Enquanto investigava uma facção envolvida nos homicídios no Estado, a Polícia Civil descobriu no Vale do Taquari um esconderijo onde era armazenado um lançador de foguetes antitanque, capaz de derrubar aeronaves e abater veículos. A arma de guerra foi apreendida numa casa, que seria usada como depósito da organização criminosa, no município de Lajeado.
A suspeita é de que o armamento fosse empregado pelo grupo para causar intimidação nos traficantes rivais. A apreensão ocorreu durante a Operação Efeito Colateral, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) na segunda-feira, e foi divulgada na manhã desta terça-feira (19).
O lançador de foguetes antitanque estava escondido junto de outros armamentos apreendidos: um fuzil de calibre 556, também com alto poder de fogo, uma pistola e dois revólveres. As armas seriam de uma facção criminosa nascida no Vale do Sinos e que se ramificou pelo Estado, por meio do tráfico de drogas. O grupo é um dos envolvidos nos conflitos que geraram aumento dos homicídios em Caxias do Sul nos últimos meses.
— Foi apreendida ontem (segunda-feira) uma arma de guerra que estava na mão de criminosos. Isso é resultado de uma investigação de 40 dias. Esse tipo de arma é utilizado em guerras no mundo afora. Vamos avançar na investigação para apurar a origem — afirma o delegado Thiago Carrijo, titular da 6ª DHPP.
A apreensão foi resultado das investigações que se iniciaram na Serra, para combater os homicídios na região. Uma equipe da 6ª Delegacia de Homicídios de Porto Alegre, que integrou o reforço policial em Caxias do Sul conseguiu mapear um dos esconderijos onde o grupo criminoso estaria armazenando armas. A suspeita era de que esse depósito fosse um dos pontos que poderia servir de abastecimento para a facção na Serra.
— Avançamos em algumas investigações relacionadas aos crimes de homicídios, especificamente em relação a essa facção do Vale do Sinos. Nos últimos 40 dias a gente aprofundou essa investigação, no período em que a gente ficou ali em Caxias do Sul, e ontem (segunda-feira), usando algumas técnicas de investigação, conseguimos destapar esse paiol dessa facção ali em Lajeado — explica o delegado Carrijo.
Assim que conseguiram identificar o local exato, os policiais foram até o imóvel, na expectativa de encontrar armamentos. Ao chegarem no imóvel, situado no bairro Hidráulica, os agentes do DHPP se depararam inicialmente com as outras armas, até descobrirem o lança-foguetes escondido.
Os armamentos estavam escondidos em diferentes pontos do imóvel. Foi necessário fazer uma busca detalhada. Ao abrirem um fundo falso, em uma escada de madeira, sob um vaso de plantas, os policiais encontraram os dois revólveres e a pistola. Em outra área da casa, onde estavam armazenados sacos com produtos recicláveis, os agentes descobriram o fuzil de calibre 556 – a arma também tem alto poder lesivo.
Já o lançador de foguetes foi encontrado no pátio do imóvel, também escondido. A arma estava embalada em sacos plásticos, ocultada por tábuas e uma escada, junto a um muro. Ao desembalarem, os policiais depararam com o lança-foguetes. O míssil, que é a munição disparada por meio do lançador, não foi encontrado no local. A polícia ainda investiga se os criminosos tinham acesso a essa munição, e se arma realmente poderia ser usada, ou se estava em posse do grupo como forma de causar medo. Ninguém foi preso na casa onde foram apreendidos os armamentos.
— Trata-se de uma arma de guerra, apreendida na área urbana. É um símbolo de poder que hoje é retirado das mãos do crime organizado. Nós temos um fuzil aqui, que é uma arma de alto poder de fogo, e o fuzil nem aparece hoje na apreensão. O símbolo do antitanque é muito forte. Certamente isso eles usaram para intimidar, para demonstrar força, para impor terror a outras facções. Temos certeza de que essa investigação vai evoluir e vamos ter outros desdobramentos. Hoje penso que é uma derrota para o crime organizado no Estado — afirma o diretor do DHPP, delegado Mario Souza.
Origem
A arma será encaminhada ao Exército para passar por uma análise. Um dos intuitos é saber a origem do armamento e também se o lança-foguetes estava em condições de ser usado. Esse tipo de armamento é de uso de Forças Armadas mundiais.
Segundo o chefe da Polícia Civil, Fernando Sodré, em uma análise inicial aparentemente a arma estava apta para uso, mas isso ainda precisa ser confirmado.
— Vamos fazer uma avaliação técnica, para ver qual é o tipo exato de armamento. Vamos verificar se é de uso permanente. Há alguns que são usados uma vez só. Nós não sabemos ainda se esse equipamento estava num nível de operacionalidade. Vamos encaminhar ao Exército para uma avaliação. Com certeza, pela experiência que temos, estava em condições de ser utilizado, mas vamos confirmar isso a partir de uma perícia do Exército — afirma o delegado.
A Polícia Civil também investiga agora quem foram os responsáveis por depositar os armamentos no local.
— O objetivo da investigação agora é descobrir a origem dessa arma, exatamente com quem estava ali em Lajeado e responsabilizar essas pessoas. Sem dúvidas é um golpe duríssimo nessa facção. Vamos continuar investigando a possibilidade de ter outras armas dessas aqui no Estado, e finalizar esse inquérito policial — diz o delegado Carrijo.