A Polícia Civil de Viamão avalia fazer novos pedidos de prisão e ampliar buscas relacionadas ao caso da clínica clandestina de onde foram libertados 19 homens que viviam em condição de cárcere privado. O crime foi revelado no dia 31 de agosto, depois que uma pessoa avistou uma pedra embrulhada em um bilhete com pedido de socorro ser arremessada sobre o muro de uma casa, no bairro Tarumã.
— Isso demonstra a importância da pessoa ter a sensibilidade de perceber algo que não está bem e, diante disso, ter a coragem de denunciar, mesmo que de forma anônima. Neste caso, pessoas foram retiradas de uma situação muito complicada por conta da atenção de alguém que resolveu se importar — pontua a delegada Jeiselaure de Souza, responsável pelo inquérito.
Três pessoas estão presas. Duas delas seriam proprietárias da clínica e a terceira executaria castigos e seria responsável pela vigilância dos internos. Jeiselaure explica que as identidades não serão divulgadas antes da conclusão das investigações e remessa do inquérito ao Poder Judiciário.
A delegada informa que, além do cárcere privado ao qual seriam submetidos os internos, estão sendo apurados crimes de tráfico de drogas e associação para o tráfico. Jeiselaure afirma que diligências estão sendo realizadas e diz que os resultados podem desencadear novos pedidos de prisão.
A suposta clínica teria como objetivo prestar apoio e tratamento a dependentes químicos, porém, não tinha licença para o tipo de atividade. O local foi interditado pela Vigilância Sanitária do município.
Um dos pontos em análise é a procedência dos medicamentos que seriam utilizados para controlar os internos. Em seus depoimentos, os resgatados descreveram aplicação de castigos físicos, aprisionamento com amarras e uso de medicamentos para "dopá-los" sem consentimento.
Medicação proibida inspira investigação sobre tráfico
Diversas destas medicações foram apreendidas no local. Na avaliação da polícia, estas provas dão sustentação à hipótese de tráfico e associação criminosa. Tratam-se de fármacos proscritos, ou seja, substâncias que, de acordo com a legislação brasileira, têm produção, fabricação, importação, exportação, comércio e uso proibidos.
Jeiselaure conta que, em seus depoimentos, os homens resgatados alegaram que eram "dopados", forçados a ingerir e até amarrados para que não resistissem contra a administração dos sedantes e tranquilizantes.
— Além disso, a administração dos fármacos era feita de forma indiscriminada, sem receita médica e sem qualquer tipo de supervisão de profissional de saúde — relata.
A delegada ainda destaca que os pacientes eram mantidos no interior da casa, sob vigilância de um interno para o qual teria sido concedida a atribuição de segurança, e sob intimidação de um cão feroz que era colocado como obstáculo ao acesso para saída do local.
— A casa era cercada por um muro bastante alto, sem vista para a rua. Os internos eram subjugados por um outro interno a quem era dada a incumbência de vigiá-los e intimidados pela presença de um cachorro de grande porte que ficava solto no terreno. Estas pessoas sequer tinham acesso ao ambiente externo da propriedade. Mais depoimentos serão ouvidos — finaliza Jeiselaure.
Foi sobre esta amurada que o bilhete suplicando ajuda foi lançado e acabou sendo encontrado por um popular. Os internos resgatados foram acolhidos no sistema de assistência social e de saúde de Viamão.