Pouco antes das 18h, o júri do caso Bernardo precisou ser interrompido por alguns minutos para que uma testemunha de acusação pudesse se recompor. Juçara Petry, que acolhia o menino em sua casa com frequência, emocionou-se ao lembrar o dia em que deu dinheiro para que o garoto pudesse comer — no que ela diz ter sido a última vez que viu a criança viva.
Juçara era vizinha da família de Bernardo e cuidava da criança. Ela e o marido acolhiam o menino mesmo em datas especiais, como Dia dos Pais ou na ocasião da Primeira Comunhão da criança. Foi ela quem fez a festa da eucaristia do garoto, porque o pai e a madrasta, Graciele Ugulini, tinham ido viajar.
Ela foi às lágrimas ao lembrar do um dia em que deu dinheiro para Bernardo comer, uma das últimas vezes que viu o menino vivo.
— Acho que era uma quarta-feira, eu estava no trabalho. Ele chegou e disse que não tinha almoçado, e isso já era de tarde. Eu não ia conseguir ir com ele aquela hora, então dei dinheiro para ele comer. Eu disse para comprar algo que alimentasse bem, não lanche. Para comprar suco e não refrigerante. Aí ele foi, comeu e voltou. Ele trouxe o troco para mim. É muito triste lembrar tudo isso — disse Juçara, levando as duas mãos ao rosto.
Na sequência, a magistrada que preside o júri pediu que para que a sessão fosse interrompida.
Juçara afirmou que, no dia anterior a esse fato, Bernardo havia almoçado com ela e sua família. A relação entre o garoto e a testemunha era tão forte que o menino tinha a chave da casa dela.
— Ele vivia na rua, então demos a chave para ele ficar lá. Quando a gente ia levar ele na casa dele, era sempre um estresse. Se íamos buscar algo, como um material escolar, não dava para entrar, às vezes, não estavam em casa. Ele nunca perdeu a chave da nossa casa, não deixava porta aberta. Era cuidadoso — relembrou.
Juçara relatou momentos que teve com o menino e declarou que nunca reclamou da presença de Bernardo. Segundo ela, o garoto era acolhido como um filho também pelo seu marido, Carlos Petry.
— Ele era um parceiro — lembrou, sorrindo.
A testemunha lembrou ainda que Bernardo, muitas vezes, não tinha lanche para levar para a escola e por isso abriu uma conta na cantina do local, e ela acertava os valores no fim do mês. Ela contou também que o menino usava roupas e calçados velhos, e chegava em sua casa de chinelo de dedo, mesmo em dias de frio no município.
O depoimento de Juçara prossegue no fim da tarde desta terça-feira (21) e deve ser o último do dia.