No segundo dia do júri de três réus pelo ataque a um grupo judeus, em Porto Alegre, serão ouvidas três testemunhas de acusação e seis de defesa. O julgamento, que se iniciou na terça-feira (28), foi retomado por volta das 8h30min desta quarta. Estão sendo julgados Valmir Dias da Silva Machado Júnior, Israel Andriotti da Silva e Leandro Maurício Patino Braun — a previsão é de que o júri se estenda por pelo menos até quinta-feira.
A primeira testemunha ouvida nesta terça foi Guilherme Moura dos Santos, que falou por videoconferência já que mora na Austrália. Ele respondeu perguntas da juíza Lourdes Helena Pacheco da Silva, da acusação e das defesas por cerca de uma hora e 20 minutos.
— Aquilo era um massacre, uma surra, uma covardia. Eu sei o que é uma briga. Não sabia o motivo na hora. Pelas vestimentas, atitudes e corte de cabelo, (os agressores) pareciam, no mínimo, simpatizantes de neonazistas — disse Santos.
O ataque aconteceu em 8 de maio de 2005, nas imediações de um bar na Rua General Lima e Silva, na Cidade Baixa. Por volta das 2h, Rodrigo Fontella Matheus, Edson Nieves Santanna Júnior e Alan Floyd Gipsztejn estavam em pé, na calçada, quando foram cercados pelo grupo. Foram agredidos, com socos e pontapés, e dois deles atingidos por golpes de faca. Um deles teve ferimentos mais graves e precisou permanecer hospitalizado.
A testemunha afirmou que os agressores usavam coturnos e fardas camufladas. Santos contou que quando viu, uma das vítimas já estava no chão. Ele disse que algumas pessoas do grupo chutavam a cabela dela e que os ataques eram incessantes. Ele salientou que o agredido usava quipá — uma cobertura para a cabeça utilizada pelos judeus como sinal de humildade, simbolizando que Deus está acima de tudo.
Questionado pela defesa de um dos réus, a testemunha destacou que não lembra de ter visto saudações neonazistas ou alguma menção relativa aos 60 anos da rendição da Alemanha por parte de agressores.
Na época, a polícia concluiu que os jovens foram atacados por um grupo de skinheads, de ideologia neonazista, após serem identificados como judeus, pois usavam quipá, acessório que representa a religião judaica. Eles chegaram a ser presos na época do crime, mas foram libertados cerca de cem dias depois, e atualmente respondem em liberdade.
Os três réus respondem por tentativa de homicídio contra Matheus. As agressões sofridas pelos outros dois foram consideradas lesão corporal, e o crime prescreveu, motivo pelo qual eles serão julgados somente pelo ataque a uma das vítimas. No entendimento do Ministério Público, os réus agiram por motivo torpe, que seria somente pelo fato de a vítima ser um judeu, também por meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima. Segundo a acusação, os réus integravam na época do crime um grupo neonazista.
As três vítimas foram ouvidas no primeiro dia de júri. Pelo Ministério Público atuam os promotores Lúcia Helena Callegari e Luiz Eduardo Azevedo. A advogada Helena Sant Anna é assistente de acusação.
Outros julgamentos
- Em 15 de setembro de 2018, Thiago Araújo da Silva e Laureano Vieira Toscani foram condenados por tentativa de homicídio e duas lesões corporais a 13 anos de prisão, e Fábio Roberto Sturm, a 12 anos e oito meses.
- Em 23 de março de 2019, Daniel Vieira Sperk e Leandro Comaru Jachetti foram sentenciados a 14 anos de prisão. O mesmo Conselho de Sentença desclassificou a tentativa de homicídio imputada a um sexto réu para lesões corporais e foi declarada extinta a punibilidade do crime por prescrição.
- Cinco réus não foram pronunciados pela tentativa de homicídio e, portanto, não serão julgados pelo Tribunal do Júri.
Contrapontos
O que diz a defesa de Israel Andreotti da Silva
Os advogados José Paulo Schneider dos Santos, Matheus da Silva Antunes e João Augusto Ribeiro Kovalski enviaram nota, na qual sustentam a inocência do cliente e alegam que Israel nunca teve posição de liderança nesses grupos neonazistas. A defesa sustenta que o réu chegou a integrar um grupo, mas se retirou antes de 2005. Confira a nota:
"A defesa de Israel Andreotti da Silva aguarda há quase 18 anos o desfecho deste injusto processo. Adverte-se que, durante o julgamento, serão apresentadas provas da inocência de Israel, sobretudo os áudios constantes no processo, que explicam, de maneira detalhada, a dinâmica e quem foram os verdadeiros responsáveis deste bárbaro crime. Será demonstrado, ainda, que Israel jamais exerceu liderança nos grupos investigados, sendo que a própria denúncia não lhe atribui tal fato. Ademais, será provado que, à época dos fatos, Israel não possuía qualquer tipo de contato ou ligação com as pessoas investigadas. Por fim, esta defesa confia nos Jurados e Juradas do Porto Alegre/RS que, com tranquilidade, responsabilidade e coerência irão desfazer aquele que é o maior e mais longo erro da história do judiciário gaúcho".
O que diz a defesa de Valmir Dias da Silva Machado Júnior
Os advogados Manoel Pedro Castanheira e Gustavo Gemignani enviaram nota, na qual também afirmam a inocência do cliente. Confira:
"A defesa de Valmir Dias da Silva Machado Júnior, por seus procuradores Manoel Pedro Castanheira e Gustavo Gemignani, afirma que será, na defesa em plenário, que se comprovará a total inocência de seu cliente, com a prova já apresentada no processo, desde seu início. Reafirma a total confiança de que será feita a justiça a Valmir".
O que diz a defesa de Leandro Maurício Patino Braun
Procurado, o advogado Rodrigo de Lima Noble optou por não se manifestar sobre o caso.