Em maio de 2018, Paola Avaly Corrêa, que residia na zona leste de Porto Alegre, combinou com a irmã que passaria o Dia das Mães em família. Sete meses antes a jovem havia saído de casa para morar com amigas, no bairro Bom Jesus. Naquele domingo, ela não apareceu, e seu sumiço causou estranhamento. Dias depois, um vídeo que passou a circular pelas redes sociais trouxe a confirmação que os familiares temiam: Paola havia sido executada a tiros após ser obrigada a deitar dentro de uma cova.
Nesta terça-feira (28), três réus vão a júri em Porto Alegre pelo assassinato da jovem. São eles: Vinicius Matheus da Silva, 25 anos, Carlos Cleomir Rodrigues da Silva, 39, e Paulo Henrique Silveira Merlo, 40. Os três foram presos pelo crime ainda em 2018, durante investigação da Polícia Civil — eles negam participação. Paulo Henrique admitiu ter feito a cova, mas disse que foi obrigado pelo réu Vinicius a abrir o buraco no meio do mato, sob ameaça de morte, e que depois disso foi mandado embora. Outros três acusados no caso serão julgados a partir de quinta-feira (2).
O julgamento teve início às 9h30min, na 4ª Vara do Júri de Porto Alegre, no Foro Central. O júri se iniciou com o sorteio dos sete jurados, para integrar o Conselho de Sentença. Quatro homens e três mulheres tiveram os nomes sorteados. Às 9h54min, os outros, que não tiveram os nomes escolhidos, foram liberados. Na sequência, a juíza Cristiane Busatto Zardo deu tempo para que os jurados lessem a denúncia do caso.
Depoimentos
Três testemunhas foram indicadas pelo Ministério Público (MP) para serem ouvidas no julgamento: a mãe, a irmã e um policial civil. GZH não divulga o nome dos familiares de Paola, a pedido dos parentes. As defesas dos três réus, que estão presos, não apontaram nenhuma pessoa para falar. A primeira testemunha ouvida foi a mãe de Paola, num depoimento que durou menos de 10 minutos.
Somente a juíza e o promotor Eugênio Amorim fizeram perguntas à mãe da vítima — as defesas optaram por não fazer questionamentos.
— Não tenho nada para declarar, não sabia de nada — disse a mãe quando indagada sobre o crime.
Ela relatou que a filha havia saído de casa, dizendo que moraria com uma amiga e que ela não sabia onde a jovem estava residindo na época em que houve a morte. O promotor chegou a indagar se mãe estava com medo de depor e ela disse que não. Alegou que estava somente nervosa.
— Em depoimento, em juízo, a senhora faz referência que ela estava mandando localização dela — disse o promotor, sobre o relacionamento de Paola com Nathan Sirangelo, 27 anos.
Acusado de ser o mandante do crime, Nathan irá a júri na quinta-feira (2), com outros dois réus, Bruno Cardoso Oliveira e Thais Cristina dos Santos.
— Eu acho, não sei. Ela estava sempre com celular assim, de frente para ela — disse a mãe.
O promotor questionou se Paola chegou a apanhar de Nathan, e a mãe confirmou.
— Estou tentando ajudar, sou só o promotor — disse Amorim.
Em mais de um momento, a mãe chorou durante o depoimento.
— Ela tinha alguma pretensão na vida? — questionou o promotor.
— Queria ir embora para Santa Maria, estava trabalhando — disse.
Na saída do plenário, a mãe desabou no choro, sendo amparada por familiares do lado de fora do salão do júri.
Irmã
A irmã de Paola foi a segunda familiar a falar durante o julgamento. Ela relatou que chegou a ficar algum período sem falar com a irmã, em razão do relacionamento dela. Disse que algum tempo antes do crime, elas tinham voltado a se falar, e que a irmã tinha combinado de passar o Dia das Mães com elas, mas Paola não apareceu.
— Começamos a mandar mensagens por WhatsApp, e ela não respondia — relatou a irmã, que chorou mais de uma vez ao longo do depoimento.
No mesmo dia em que procuraram a polícia para registrar o sumiço de Paola, os familiares receberam o vídeo da execução.
— Foi quando a gente teve certeza do que tinha acontecido de fato — disse a irmã.
Sobre o vídeo, a irmã disse que nunca conseguiu assistir toda a gravação.
Ela relatou que eles nunca chegaram a conhecer o namorado de Paola, mas que depois de algum tempo souberam que ele estava detido no Presídio Central, e que ela costumava visitá-lo. O promotor indagou se a irmã tinha sido ameaçada e ela negou.
— A sua mãe saiu aos prantos agora daqui — disse Amorim.
Indagada se Paola tinha algum outro namorado, além de Nathan, ela disse que pelo que sabia não.
Logo depois, um policial civil da 2ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) na época foi ouvido. Ele confirmou que o corpo de Paola foi localizado após o réu Vinicius indicar o local. Naquele momento, segundo o agente, o preso teria dito que a morte havia sido ordenada de dentro da cadeia, por um namorado da jovem.
Contrapontos
O que diz a defesa de Carlos Cleomir e Paulo Henrique
A Defensoria Público do Estado informou que só se manifestará em plenário.
O que diz a defesa de Vinicius
O advogado Igor Garcia, que defende Vinicius da Silva, afirma que "existem fortes indícios de que ele seja inocente, assim como todos os acusados".
O que diz a defesa de Nathan
O advogado Rafael Keller Pereira afirmou que só pretende se manifestar após a realização do júri desta terça-feira.
O que diz a defesa de Bruno
Os advogados Viviane Dias Sodré e Gabriela Goulart de Souza negam as acusações. "Conforme possível visualizar nos depoimentos prestados na data de hoje, nenhum policial responsável pela investigação apontou Bruno como mandante do crime. Além disso, o corréu que admitiu a sua participação esclareceu que inicialmente apontou Bruno por possuir desavenças anteriores com o mesmo", dizem.
O que diz a defesa de Thais
A advogada Gisela Almeida, uma das responsáveis pela defesa de Thais, informou que não pretende se manifestar antes do julgamento.