Após um ano de investigações, a Polícia Civil desmantelou, nesta sexta-feira (22), um esquema em que criminosos faziam telentrega de drogas e armas em Porto Alegre. Durante a apuração, as equipes do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) obtiveram mensagens trocadas entre criminosos, que mostram como a atuação ocorria e as combinações entre eles. Em operação deflagrada nesta manhã, seis suspeitos foram presos na zona sul da Capital — quatro detidos temporariamente e dois em flagrante, por tráfico.
De acordo com o delegado Guilherme Dill, da 1ª Delegacia de Investigação do Narcotráfico (DIN) do Denarc, o grupo comandava um esquema de telentrega de drogas, armas e munições, movimentando altas quantias em dinheiro em um fluxo de vendas que ia dobrando os valores ao longo do dia. Por mês, contabilizavam quase R$ 100 mil.
— Eram duas modalidades do comércio de drogas: as que eram pedidas pelo WhatsApp e a venda fixa na rua. Eles concentravam o dinheiro recolhido com as vendas em uma pessoa, e tinham um mercadinho, que até funcionaria de forma regular, mas era onde possivelmente guardavam esses valores. Há também uma mulher envolvida que juntava o dinheiro para eles, aí buscavam a cada três ou quatro dias, sempre que juntava uns R$ 10 mil — explica Dill.
Na casa dessa mulher, que seria parceira de um dos homens presos, foi cumprido mandado de busca e apreensão.
Nas mensagens obtidas, é possível ver os criminosos exibindo armas recém adquiridas, como uma em que eles comemoram ser "zerada". Ainda combinam de "deixar R$ 8 mil separado", para a compra de uma pistola. Eles também trocam imagens segurando nas mãos altas quantias em dinheiro.
Em conversa enviada por volta das 11h de 21 de setembro do ano passado, um deles avisa: "Tá bem fraco o movimento. Tem R$ 4.535 que ainda não veio."
Em outra fala, no entanto, um deles diz que tem "muita arma e muito dinheiro parado". Em alguns dias, mencionam, por exemplo, valores entre R$ 10 e R$ 12 mil.
Em mensagem de 3 de outubro de 2022, um deles combina a compra de cocaína: "Separa R$ 25 mil, E 200 pila separado que é do frete. Cara vai te largar um pó."
Ele também avisa o comparsa de que o fornecedor era "de confiança" e repassa orientações: "(Com) Esse já comprei, várias vezes. É de confiança. Ele entrega sempre pra nós. Primeiro confere o pó, depois começa conferir moeda. Abre ali certinho como te ensinei."
Conforme a polícia, esses investigados integram grupo criminoso que tem origem no Vale do Sinos e atua em todo o Estado. Atualmente, a facção é considerada a maior do RS, em razão de seu poderio financeiro.
A apuração sobre o esquema começou em outubro de 2022, quando equipes do Denarc prenderam dois homens em flagrante por tráfico de drogas no bairro Lami. Da prisão e do material coletado naquele momento, os agentes descobriram o sistema de telentrega de entorpecentes.
Operação
No total, foram concedidos 18 ordens judiciais: quatro de prisão temporária (todas cumpridas, sendo uma de um indivíduo que já estava encareirado), 11 de busca e apreensão e três bloqueios de contas bancárias — já realizados. Os nomes dos presos não foram divulgados pelas autoridades.
As entregas ocorriam na região ao extremo-sul de Porto Alegre, onde os alvos residem e faziam a venda de drogas e armas. A operação ocorreu nos bairros Lageado, Lami, Restinga, Espírito Santo, Campo Novo e Aberta dos Morros. O trabalho começou por volta das 5h e contou com 45 agentes, equipados com 22 viaturas e uso de helicóptero da Polícia Civil.