em uma pedreira na cidade de Taquara, no Vale do Paranhana, nesta terça-feira (16), tem 31 anos, estudou até a 8ª série, é morador da região e conta que seu sonho é se "dar bem na vida".
— Meu sonho é me dar bem na vida, dar uma vida melhor pros meus filhos — diz, contando que tem três filhos de 2, 9 e 12 anos.
O homem, junto de outros dois trabalhadores que foram resgatados com ele durante uma operação da Polícia Civil, era submetido a uma jornada de trabalho que chegava a 12h, segundo a investigação.
— A gente quebra a pedra na pedreira, né, para construção, e carrega até o caminhão para levar para as obras — conta.
Sem carteira assinada, pelo serviço, diz que recebia R$ 100 por dia. O local para dormir era um alojamento improvisado onde havia colchões em más condições colocados no chão. Ao lado, ficava uma oficina. Segundo a polícia, a alimentação e a higiene eram precárias.
Os trabalhadores devem ser encaminhados para receber acolhimento pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e pelo Ministério Público do Trabalho (MPT).
Investigação policial
A Polícia Civil descobriu que os trabalhadores da pedreira clandestina recebiam pedras de crack como forma de pagamento. Algumas provas, obtidas a partir de interceptações telefônicas, indicam isso. Crack e cachimbos foram apreendidos no local.
— A investigação aponta para tráfico de drogas e trabalho análogo ao de escravidão que tinha contrapartida mediante entrega de pedras de crack para usuários que permanecem aqui — afirma o delegado Valeriano Garcia Neto, responsável pela investigação.
Três trabalhadores foram localizados nos alojamentos improvisados e, então, resgatados. Seis pessoas foram presas, entre elas, aquela que seria responsável pelo recrutamento dos homens. A prisão dela foi convertida em preventiva pela Justiça.
— Os trabalhadores estavam em condições desumanas e degradantes, desatendendo as questões sanitária, tributária, fiscal, criminal, ambiental — diz o delegado Garcia Neto.
Para a reportagem, o homem apontado pela polícia como o recrutador dos trabalhadores negou que estivesse explorando aquelas pessoas. Além disso, afirmou que pagava R$ 100 por dia a elas. Questionado se elas tinham carteira assinada, ele permaneceu em silêncio.