No dia em que a tragédia da boate Kiss completa 10 anos e um mês, representantes da Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) se reuniram em vigília na frente da sede do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Cerca de 20 pessoas posicionaram bandeiras e uma faixa no começo da manhã desta segunda-feira (27) na Avenida Borges de Medeiros.
Entre as frases que podiam ser lidas em frente ao TJ-RS estavam "10 anos Kiss: até quando?” e “Tragédia da boate Kiss, a vergonha do Poder Judiciário do RS". A ideia da associação é aproveitar a repercussão recente dos 10 anos da tragédia e das produções audiovisuais sobre o incêndio e o julgamento para mobilizar o sistema judiciário. Eles pretendem permanecer ali todos os dias até o final desta semana.
— A gente vem pedir e cobrar mais rapidez na tramitação, que os recursos avancem o mais rápido possível — resume Flávio Silva, 62 anos, pai de Andrielle, morta no incêndio, e um dos organizadores da vigília.
— É um absurdo todo este tempo. Nós, enquanto sociedade, estamos reivindicando um direito que é nosso. Eles, enquanto servidores públicos, têm de atender o público que praticamente o sustenta — complementa.
O júri que condenou os quatro réus em dezembro de 2021 foi anulado pela 1ª Câmara Criminal do TJ-RS em agosto de 2022. A decisão por dois votos a um acatou parte dos recursos apresentados pela defesa. O argumento que levou a anulação foi uma lista de irregularidades apontadas no tratamento do conselho de sentença, desde o sorteio até conversas que teriam acontecido em particular entre o juiz Orlando Faccini Neto e os jurados. Outros recursos atualmente em análise pedem que a decisão seja revista e os réus condenados voltem a ser presos.
Além dos familiares e amigos que estavam embaixo da tenda vermelha cercada por bandeiras em frente ao portão principal do TJ, o porto-alegrense Vinícius Vicente, 25 anos, era o único sem a camiseta da associação. Ele é morador da Capital, estuda administração, e diz não ter nenhum vínculo direto com a tragédia ou com Santa Maria. Sua presença na vigília foi por empatia, afirmou.
— Vi nas redes sociais do movimento e vim demonstrar apoio aos pais das vítimas. Eu podia ter sido uma delas (vítimas). A sociedade precisa abraçar esta causa, pois a impunidade é uma ameaça que pode fazer novas vítimas todos os dias — afirmou Vinícius.
Conforme a assessoria de comunicação do Tribunal de Justiça, haveria uma reunião entre representantes da manifestação com o segundo vice-presidente do TJ-RS, o desembargador Antonio Vinicius Amaro da Silveira, o que acabou não se confirmando ao final do dia. As famílias devem ser recebidas nesta terça-feira (28), às 10h, no TJ.