Na primeira etapa dos debates durante o julgamento de três réus pela morte de Paola Avaly Corrêa, 18 anos, na tarde desta terça-feira (28), o promotor Eugênio Paes Amorim sustentou que o mandante do crime é Nathan Sirangelo, 27 anos, ex-namorado da vítima.
Mais cedo, pela manhã, Vinicius Matheus da Silva, 25 anos, admitiu o crime e alegou que agiu por ciúme. Além dele, são julgados neste primeiro júri Carlos Cleomir Rodrigues da Silva, 39, e Paulo Henrique Silveira Merlo, 40. Na quinta-feira (2), será realizado novo julgamento, de mais três réus.
Logo no começo da fala, Amorim ressaltou que durante a manhã a mãe de Paola deixou o plenário chorando, após pouco falar durante o depoimento.
— Vocês viram uma mãe sair chorando, aos prantos, com o coração em pedaços, seguramente ameaçada de morte — disse.
A versão apresentada por Vinicius foi contestada pelo promotor, que afirmou aos jurados que se trata de uma tentativa de inocentar Nathan — o réu será julgado no segundo júri. Disse ainda que o preso possui posição elevada na facção que domina o tráfico no bairro Bom Jesus, onde Paola passou a morar.
O promotor alegou que Paola não queria mais se relacionar e que o ex não aceitava isso. Lembrou que a jovem fez uma postagem no Facebook, na qual afirmava que o ex havia publicado fotos dela em grupos da facção e se referia a ele como "otário", "piá" e "corno".
— Ela (Paola) faz várias provocações, ofendendo-o (Nathan), inclusive de corno. O seu Vinicius nunca teve nenhum relacionamento com a Paola. O "corno" não era o Vinicius. O "corno" era o Nathan. (...). Foi uma forma de expressão que ela usou para atingi-lo e pagou por isso — disse Amorim.
O promotor lembrou ainda que o caso é considerado homicídio qualificado, por motivo torpe, recurso que dificultou defesa da vítima e também pelo feminicídio, que é o assassinato cometido contra mulher em contexto de gênero. Na mesma publicação no Facebook, Paola disse que "apanhava horrores".
— Na cadeia, ela apanha do Nathan. Tem envolvimento do tráfico, mas o crime é feminicídio. A lógica é a mesma do feminicídio. Nathan pedia para ela dar a localização do celular, informar onde estava, com quem estava. Não é diferente dos outros feminicidas — argumentou.
Os réus também respondem pela ocultação de cadáver, já que o corpo da jovem foi escondido numa cova. Vinicius, segundo Amorim, gerenciava o ponto de tráfico naquela região da Vila Tamanca, junto de Thais Cristina dos Santos, 24 — outra ré, que será julgada na quinta-feira. Sobre Bruno Cardoso Oliveira, 28, afirmou que ele arregimentou e convocou as pessoas para cometerem o crime.
— No dia do crime, Thais e Carlos sequestram a vítima na Bom Jesus. Quem reside na Bom Jesus, é o Carlos. Levam a vítima para a casa da Thais, onde ela é amarrada e imobilizada. Chamaram o Paulo para cavar a cova. E no momento do crime estavam também um menor e Vinicius, que dá os tiros, numa imensa covardia. Todos sabiam o motivo, e, portanto, se aplica a todos, e não só ao Nathan. Imaginem a pessoa amarrada, dentro da própria cova, esperando os tiros — disse.
O réu Carlos interrompeu a fala de Amorim:
— Vem cá o promotor? O senhor tem prova de que eu sequestrei? — disse, sendo advertido pela juíza Cristiane Busato Zardo, de que não poderia se manifestar.
— Culpado pede prova. Inocente diz que é inocente — rebateu Amorim.
Amorim rebateu a alegação de Vinicius, de que ele tinha divergências com Bruno e Nathan.
— Veio tudo ensaiado de dentro da cadeia. Não sei se fez isso para ser considerado pela facção ou se está ameaçado. Bala não faz guerra com Bala — disse, se referindo à facção criminosa que eles fariam parte, do bairro Bom Jesus.
O promotor leu mensagens trocadas entre Paola e uma familiar de Nathan, na qual ela teria afirmado que a jovem iria "dançar rapidinho".
— Ela diz que a casa dela vai cair rapidinho. Então quem é o mandante? O Vinicius vem aqui assumir tudo sozinho. Livra o Nathan e o Bruno. Diz que eram inimigos. Não eram. Ele nunca disse isso em nenhum dos outros quatro depoimentos. A versão de hoje só. O Vinicius é o executor — afirmou Amorim.
O promotor exibiu o vídeo da execução aos jurados — os familiares de Paola não retornaram durante a tarde e não estavam no plenário neste momento.
— Se deitou no leito de morte. Aquele ali (Vinicius), que executou. Em qualquer lugar civilizado do mundo, e todos que colaboram com esse tipo de coisa, tem de ser condenados. É a nossa reverência à vida, a essa pobre dessa menina. E veja bem: no Dia das Mães. Essa menina foi morta no Dia das Mães — disse.
Às 14h52min, foi encerrada a fala do promotor e na sequência será dado início à argumentação das três defesas. O tempo total é de duas horas e meia, que serão divididas entre os defensores.
Contrapontos
O que diz a defesa de Carlos Cleomir e Paulo Henrique
A Defensoria Público do Estado informou que só se manifestará em plenário.
O que diz a defesa de Vinicius
Antes do início do julgamento, o advogado Igor Garcia, que defende Vinicius da Silva, afirmou que "existem fortes indícios de que ele seja inocente, assim como todos os acusados". No júri, Vinicius confessou o crime e alegou ter agido por ciúme.
O que diz a defesa de Nathan
O advogado Rafael Keller Pereira afirmou que só pretende se manifestar após a realização do júri desta terça-feira.
O que diz a defesa de Bruno
Os advogados Viviane Dias Sodré e Gabriela Goulart de Souza negam as acusações. "Conforme possível visualizar nos depoimentos prestados na data de hoje, nenhum policial responsável pela investigação apontou Bruno como mandante do crime. Além disso, o corréu que admitiu a sua participação esclareceu que inicialmente apontou Bruno por possuir desavenças anteriores com o mesmo", dizem.
O que diz a defesa de Thais
A advogada Gisela Almeida, uma das responsáveis pela defesa de Thais, informou que não pretende se manifestar antes do julgamento.