Em uma ofensiva contra o crime organizado o Departamento Estadual de Investigação do Narcotráfico (Denarc) cumpre, desde o início a manhã desta quinta-feira (30), 86 mandados de prisão preventiva, prisão temporária e mais de cem de busca e apreensão, em diversos municípios do Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Mato Grosso do Sul.
São duas operações que decorrem de investigações integradas e que ocorrem simultaneamente, comandadas pela 1ª e pela 3ª Delegacias de Investigação do Narcotráfico (DIN). Ambas foram deflagradas no começo desta manhã, sob grande mobilização de policiais. São cerca de 700 agentes nas ruas cumprindo os mandados. O objetivo é desarticular dois grupos criminosos, um da zona sul da Capital, e outro da Zona Leste que planejavam unir forças. Os alvos são os líderes destes grupos e demais integrantes das facções. Até as 7h40min, 61 pessoas já haviam sido presas.
De acordo com o diretor do Denarc, delegado Carlos Wendt, investigações apontaram que grupos se articulavam para formar uma nova facção. Segundo Wendt, o objetivo dos criminosos, com a união, era o de pulverizar ações criminosas e dificultar a identificação e a responsabilização de seus integrantes. Wendt afirma que eles já haviam até mesmo elaborado um estatuto.
Entre as regras, havia precificação das drogas, determinação da partilha dos lucros direcionados às lideranças no topo da organização e, inclusive, a formação de uma espécie de tribunal do crime, com punições que poderiam ser aplicadas.
Um dos coordenadores da ação, o delegado Gabriel Borges destacou que a maior parte dos presos estava na rua, movimentando o tráfico de drogas e de armas, além de lavagem de dinheiro.
— Desmontamos o esquema de ponta a ponta, em toda sua cadeia hierárquica — definiu Borges.
Ação da 3ª DIN
Em uma das frentes, o delegado Gabriel Borges, titular da 3ªDIN, coordena a execução de mandados de prisão e buscas sobre o conjunto da hierarquia do grupo criminoso organizado que tem seu centro de comando na zona sul da Capital.
— Trata-se da facção que controla pontos bastante movimentados da venda de drogas em Porto Alegre, cidades da Região Metropolitana e Interior. Este grupo também compõe um dos principais esquemas de tráfico de armas em território gaúcho — aponta Borges.
A operação foi denominada Senhores do Altomonte, em alusão a uma cidade italiana assolada pela máfia e com referência às características das localidade onde estão estabelecidas as operações do grupo investigado, em áreas de relevo elevado na capital gaúcha.
Estão sendo cumpridos 42 mandados de prisão e 70 mandados de busca e apreensão em Porto Alegre, Taquara, Canela, Caxias do Sul, Veranópolis, Passo Fundo e Encruzilhada do Sul, no Rio Grande do Sul; além de Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul. Conforme o delegado, provas de crimes apresentadas ao Poder Judiciário foram colhidas em cerca de um ano e meio de investigações.
Entre as evidências, há trocas de vídeos e áudios entre os investigados. Nestes registro, obtidos pela Polícia Civil por meio de autorizações judiciais para quebra de sigilo telemático, suspeitos — entre eles lideranças já recolhidas no sistema prisional — exibem e exaltam a qualidade das drogas que dispõem para comercialização.
Ação da 1ª DIN
Na outra frente de ação, a titular da 1ª DIN, delegada Ana Flávia Leite, coordena o cumprimento de 44 mandados de prisão e 42 mandados de busca e apreensão.
— A operação é de extrema importância, para atacar e descapitalizar as organizações criminosas que atuam em Porto Alegre e na Região Metropolitana. Ressalta-se ainda a relevância da continuidade das investigações que acabam por desvendar, a cada passo dado, mais uma parte do complexo esquema criminoso que gira em torno do tráfico de drogas — define Ana Flávia.
A delegada destaca que estão sendo cumpridos mandados na Capital e em Canoas, no Rio Grande do Sul, e em Florianópolis (SC). Também estão sendo apresentadas novas ordens de prisão e buscas contra 10 homens já recolhidos em unidades carcerárias, sendo um deles em sistema de alta segurança, em Charqueadas.
As investigações, conforme a delegada, tiveram início em setembro do ano passado, por decorrência da descoberta, pela polícia, de diversos crimes relacionados à disputa entre grupos de traficantes de entorpecentes que mantêm base em áreas centrais da Capital.
Ação integrou forças de duas delegacias
O diretor do Denarc observa que a elaboração das operações simultâneas resulta de uma "atuação cirúrgica no combate à criminalidade" na região metropolitana da Capital e outras localidades do Estado.
— O trabalho liderado por duas delegacias do nosso departamento revelou a necessidade de qualificação da investigação criminal como forma de reprimir condutas criminosas e formação de grupos organizados dedicados ao narcotráfico — pontua.
Para o diretor de Investigações do Denarc, delegado Alencar Carraro, "chama a atenção da polícia a possibilidade destes indivíduos manterem acordos de guerra e paz". Carraro afirma que as investigações foram impulsionadas pela ocorrência de homicídios supostamente ordenados pelas lideranças dos grupos investigados.
— Pelas investigações, verificamos que não queriam, pelo menos nesta ocasião, que os homicídios cessassem. O monitoramento destas organizações comprova a necessidade de atuação constante para quebrar o esquema criminoso no Estado — argumenta.
Os dirigentes alertam a comunidade para o telefone Disque-denúncia 08000 518-518, pelo qual o departamento recebe informações de forma anônima e sigilosa.