Em dezembro do ano passado, após dois anos de investigação, a Polícia Civil realizou uma operação para combater uma espécie de "consórcio" entre duas facções do Rio Grande do Sul. Apesar da guerra entre elas — que matou dezenas de pessoas — em 2022, os líderes destes grupos mantêm relações na hora de comprar e distribuir maconha do Paraguai para o Estado. Na primeira fase desta ação do Departamento de Investigações do Narcotráfico (Denarc), 15 pessoas foram presas, inclusive um ex-vereador de Cachoeirinha.
Na época se combateu o tráfico e a lavagem de dinheiro. Agora, depois da polícia confirmar que este esquema movimentou, mesmo após ter ocorrido a primeira operação, um total de R$ 217 milhões nos últimos três anos, os grupos criminosos voltam a ser alvo de operação.
Cerca de 80 policiais cumprem nesta quinta-feira (17) 20 ordens judiciais, entre prisão, buscas, apreensões de bens que totalizam R$ 1 milhão e bloqueio de contas. Entre os presos está o homem apontado como gerente financeiro do esquema. Ele foi detido em Cachoeirinha, na Região Metropolitana, e conforme a investigação, é proprietário de uma revenda de veículos. O suspeito utilizava uma tornozeleira eletrônica.
O trabalho é coordenado pelo titular da Delegacia de Repressão a Lavagem de Dinheiro do Denarc, delegado Adriano Nonnenmacher, e pelo titular da Divisão de Inteligência do Denarc, delegado Wagner Dalcin. Na chamada Operação Partícipes, seguimento da Operação Consortium do ano passado, células financeiras de organizações criminosas ligadas ao narcotráfico estão sendo desarticuladas. Uma das facções tem base no Vale do Sinos e outra na zona leste de Porto Alegre.
Os mandados de busca estão sendo cumpridos em Porto Alegre, Gravataí, Cachoeirinha e na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc). Nonnenmacher diz que foram sequestrados e bloqueados judicialmente dois veículos, dois imóveis, seis contas bancárias e ativos financeiros. Segundo ele, se o total agora chega a R$ 1 milhão, na primeira fase da ação chegou, em dezembro de 2022, a um valor de R$ 3,2 milhões.
— O núcleo atingido hoje (quinta-feira) é responsável pela gerência financeira e interligação entre alguns integrantes de facção sediada no Vale do Sinos com líderes de facção da zona leste de Porto Alegre, alguns já indiciados e presos preventivamente na fase um — diz Nonnenmacher.
Nas duas operações, 25 pessoas foram investigadas pela lavagem de capitais.
Lavagem de dinheiro
Segundo os delegados responsáveis pela operação, a forma que as facções operam para lavar dinheiro do tráfico, tanto na primeira fase, quanto na segunda, foi comprovada por meio de análises bancárias, financeiras, fiscais, telemáticas, extração de dados telefônicos e diligências externas.
O delegado Dalcin destaca que os traficantes, com atuação em nível de atacado, agiam em várias cidades do RS, com conexões também em Santa Catarina e Paraná, usando o sistema financeiro para a dissimulação e pulverização de recursos ilícitos. Eles utilizavam "laranjas" para ocultar imóveis, veículos de luxo e para fazer depósitos em cerca de cem contas bancárias.
Além da aquisição de bens, como carros de luxo — entre eles havia um Porsche — e imóveis, os suspeitos compravam dólares, investiam na Bolsa de Valores e faziam o tradicional depósito em contas bancárias em nome de laranjas. O delegado Nonnenmacher ressalta que a investigação continua e não descarta novas ações contra este consórcio na questão da lavagem de capitais.
Operação em 2022
A "Operação Consortium" teve, em dezembro de 2022, além de 15 presos, outros 20 suspeitos investigados, 21 restrições impostas a veículos, um imóvel e oito carros apreendidos, além do bloqueio de 93 contas bancárias, 99 afastamentos de sigilos bancário, fiscal, financeiro e de investimentos na Bolsa de Valores.
Cerca de 500 agentes, que utilizaram 250 viaturas e contaram com o apoio de um helicóptero, agiram em Porto Alegre, Gravataí, Cachoeirinha, Esteio, Estância Velha, Novo Hamburgo, Tramandaí, Viamão, Canoas, Soledade, Pelotas, Passo Fundo e Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, além de municípios de Santa Catarina e Paraná.