Familiares de Gabriel Minossi, 19 anos, acompanham nesta terça-feira (12) o julgamento de cinco réus pelo assassinato do jovem. Há cinco anos, ele foi executado a tiros dentro do Hospital Centenário, em São Leopoldo, no Vale do Sinos, após ser confundido com um criminoso. O pai, o vendedor Marcelo Minossi, 44, carrega no pulso esquerdo o terço que recebeu no velório do filho.
São julgados nesta manhã os réus William Gabriel Almeida Pereira, Jorge Gilberto da Silveira Júnior, Lucas Gabriel Pereira Nunes, Deivid Silva de Ávila e Eberson Ferreira Almeida. Os cinco estão presos pelo crime. A investigação apontou que eles pretendiam assassinar outro paciente, mas acabaram atirando contra o jovem.
O pai de Gabriel falou com a imprensa, enquanto aguardava, em frente ao salão do júri, pelo sorteio dos jurados. Minossi afirmou que a família ansiava por esse julgamento.
— Cinco anos para o início do término desse ciclo. A gente espera que sejam julgados e que cumpram toda a pena. É o mínimo. Nada vai trazer o Gabriel de volta — disse o pai.
A mãe de Gabriel também acompanha o julgamento, mas, abalada, não conseguiu conversar com a imprensa. O pai relatou que relembrar tudo nesta data é ainda mais difícil para os familiares. Quando foi morto, o filho estava hospitalizado após sofrer um acidente de trânsito. O criminoso com o qual ele foi confundido estivera internado no mesmo quarto.
Na madrugada de 9 de novembro de 2018, criminosos armados invadiram o hospital, adentraram o quarto do jovem e dispararam dezenas de vezes na direção da cama dele. Outro paciente e uma acompanhante deste também foram baleados.
— Para nós é como se fosse ontem. É complicado para todos. A gente revive isso todos os dias. É uma dor que a gente vai levar pra sempre. Isso é nosso. Não tem como apagar — desabafou Minossi.
O terço que o pai carrega no pulso foi um presente de uma amiga, entregue durante o velório de Gabriel.
— Uma das poucas coisas que eu lembro, no dia do velório. Ela colocou no meu braço —recordou o pai, emocionado.
O Ministério Público optou por não ouvir testemunhas de acusação durante o julgamento, por isso foram ouvidas somente duas pessoas pela defesa de um dos réus.
Réus negam
O primeiro acusado começou a ser interrogado no fim da manhã, num depoimento que durou pouco mais de 10 minutos. Deivid Silva de Ávila, que é apontado como um dos atiradores, alegou que estava em Florianópolis, Santa Catarina, quando aconteceu o crime. Pouco antes dele, foram ouvidas a mãe e a ex-namorada dele, que também alegaram que ele estava no Estado vizinho na data da morte de Gabriel.
— Pra mim ele estava em Florianópolis. Eu falava com ele todos os dias — disse a mãe.
A defesa do réu Eberson Ferreira Almeida questionou Deivid sobre eles terem sido presos juntos. O depoente relatou que chegaram a estar na mesma penitenciária, mas que nunca se falaram.
A investigação indicou que o alvo dos criminosos no ataque era, na verdade, Alex Tubiana. Questionado a respeito, Deivid negou qualquer relação com ele.
— Nunca tinha ouvido a falar em Alex Tubiana, até esse processo — alegou o réu.
Eberson, acusado de ser mandante do crime, foi o segundo a falar. Ao ser questionado pelos promotores Eduardo Lorenzi e Fernando Andrade Alves, negou ter ordenado a execução de Tubiana. O réu estava preso na época do crime.
— Eu, com ele, nunca tive qualquer desavença. Não teria nem porque ter essa motivação. Nunca discutimos, nem tivemos nada um contra o outro. Não tinha motivação alguma. Que motivo eu teria? — disse.
Eberson confirmou que está preso por latrocínio (roubo com morte), suborno e receptação. Mas negou que tenha envolvimento com o tráfico de drogas. A investigação apontou que o crime teria sido motivado por disputas relacionadas ao comércio de entorpecentes.
— No latrocínio, eu fui réu confesso. Estão me acusando como líder, mas eu não sei o porquê disso aí. Nunca tive nem uma posse de drogas, nada — alegou.
— Nem sei porque me encontro hoje aqui — acrescentou.
Jorge Gilberto da Silveira Júnior, terceiro réu a ser ouvido, ao ser questionado pelo juiz José Antônio Prates Piccoli, alegou que não conhecia nenhum dos outros réus. Ele é acusado de ter rendido vigilantes do hospital, enquanto os comparsas seguiram até o quarto de Gabriel.
— Não fui, eu, doutor. Fui preso (antes) e já paguei — disse.
O promotor Fernando leu trechos de conversas que teriam sido captadas entre o preso e os réus William e Lucas.
— Nessa conversa o senhor diz: “Sou matador”. O senhor é matador? — indagou o promotor, e o réu negou.
— O senhor sabe que morreu um inocente no hospital. O senhor afirmou: “Pra mim, tanto faz, se morrer inocente”. O que o senhor tem a dizer aos familiares do Gabriel? — questionou logo depois o promotor Eduardo.
— Se eles investigassem mais, (concluiriam que) não fui eu — disse o réu.
Logo depois, passou a ser ouvido o réu Lucas Gabriel Pereira Nunes, que relatou ter sido preso antes por roubo, e que chegou a conhecer Tubiana, mas apenas de vista. Sobre o crime do qual é acusado, negou.
— Eu estava trabalhando. O dia que aconteceu isso não sei onde estava, provavelmente dormindo. Mas quando fui preso estava trabalhando — afirmou.
Por último, foi ouvido William Gabriel Almeida Pereira, que também negou participação no crime.
Debates à tarde
Interrogados os réus, durante a tarde serão iniciados os debates entre acusação e defesa. Cada parte terá duas horas e meia para apresentar as alegações. Caso seja feito pedido de réplica pelo MP, serão disponibilizadas ainda mais duas horas e na sequência o mesmo tempo para tréplica das defesas.