Pouco mais de um mês após a morte de Guilherme Alfredo Alves Horn, a família busca forças para lidar com a perda abrupta do jovem de 22 anos. A falta de Horn está presente em diversos momentos do dia: durante o expediente, já que parte da família trabalha junto, e também nos encontros aos finais de semana, que costumavam ser animados pelo jovem.
A Polícia Civil afirma estar prestes a concluir a investigação que apura o latrocínio (roubo com morte) que ocorreu quando a vítima fazia entrega para ajudar um amigo, no dia 1º de agosto, na zona norte de Porto Alegre. O homem considerado autor do crime está preso e deve ser indiciados nas próximas semanas.
O suspeito foi preso temporariamente no dia 17 de agosto, e a polícia afirma que aguarda a conversão para a preventiva. O homem, de 18 anos, não teve o nome divulgado pelas autoridades.
O crime aconteceu no início da noite de uma terça-feira, dia 1º do mês passado. Horn estava visitando um amigo que mantém loja de roupas em Cachoeirinha. Os dois conversaram e fizeram um lanche. Pouco antes de o jovem deixar o local e ir para casa, o estabelecimento recebeu um pedido, que deveria ser entregue na Rua Alcântara, no bairro Santa Rosa de Lima. Para que o amigo não precisasse chamar um motoboy, Horn se ofereceu para ajudar, fazendo a entrega de carro.
A compra era parte de uma farsa: o criminoso, armado, planejava roubar os produtos do entregador. Ao desconfiar da ação, Horn, que não havia descido do veículo, acelerou e tentou fugir do local. Foi quando tiros foram efetuados pelo criminoso, que fugiu na sequência. Um dos disparos atingiu e matou a vítima.
Câmeras de monitoramento da rua registraram a ação, que durou poucos minutos. As imagens ajudaram a identificar o homem dias depois do crime, segundo o delegado Marcelo Kaner, titular da 12ª Delegacia de Polícia da Capital.
— No dia 5 (de agosto) nós já tínhamos identificado a autoria do fato e representamos pela prisão temporária, que foi deferida dia 11. Pouco depois, o localizamos e prendemos. A investigação está praticamente encerrada. Estamos aguardando a conversão para preventiva
Kaner afirma também que o criminoso foi responsável por outro roubo, realizado antes da ação que matou Horn. Após a divulgação da morte do jovem, outra loja, também de roupas, relatou em redes sociais uma situação semelhante, em que uma compra deveria ser entregue próximo ao local onde aconteceu o latrocínio. Segundo a polícia, o criminoso agiu sozinho nos casos.
— Foram dois roubos em dias diferentes, um deles resultou em uma morte. Por isso, ele deve ser indiciado por um roubo a mão armada consumado, porte ilegal de arma de fogo e um latrocínio consumado.
A polícia não divulgou o valor, em produtos, levado pelo criminoso no primeiro assalto. No caso de Horn, as roupas ficaram no carro e acabaram não sendo roubadas.
A arma utilizada pelo suspeito não foi encontrada até o momento. Conforme o delegado, ele ficou em silêncio durante o interrogatório.
"Vazio será eterno", dizem familiares
Aos 22 anos, Horn trabalhava na empresa do pai, que gerencia uma frota de lotações e tem postos de combustíveis na Capital. A rotina começava às 5h, quando ele acordava para abrir o espaço e receber os funcionários. Recentemente, ele havia retomado os estudos e conseguido trocar o carro, com ajuda do pai. Falava em ter filhos e também pedia por sobrinhos para a irmã mais velha. Queria ser dindo novamente, mesmo já tendo outros afilhados.
Nos últimos tempos, estava "muito feliz", em uma fase "boa e leve", diz a irmã mais velha, Ingrid Alves Horn, 28.
— No trabalho é onde eu e meu pai mais sentimos a falta dele. Todas vez que precisamos de algo que era da função dele, vem a lembrança e nos dói muito, mexe na ferida. O ambiente todo não é o mesmo sem ele. Todo dia algum funcionário fala dele, lembra de algo. Ficou um clima muito ruim — lamenta a irmã.
Conforme Ingrid, o jovem era "extremamente amoroso":
— Conhecia as famílias dos funcionários, estava sempre conversando, abraçando todo mundo. Às vezes, perguntava como um deles estava, e a pessoa dizia que "tudo bem", e aí ele falava assim: "Não mente pra mim, quero saber se tu está bem mesmo". Ele se preocupava, queria ajudar, ver todos bem. Era muito amado, tanto que, no dia do enterro, a empresa toda parou, todos foram se despedir. Nunca teve vergonha de expressar os sentimentos dele, dizia "eu te amo" a todos que amava, todos os dias, repetidamente.
Enquanto acompanha os desdobramentos do caso, a família tem feito acompanhamento psicológico e psiquiátrico, e alguns deles vêm precisando de antidepressivos e remédios para dormir.
Único homem entre três irmãs (além de Ingrid, há uma de 17 e outra de seis anos), Horn morava com a mãe, Aline da Cunha Alves. Ela afirma que o jovem era quem lhe cuidava.
— O vazio que ele deixou no coração de cada um da família será eterno. Ele é insubstituível. O carinho e amor dele serão inesquecíveis. A gente espera que ele seja penalizado e, mais que isso, que cumpra a pena dele, pois nenhuma sentença irá reparar a falta do Gui na nossa família. Queremos que ele (o autor do crime) fique recluso para não causar esse mal a mais ninguém — diz Aline.