Uma célula de facção que tem base no Vale do Sinos e que teriam movimentado, em um ano, R$ 17 milhões do tráfico de drogas e armas, foi alvo de operação policial nesta terça-feira (15). O grupo usava uma revenda de veículos em Viamão que negociou 180 carros e usou 47 contas bancárias para transferência de valores.
Depois disso, os 41 investigados, três deles foram alvo de mandados de prisão, dividiam os lucros obtidos. Segundo a Polícia Civil, foi possível comprovar a compra de oito veículos de luxo, avaliados em R$ 1,5 milhão, e imóveis que custaram mais de R$ 4 milhões.
Além disso, os investigadores, conforme áudios obtidos pela polícia, descobriram que foi feito um um tratamento dentário no valor de R$ 100 mil como forma de lavar parte do dinheiro. O tratamento consistia em colocar lâminas finas de porcelana ou de algum outro composto da cor do dente, uma espécie de lentes de contato para os dentes. Além disso, a polícia constatou a compra de um apartamento de luxo em Estância Velha, no Vale do Sinos, para uma então amante do criminoso apontado como líder do esquema. Áudios comprovam parte destes delitos e também que o grupo já estava planejando comprar postos de combustíveis.
A investigação e o comando da "Operação Car Wash" é do titular da 1ª Delegacia de Gravataí, delegado Eduardo Amaral. Segundo ele, grande parte do dinheiro da venda de drogas no município era canalizada para a revenda que movimentou em um ano o valor de R$ 17 milhões. Segundo ele, a empresa — localizada no bairro Viamópolis — funcionava normalmente, mas sem realizar qualquer declaração de faturamento ao fisco.
— Além do mais, o líder e o operador financeiro faziam gosto com a compra de carros de luxo: foram quatro BMW, Porsche Cayenne, Land Rover Evoque, entre outros, compra e construção de imóveis de elevado padrão, além de esbanjar com extravagância — ressalta Amaral.
Áudio revela que criminoso lavou dinheiro do tráfico com tratamento dentário de R$ 100 mil. Ele estava dentro do Presídio Central quando fez a gravação:
Sobre veículos, um dos vários áudios divulgados pela polícia revelam que os integrantes da facção gostavam de comprar carros de luxo. Em um deles, o líder do grupo, que está no sistema prisional, mas teve nesta terça mais um mandado de prisão preventiva cumprido contra ele, o suspeito negocia veículos: BMW, Porsche e até uma Mercedes:
O delegado Amaral relata um detalhe sobre os automóveis de luxo, o veículo Porsche comprado por um dos criminosos é blindado. Sobre as 47 contas bancárias, 13 delas eram vinculadas à revenda de veículos e pelo menos 20 delas eram de laranjas, nas chamadas "contas de passagem". O dinheiro era depositado e, depois de gerar algum lucro, a maior parte era devolvida para o operador financeiro do grupo e um percentual ficava com o laranja. O delegado Eduardo Amaral diz que os suspeitos sabiam o motivo e ainda recebiam porcentagens para emprestar as contas.
Imóveis de luxo
Os imóveis comprados por meio do esquema criminoso ficam em Novo Hamburgo, dois ao todo, e Estância Velha, no Vale do Sinos. Um deles foi concluído há poucos dias e está avaliado em pelo menos R$ 800 mil. Os outros dois ficam em Viamão, sendo um deles a casa do operador financeiro que é também dono da loja de carros, que foi preso nesta terça-feira.
Uma das casas adquiridas foi um presente do líder da quadrilha para o filho quando o jovem completou 18 anos. Outra residência, em Estância Velha, foi adquirida pelo líder desta célula da facção e foi dada de presente para uma então amante, segundo o delegado Amaral.
— Ele manteve a amante e a família dela nesta casa avaliada em R$ 1 milhão. Esta mulher também recebeu uma Range Rover Evoque. Depois que terminou o relacionamento com esta amante, conforme apuramos, ele conheceu outra e estamos averiguando se ela também foi beneficiada com algum bem adquirido com a lavagem de capitais — ressalta Amaral.
Ainda em relação aos áudios, um deles mostra traficantes negociando preço de droga conforme variação do dólar que teria sido comprada no Exterior:
Uma última gravação divulgada pelo delegado Amaral mostra que os criminosos investigados receberam oferta de três postos de combustíveis para lavar dinheiro da venda de drogas:
Operação Car Wash
Cerca de 380 agentes cumpriram 64 ordens judiciais. Foram três mandados de prisão, incluindo contra o líder do esquema e o principal operador financeiro dele, dondo da revenda de automóveis, e outros 61 de busca e apreensão. Os investigados depositavam valores em contas bancárias de laranjas e familiares, compravam veículos para a empresa revender, além de adquirir carros de luxo e imóveis, alguns deles ainda em construção.
A chamada "Operação Car Wash" ocorre em Viamão, onde 34 ordens judiciais são cumpridas, Novo Hamburgo, com 10 mandados sendo cumpridos, e também Garibaldi, Sarandi, Santo Ângelo, Porto Alegre, Gravataí, Canoas, Sapucaia do Sul, Estância Velha e Imbituba, em Santa Catarina. No Estado vizinho, o mandado é relativo somente a carregamentos de drogas, sendo que, em um deles, foram pagos mais de R$ 2 milhões por entorpecentes. Nos demais, além do tráfico, a principal questão é a lavagem de capitais.
A polícia também apura o tráfico de armas, já que foram obtidas várias imagens — em troca de mensagens entre os criminosos — sobre compra de armamento. Segundo Amaral, o lucro da lavagem de capitais também seria usado para compra de armas.
Amaral diz que todas elas serão responsabilizadas ao final do inquérito. Já o diretor da 1ª Delegacia Regional Metropolitana, delegado Rodrigo Bozzetto, ressalta que a investigação de mais de um ano é uma das metas da polícia na região.
— A investigação qualificada visa combater a lavagem de capitais que retroalimenta a criminalidade na Região Metropolitana — enfatizou.