Começou por volta das 9h desta quarta-feira (5) o segundo dia do júri de Jarvis Chimenez Pavão, traficante de drogas considerado um dos mais perigosos em atuação no país. O julgamento ocorre na 5ª Vara Federal de Caxias do Sul, na serra gaúcha. Os trabalhos são presididos pelo juiz Rafael Farinatti Aymone. Pavão responde por homicídio qualificado, tráfico de drogas e associação para tráfico. A previsão é de que o julgamento se estenda até quinta-feira (6).
Nesta quarta, a sessão começou com o depoimento de um agente de Polícia Federal arrolado tanto pela acusação quanto pela defesa. Depois, serão ouvidos um delegado e mais dois policiais federais, que também investigaram o caso. Estes depoimentos ocorrem presencialmente.
Na terça-feira (4), foram ouvidas quatro testemunhas por videoconferência, sendo uma delas um policial civil, todas relacionadas especificamente ao homicídio.
Depois, presencialmente, foi ouvido um escrivão da Polícia Federal, que trabalhava na investigação, que falou tanto sobre as questões relacionadas ao tráfico internacional de entorpecentes quanto sobre o homicídio.
Jarvis Chimenez Pavão, que foi extraditado de uma prisão no Paraguai para o Brasil em 2017, está na Penitenciária Federal de Brasília, cumprindo pena de 18 anos por tráfico de drogas e associação para tráfico, mas responde a vários outros processos por diversos crimes, entre eles, homicídio. Ele acompanha o julgamento por videoconferência.
O processo
O processo pelo qual Pavão está sendo julgado é resultante da Operação Matriz, da Polícia Federal, de combate ao tráfico de drogas. Na investigação, 45 pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público Federal (MPF). O processo originário foi dividido em seis, para maior celeridade.
Pavão é acusado de liderar associação criminosa no Paraguai, em Mato Grosso do Sul e em outras regiões brasileiras, inclusive com subordinados em cidades gaúchas, como Caxias do Sul, na Serra, e Uruguaiana, na Fronteira Oeste. Conforme a denúncia, o tráfico era comandado por Pavão entre 2009 e 2010 de dentro do Presídio de Tacumbu, no Paraguai, onde estava detido antes de ser extraditado.
Na acusação, os procuradores relatam a forma como a droga entrava no país, citando o Rio Grande do Sul. Em 2010, uma porção de cocaína teria sido arremessada de um avião numa área da cidade de Ipê, na Serra. No mesmo ano, em outra ocasião, 85 quilos da droga teriam sido lançados de um avião em Santo Antônio de Palma, no norte gaúcho. Outros arremessos aéreos teriam ocorrido em André da Rocha, na Serra, e em Uruguaiana. Além disso, duas entregas de drogas teriam sido feitas por terra, em Caxias do Sul.
Pavão também é acusado de ser o mandante da morte de um homem em 2010, em São Leopoldo, no Vale do Sinos. Paulo Sérgio de Oliveira Barros foi assassinado na madrugada de 3 de julho daquele ano, em uma residência na Rua Coronel Francisco de Oliveira, no bairro Arroio da Manteiga. Conforme os procuradores, a vítima, que fazia parte da organização criminosa, seria responsável pela venda de drogas na cidade. Pavão teria mandado matá-lo porque ele teria se viciado em cocaína, se apropriado de valores e deixado de repassar à organização quantias provenientes de vendas da droga. Os procuradores afirmam que o assassino teria recebido R$ 50 mil de Pavão para cometer o crime.
Histórico
Jarvis Chimenez Pavão foi acusado de tramar também o assassinato do chamado "rei da fronteira", o sul-mato-grossense Jorge Rafaat Toumani, em junho de 2016. A morte teria sido uma estratégia apoiada, na época, tanto pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), que tem origem em São Paulo, quanto pelo Comando Vermelho (CV), com origem no Rio de Janeiro, as duas maiores facções criminosas do país. Depois desse crime, uma guerra do tráfico começou na fronteira do Brasil com o Paraguai — região onde Pavão é considerado o sucessor de Fernandinho Beira-Mar —, resultando em mais de uma dezena de mortes.
Em 2017, o irmão do traficante, o empresário e pecuarista Ronny Chimenes Pavão, foi morto com 12 tiros, aos 38 anos, quando saía de uma academia em Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul. No mesmo ano, a advogada de Pavão, Laura Marcela Casuso, 54 anos, foi executada a tiros na cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero, na fronteira com o Mato Grosso do Sul.
Contraponto
Jean Severo, que é um dos advogados que defendem Jarvis Chimenez Pavão, sustenta que o cliente é inocente e que vai provar isso aos jurados.