A professora Flávia Amboss Merçon, de 38 anos, tornou-se no sábado (26) a quarta vítima do ataque a duas escolas realizado por um adolescente armado de 16 anos na sexta-feira (25) em Aracruz, no Espírito Santo. Outras quatro pessoas, entre elas duas crianças, seguem internadas em estado grave. Antes da confirmação da quarta morte, a polícia havia informado que o jovem deveria ser indiciado por ato infracional análogo a três homicídios qualificados e 10 tentativas de homicídio.
O pai do adolescente, em entrevista ao Estadão, afirmou que o filho fez "algo terrível" e que vai pedir desculpas às famílias das vítimas em "momento oportuno".
— Meu filho cometeu algo terrível, que nunca poderia ao menos imaginar — comentou ele, que é tenente da Polícia Militar capixaba.
O governo confirmou que o jovem usou no ataque duas armas pertencentes ao pai, uma delas de propriedade da PM.
O oficial havia publicado nas redes sociais uma foto da capa do livro Minha Luta, em que Adolf Hitler expôs ideias antissemitas. A publicação gerou debates com pessoas associando o pai à ação do filho, já que o adolescente portava uma peça com emblemas nazistas.
— Você quer saber de livro da biografia de Hitler. Livro péssimo. Li e odiei — afirmou o policial.
Ele não quis comentar como o filho teve acesso à arma dele e ao carro da família e pediu para que a dor dele fosse respeitada.
Comoção
Desde a noite da sexta-feira, flores e velas são deixadas na porta da Escola Primo Bitti, primeiro local invadido pelo atirador, no bairro de Coqueiral de Aracruz. Os sentimentos de tristeza e indignação eram comuns entre os presentes e a comunidade ao longo do sábado.
Logo na chegada à cidade, era possível ver a fila de carros que se formava em frente à capela que abrigava o velório da estudante Selena Sagrillo, 12 anos. Entre os muitos presentes, chamou atenção a quantidade de adolescentes vestindo roupas pretas e acompanhados dos pais.
Uma delas, Maria Eduarda Oliveira Vervloet, 11, era amiga e colega de classe e contou como tudo aconteceu.
— Eu estava em uma sala embaixo de onde o assassino estava. Ouvi o barulho dos tiros, olhei e vi o assassino. Uma das coordenadoras que estava comigo também foi ver o que era e voltou correndo, com cara de assustada, e levou a gente com pressa para um clube vizinho da escola. Fiquei com muito medo e não quero mais voltar — comentou ao lado da mãe, Renata Curto, 47.
A mãe correu para o local quando soube do atentado por meio de um aplicativo de mensagens e reitera a sensação da filha:
— Muito difícil voltar. Foi um trauma muito grande e os pais não se sentem seguros.
De acordo com Simoni Bianchini, mãe de um dos sobreviventes e ex-professora da escola, faltam palavras para descrever o que aconteceu.
— A gente está sem palavras para explicar o que aconteceu em um bairro tão tranquilo. A gente sempre teve alguns problemas na escola, coisas comuns de estudantes, mas nada nem perto disso. O que a gente viu ontem (sexta) não. Entrei em pânico — disse.
Desolação também foi vista no velório de Maria da Penha Pereira de Melo Banhos, 48, uma das professoras mortas no ataque. O viúvo Wellington Banhos contou que soube do ataque por meio da filha de sete anos.
— Minha filha mandou mensagem para mim, fui ao hospital para verificar e fui para a escola. Porém lá, eu queria ver ela, abraçar ela. Mas não consegui — disse.
Não foram divulgadas informações sobre o velório da professora Cybelle Passos Bezerra Lara, 45.