A Justiça condenou Leandro Boldrini pelos crimes de tortura, abandono material e submissão a vexame e constrangimento cometidos contra o próprio filho, o menino Bernardo Boldrini, morto em 2014. Graciele Ugulini, madrasta de Bernardo, também foi condenada pelos mesmos crimes.
Eles foram sentenciados a oito anos e 20 dias de prisão em regime semiaberto. Eles também foram condenados ao pagamento de uma multa fixada em 10 vezes o maior salário mínimo vigente no país ao tempo do fato, atualizado pela variação do índice do IGP-M.
A sentença foi proferida na terça-feira (19), pela juíza Sucilene Engler Audino, na comarca de Três Passos, no noroeste do Estado, onde o menino morava com o pai. Esse processo corria desde outubro de 2016 em paralelo ao que condenou Leandro Boldrini, pela segunda vez, a 31 anos e oito meses de prisão em março desse ano.
Durante a instrução, foram ouvidas 14 testemunhas de acusação, duas testemunhas da defesa de Leandro, uma delas também arrolada pelo Ministério Público, e quatro testemunhas da defesa de Graciele. Essa decisão não interfere no recurso movido pelo MP contra a progressão da pena de Boldrini, que atualmente está em regime semiaberto.
Na denúncia do Ministério Público (MP), o promotor de Justiça Bruno Bonamente ressaltou que os réus “expuseram a vítima a intenso sofrimento mental, cujo propósito era o de desestabilizar-lhe emocionalmente, incutindo-lhe o terror, atos estes que eliminaram as referências de uma vida saudável”.
Conforme o MP, o menino era impedido de conviver e interagir com sua irmã, além de receber ameaças, inclusive de morte. A denúncia aponta que, por diversas vezes, os réus desfizeram da imagem da mãe da vítima para o menino e o proibiram de falar sobre ela.
O MP alega que o pai e a madrasta submeteram a vítima a vexame e constrangimento, impedindo Bernardo de entrar em sua própria casa, não atendendo as ligações feitas por ele e por pais de colegas dele. Eles também são acusados de fazer com que o menino tivesse que passar vários dias na casa de amigos, sem se interessarem em buscá-lo e sem fazer qualquer tipo de contato para saber como estava.
A promotoria pontuou também que os acusados deixaram de comparecer a eventos importantes, como na primeira comunhão da criança.
Em sua decisão, a juíza Sucilene Engler Audino salientou que os vídeos apresentados em juízo demonstravam uma rotina de "abusos, sofrimentos e crueldades mentais" vivenciada por Bernardo junto ao pai e à madrasta. A juíza destacou ainda que as ameaças e o sofrimento mental a que era submetida a vítima tinham por objetivo não apenas repreender o menor como forma de castigos pessoais, mas, também, "submeter a vítima a padecimentos, por mero prazer".
Defesa vai analisar sentença
Em nota, os advogados Ezequiel Vetoretti, Rodrigo Grecellé Vares e Eduardo Vetoretti, que defendem Boldrini, informam que ainda não analisaram a sentença, portanto, não podem afirmar se recorrerão. Contudo, a defesa frisa que "esse processo era o único que deveria ter sido ajuizado contra Leandro" e que a sua condenação pelo homicídio do menino "foi um dos maiores erros judiciais dos últimos anos".
Veja nota na íntegra:
"Ainda não analisamos a sentença, portanto, ainda não posso dizer se recorreremos de algum ponto. No entanto, como já dissemos em outras oportunidades, inclusive no dia do julgamento, esse processo era o único que deveria ter sido ajuizado contra Leandro. Afirmamos e reafirmamos que a condenação do Leandro pelo homicídio foi um dos maiores erros judiciais dos últimos anos".
Procurado por GZH, o advogado Vanderlei Pompeo de Mattos, que representa Graciele, disse que ainda não foi informado sobre a sentença e que só se manifestará nos autos do processo.
O caso Bernardo
Em 14 de abril de 2014, aos 11 anos, Bernardo Uglione Boldrini foi encontrado morto, após ter permanecido 10 dias desaparecido. O corpo do menino estava em um matagal, dentro de um saco, enterrado na localidade de Linha São Francisco, em Frederico Westphalen. Bernardo morava com o pai, a madrasta e uma meia-irmã, de um ano, no município de Três Passos.
O pai chegou a afirmar que o garoto havia retornado com Graciele de uma viagem a Frederico Westphalen, no dia 4, quando teria dito que passaria o final de semana na casa de um amigo.
Todos foram condenados pelo Tribunal do Júri em 2019, mas a sentença de Leandro foi anulada. Em 2023, ele foi novamente condenado pelo crime.