A Justiça definiu nesta terça-feira (16) que o tenente da reserva Jeverson Olmiro Lopes Goulart vai a júri pela morte do sobrinho Andrei Ronaldo Goulart Gonçalves, 12 anos, em 30 de novembro de 2016, na zona sul de Porto Alegre. Jeverson é acusado de estuprar e depois matar o menino.
A história foi relevada pela Rádio Gaúcha em março de 2020, após a mãe do menino, Cátia Goulart, insistir por três anos e conseguir uma reviravolta no caso, que havia sido concluído pela Polícia Civil como suicídio. O Ministério Público analisou provas e mudou o entendimento, denunciando Goulart em 2020.
Durante os últimos três anos, foram ouvidas 21 testemunhas, além do próprio réu. Na decisão, o juiz Thomas Vinicius Schons, da 1ª Vara do Júri do Foro Central da Comarca de Porto Alegre, destacou que, apesar de não ter tido uma investigação policial para comprovar a prática, os depoimentos colhidos “trazem indícios suficientes de que o réu apresentava, especialmente, conduta voltada à prática de atos para satisfazer a própria lascívia envolvendo crianças e adolescentes”. Como a decisão é recente, ainda não há data para o júri, e o réu ainda pode recorrer da decisão.
Em seu depoimento, o réu, que responde em liberdade, negou o crime e sustentou que o sobrinho se matou. O advogado Edson Perlin, que defende o PM da reserva, disse que ainda não teve acesso ao documento, mas que irá entrar com recurso para tentar reverter o resultado.
— Nós não concordamos com a decisão. Não há nenhum indício de que o nosso cliente cometeu algum crime — afirma Perlin.
Já a mãe de Andrei, Cátia Goulart, comemorou a decisão. Ela diz que inicialmente, não achou que conseguiria levar o caso adiante.
— É uma notícia que aguardamos há seis anos. Eu nunca pensei em desistir, mas por outro lado não acreditava que ia chegar nesse dia. Claro que o júri é uma outra etapa, mas chegar aqui é uma vitória muito grande. Eu não acho que sou heroína, essa luta é toda pelo meu filho — comenta, emocionada.
Relembre o caso
Segundo a denúncia do Ministério Público, na noite de 29 de novembro de 2016, Andrei ficou sozinho em casa com o tio, quando a mãe e a irmã saíram para uma festa de aniversário. O tenente, que tem casa no Rio de Janeiro, estava morando provisoriamente no apartamento com a família e dividindo quarto com Andrei. Já na reserva da BM, havia assumido cargo em comissão no Ministério Público do Rio Grande do Sul três semanas antes.
Por volta das 23h20min, Cátia retornou para a moradia e conversou com Andrei e com o tenente. Ela declarou que seu filho já parecia estar "estranho e acuado, sem fazer as brincadeiras costumeiras". Goulart teria dito que estava com muito sono.
Por volta das 2h, o tenente acordou Cátia no quarto ao lado, dizendo que uma tragédia havia acontecido. A mãe foi até o cômodo e encontrou seu filho morto com as duas mãos segurando a arma do tio pelo cano.