O grupo acusado de promover ao menos dois roubos do chamado "golpe do aplicativo" em Porto Alegre foi condenado pela Justiça, em primeira instância. Dois homens e um mulher terão de cumprir pena em regime fechado e pagar indenização aos dois homens que foram vítimas. Na ação, eles marcavam encontros por um app de relacionamento — direcionado à comunidade LGBT+ —, sempre na casa das vítimas, e anunciavam o roubo ao chegarem no local. Além de fazer diversas agressões e ameaças, o grupo também obrigava as vítimas a fazer transferências bancárias e roubava objetos pessoais da casa. Nos dois casos tratados no processo, o prejuízo foi de mais de R$ 11 mil.
A decisão é da juíza Betina Meinhardt Ronchetti, da 16ª Vara Criminal do Foro Central de Porto Alegre, e foi publicada em 21 de fevereiro.
Os réus Alex Sandro Antunes de Oliveira, Diego de Souza Gomes e Cíntia Raquel Pereira foram condenados por roubo triplamente majorado (pelo concurso de agentes, restrição da liberdade da vítima e emprego de arma de fogo). Outro réu que era acusado no mesmo processo foi absolvido.
Cíntia recebeu pena de 11 anos, um mês e 10 dias de reclusão em regime fechado. Alex Sandro foi condenado a 12 anos, 11 meses e 16 dias de reclusão em regime fechado, e Diego a 11 anos e oito meses de reclusão em regime fechado.
Além disso, Alex Sandro e Cíntia também foram condenados a pagar de forma solidária a importância de R$ 10 mil ao homem vítima do caso deles. Já Diego foi sentenciado a pagar o valor de R$ 5 mil à vítima do seu caso.
A defesa dos três recorreu da decisão (confira abaixo o contraponto).
Conforme o Tribunal de Justiça do Estado, Alex Sandro e Diego seguem presos preventivamente. Cíntia foi solta no curso do processo e se encontra em liberdade provisória.
A investigação dos dois casos foi conduzida pela Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância da Capital. Em abril de 2023, uma operação das equipes prendeu três integrantes do grupo.
Ao menos outros quatro roubos do tipo foram registrados em Porto Alegre desde 2022, mas nem todos teriam sido cometidos pelo mesmo grupo condenado no último mês.
Vítima relata episódio desesperador
Um dos roubos cometidos pelo grupo ocorreu em outubro de 2022, em Porto Alegre. Na ocasião, a vítima havia marcado encontro com um casal que conheceu no app, em seu apartamento.
Morador da região central, ele contou a reportagem, na época, que foi brutalmente agredido pelos dois homens dentro de casa. Os dois criminosos anunciaram o roubo e começaram as agressões logo após chegarem ao local.
Foram 40 minutos de terror, segundo o homem. Ele relata que recebeu uma coronhada na nuca, que foi amarrado e amordaçado com fita isolante e que teve um travesseiro colocado sobre a cabeça, para abafar possíveis gritos.
— Eu estava completamente imobilizado, com um travesseiro na cabeça. Achei que iriam me asfixiar. Eles começaram a tentar me apagar, fechando meu nariz. Eu sangrava muito. Um deles estava mais calmo, mas o outro era mais agressivo, frio, totalmente fora de si. Subiu em cima de mim, me deu soco, joelhada, mordia minha orelha. Dizia que eu tinha irritado ele, falou até o último minuto que queria atirar em mim. Uma hora, pegaram um suco que estava na geladeira e jogaram em mim, achei que era álcool, que iriam colocar fogo. Nunca passei por nada tão violento e tão traumático na vida. Achei que seria morto durante todo o tempo — relatou a vítima à reportagem, dias após o episódio em 2022.
O homem também afirmou que foi xingado pelos criminosos com falas homofóbicas — o relato se repete na fala de outras vítimas de roubos que envolvem o uso do app. O prejuízo foi de cerca de R$ 11 mil.
Após o roubo, os criminosos deixaram uma tesoura na mão da vítima, ainda amarrada, para que pudesse se soltar, pegaram as chaves da casa e fugiram.
O outro caso tratado no processo também ocorreu em outubro de 2022, quando a vítima marcou um encontro com outro homem, pelo app, em seu apartamento. Ele diz que teve uma arma apontada para sua cabeça e que recebeu ameaças de morte. A vítima conta que foi colocada deitada de costas na cama e teve amarrados punhos e tornozelos e levou tapas na cabeça. Neste momento, o criminoso que estava na casa abriu a porta e recebeu um comparsa. Os dois passaram a roubar a vítima.
Foram levados um televisor e uma mochila com diversos objetos pessoais, como corrente, tênis, perfume, roupas, um celular e a quantia equivalente a R$ 211, por meio de transferência bancária.
Contraponto
Segundo o TJ, as defesas dos três entraram com recurso contra a condenação, que está em análise.
Diego e Alex Sandro são atendidos pela Defensoria Pública do Estado, que informou que "se manifesta apenas nos autos do processo".
Já Cíntia é atendida pelo advogado André Luiz Gomes Medeiros, que destacou que a defesa recorreu da decisão.