A morte de um miliciano provocou o caos na zona oeste do Rio de Janeiro nesta segunda-feira (23). Ao menos 35 ônibus e um vagão de trem foram incendiados de forma criminosa. Passageiros tiveram que deixar os meios de transporte às pressas para não se machucarem. Segundo o Rio Ônibus, sindicato que representa as empresas do setor, este foi o dia com mais ônibus incendiados por criminosos na história da cidade.
Veja o que se sabe sobre o caso:
O que motivou a ação criminosa?
Segundo a Polícia Civil, os ataques foram praticados por milicianos em represália à morte de Matheus da Silva Resende, o Faustão, vice-líder do grupo, ocorrida horas antes, durante um confronto com policiais civis numa favela de Santa Cruz, bairro da zona oeste.
Quem é Matheus da Silva Resende?
Matheus da Silva Resende, 24 anos, é sobrinho de Luis Antônio da Silva Braga, o Zinho, que desde 2021 é o líder da principal milícia que atua no Rio. Resende, conhecido como Teteu ou Faustão, era o segundo na hierarquia do grupo, segundo a polícia.
Ele foi morto durante confronto com policiais civis da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), o grupo de elite da Polícia Civil fluminense, e do Departamento Geral de Polícia Especializada (DGPE), na comunidade Três Pontes, em Santa Cruz.
Como a milícia reagiu à operação policial?
Depois da morte do miliciano, ônibus começaram a ser atacados e incendiados. O Centro de Operações Rio (COR-Rio), órgão da prefeitura que monitora a cidade por meio de câmeras, informou que o primeiro ônibus que pegou fogo estava na Rua Felipe Cardoso, na altura do BRT Cajueiros, em Santa Cruz, na zona oeste.
Segundo o g1, ao menos 35 ônibus foram queimados até às 17h54min desta segunda. São 20 de operação municipal, cinco do BRT, além de outros de turismo e fretamento. Segundo o Rio Ônibus, sindicato que representa as empresas do setor, este foi o dia com mais ônibus incendiados por criminosos na história da cidade.
Um vagão de trem da Supervia, que saía de Santa Cruz às 18h04min, também foi incendiado. Pneus e veículos que estavam nas vias públicas também foram queimados, formando barricadas em diversas ruas.
Quais foram os impactos da ação criminosa?
Segundo a prefeitura do Rio, os bairros Campo Grande, Santa Cruz, Paciência, Guaratiba, Sepetiba, Cosmos, Recreio, Inhoaíba, Barra, Tanque e Campinho foram impactados pela ação criminosa.
Por volta das 16h, apenas as linhas 13 (Alvorada x Mato Alto - Expressso), 25 (Alvorada x Mato Alto - Parador) e 22 (Jd. Oceânico x Alvorada - Parador) estavam circulando, de acordo com a MobiRio, empresa pública que opera o sistema BRT no corredor Transoeste.
Por volta das 17h, o município entrou em estágio de mobilização. Esse é o segundo nível, em uma escala de cinco, e é acionado quando há riscos de ocorrências de alto impacto na cidade. Às 18h45min, o município entrou em estágio de atenção, o terceiro nível, acionado quando uma ou mais ocorrências já impactam o município.
A Secretaria Municipal de Educação determinou a suspensão das aulas nas regiões afetadas. Segundo o g1, ao menos 45 escolas municipais não funcionarão, causando transtornos a cerca de 17 mil alunos.
Alguém foi punido?
O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, disse que 12 suspeitos "estão presos por ações terroristas". Castro disse que as forças policiais pretendem prender, além de Zinho, que comando o grupo que atua na zona oeste da cidade, mais dois líderes da milícia.
— Esses três criminosos: Zinho, Tandera e Abelha. Não descansaremos enquanto não prendermos eles — disse em coletiva sobre a situação no Rio.
Tandera é chefe de outra milícia, e Abelha, comanda o Comando Vermelho, a maior facção do tráfico de drogas do Rio. Conforme Castro, Faustão era responsável pela guerra e também pela união com o tráfico, com as narcomilícias.
Castro pretende que estes 12 e outros que venham a ser presos sejam mandados a outros Estados, em presídios federais.
Qual foi a reação das autoridades?
Cláudio Castro, parabenizou a Polícia Civil pela operação que matou o miliciano Matheus da Silva Rezende. "Quero parabenizar os nossos policiais da DGPE, da Core e da Draco, por prenderem hoje, em Santa Cruz, o Faustão ou Teteu – que era o braço direito e sobrinho do miliciano Zinho. Não vamos parar! Nossas ações para asfixiar o crime organizado têm trazido resultados diários", escreveu o governador. "Além do parentesco com o criminoso, ele atuava como 'homem de guerra' do grupo paramilitar, sendo o principal responsável pelas guerras por territórios que aterrorizam moradores no Rio. O crime organizado que não ouse desafiar o poder do Estado!", acrescentou.
O prefeito do Rio, Eduardo Paes, também falou sobre o caso. Nas redes sociais, ele diz que os incêndios criminosos que tomaram a cidade após a morte de Faustão prejudicaram os "moradores das áreas que eles (os milicianos) dizem proteger".
"Milicianos na Zona Oeste queimam ônibus públicos pagos com dinheiro do povo para protestar contra operação policial. Quem paga é o povo trabalhador. E para piorar, tivemos que interromper serviços de transporte na Zona Oeste para que não queimem mais ônibus. Ou seja, únicos prejudicados: moradores das áreas que eles dizem proteger!", escreveu.