O nível de extorsão e de ameaças a que foi submetido um homem de 48 anos em um caso de estelionato o levou tirar a própria vida. O caso aconteceu em maio de 2023, com um gaúcho que residia em Caiapônia, no Estado de Goiás. O homem foi vítima do golpe dos nudes, aplicado por uma quadrilha do Rio Grande do Sul que teria também praticado o crime em outros Estados. Nesta segunda-feira (25), o grupo foi alvo de uma operação policial.
A investigação do caso levou a identificação de nove pessoas, suspeitas de participarem direta ou indiretamente do golpe. Contra esse grupo, foram cumpridas 24 ordens judiciais, em operação que começou na madrugada desta segunda.
São nove mandados de busca e apreensão e nove medidas cautelares diversas da prisão — que determina que os criminosos não se afastem de seus domicílios, entre outras obrigações. A ação ocorreu em Montenegro, Sapucaia do Sul e Santa Vitória do Palmar. Também foi autorizado pela Justiça o bloqueio de valores de contas bancárias de integrantes da quadrilha.
A ação terminou pouco antes das 11h, com a apreensão de cinco celulares, que serão encaminhados para a perícia, e o cumprimento de todas as medidas.
Segundo a polícia, a vítima do caso de maio do ano passado transferiu aos criminosos R$ 50 mil, que foram distribuídos em contas bancárias dos investigados na ação. Segundo a polícia, os indivíduos também participaram das trocas de mensagens com a vítima, fazendo as ameaças.
A ação, que recebeu o nome de Fallacia, foi coordenada pela Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos e Defraudações (DRCID), que pertence ao Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), da Polícia Civil.
Homem repassou R$ 50 mil a grupo
O caso que deu origem a operação policial nesta manhã ocorreu em maio de 2023, com um gaúcho que morava em Goiás. À época, ele foi adicionado nas redes sociais pelo perfil de uma mulher, uma personagem criada pela quadrilha, que passou a conversar com ele. Após algum tempo, os dois teriam trocado mensagens íntimas.
Depois disso, teria descoberto que vinha trocando mensagens com uma menor de idade. A informação foi passada também pelas redes sociais, por um homem que dizia ser o pai da adolescente. O suposto familiar afirmava que iria procurar a polícia e registrar o caso. Na sequência, um falso delegado entrou em contato com o homem e passou a cobrar dinheiro para que não o prendesse.
— Também exigiram valores afirmando que serviriam para a jovem e a família mudarem de residência — explica o delegado Thiago Albeche, titular da DRCID.
Conforme a polícia, a vítima chegou a transferir a quantia de R$ 50 mil aos criminosos, mas a extorsão e as ameaças continuaram. Ele afirmava que não tinha mais dinheiro. Dias depois, ainda em maio, o homem acabou tirando a própria vida. Ele trabalhava em uma área rural do município de Goiás e tinha companheira, segundo a polícia.
A polícia daquele Estado abriu uma investigação para apurar o suicídio, e assim descobriu o golpe e acionou as equipes do RS, que identificaram a quadrilha alvo de ação nesta segunda.
— É um caso que mostra o extremo do golpe dos nudes, onde ele pode levar. O grupo fez diversas ameaças, de prender o homem, de contar para a família dele. A situação escalou bem rápido, em questão de dias a vítima acabou tirando a própria vida.
A investigação aponta que um dos suspeitos, que seria líder do grupo, teria ligação com uma facção criminosa que nasceu no Vale do Sinos. Esse homem teria recebido a maior parte dos valores obtidos com os golpes quando ainda estava foragido do sistema prisional gaúcho, no último ano.
Segundo a polícia, ele utilizou as contas bancárias dos demais envolvidos para tentar driblar uma possível responsabilização. Nesta segunda, as contas que receberam valores foram bloqueadas.
Vítimas pelo país
Após o suicídio, quando o caso chegou ao conhecimento da polícia gaúcha, as equipes identificaram ao menos outras quatro possíveis vítimas da quadrilha, em diferentes Estados. No último ano, o grupo movimentou ao menos R$ 200 mil, possivelmente obtidos com golpes dos nudes.
Denuncie
Denúncias e informações sobre crimes podem ser encaminhadas, de forma anônima, ao Deic por meio do Disque-Denúncia, no telefone 0800-510-2828.
Procure ajuda
Caso você esteja enfrentando alguma situação de sofrimento intenso ou pensando em cometer suicídio, pode buscar ajuda para superar este momento de dor. Lembre-se de que o desamparo e a desesperança são condições que podem ser modificadas e que outras pessoas já enfrentaram circunstâncias semelhantes.
Se não estiver confortável em falar sobre o que sente com alguém de seu círculo próximo, o Centro de Valorização da Vida (CVV) presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo e anonimato. O CVV (cvv.org.br) conta com mais de 4 mil voluntários e atende mais de 3 milhões de pessoas anualmente. O serviço funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados), pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil (confira os endereços neste link).
Você também pode buscar atendimento na Unidade Básica de Saúde mais próxima de sua casa, pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), no telefone 192, ou em um dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) do Estado. A lista com os endereços dos CAPS do Rio Grande do Sul está neste link.