Considerado pelas autoridades um dos mais perigosos traficantes de drogas em atuação no país, Jarvis Chimenez Pavão começou a ser julgado nesta terça-feira (4), em Caxias do Sul, na serra gaúcha. O júri é presidido pelo juiz Rafael Farinatti Aymone, da 5ª Vara Federal da cidade. Pavão responde por homicídio qualificado, tráfico de drogas e associação para tráfico. A previsão é de que o julgamento se estenda até quinta-feira (6).
O criminoso, que foi extraditado de um presídio no Paraguai para o Brasil em 2017, está preso no Presídio Federal de Brasília, cumprindo pena de 18 anos por tráfico de drogas e associação para tráfico, mas responde a vários outros processos por diversos crimes, entre eles, homicídio. Ele acompanha o julgamento por videoconferência. O primeiro dia é dedicado aos depoimentos das testemunhas. Até as 16h30min, quatro das 15 foram ouvidas.
O processo pelo qual Pavão está sendo julgado é resultante da Operação Matriz, da Polícia Federal, de combate ao tráfico de drogas. Na investigação, 45 pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público Federal (MPF). O processo originário foi dividido em seis para maior celeridade.
Pavão é acusado de liderar associação criminosa no Paraguai, em Mato Grosso do Sul e em outras regiões brasileiras, inclusive com subordinados em cidades gaúchas, como Caxias do Sul, na Serra, e Uruguaiana, na Fronteira Oeste. Conforme a denúncia, o tráfico era comandado por Pavão entre 2009 e 2010 de dentro do Presídio de Tacumbu, no Paraguai, onde estava detido antes de ser extraditado.
Na acusação, os procuradores relatam a forma como a droga entrava no país, citando o Rio Grande do Sul. Em 2010, teria sido arremessada cocaína de um avião numa área da cidade de Ipê, na Serra. No mesmo ano, em outra ocasião, 85 kg de cocaína teriam sido arremessados de um avião em Santo Antônio de Palma, no norte gaúcho. Outros arremessos aéreos teriam ocorrido em André da Rocha, na Serra, e em Uruguaiana. Além disso, outras duas entregas de drogas teriam sido feitas por terra, em Caxias do Sul.
Pavão também é acusado de ser o mandante da morte de um homem em 2010, em São Leopoldo, no Vale do Sinos. Conforme a denúncia, por volta das 3h do dia 3 de julho daquele ano, em uma residência localizada na Rua Coronel Francisco de Oliveira, no bairro Arroio da Manteiga, foi assassinado Paulo Sérgio de Oliveira Barros. Conforme os procuradores, a vítima, que fazia parte da organização criminosa, seria responsável pela venda de drogas na cidade. Pavão teria mandado matá-lo porque ele teria se viciado em cocaína, apropriado-se de valores e deixado de repassar à organização quantias provenientes de vendas da droga. Os procuradores afirmam que o assassino teria recebido R$ 50 mil de Pavão para cometer o crime.
Histórico
Jarvis Chimenez Pavão foi acusado de tramar, por exemplo, o assassinato do chamado "rei da fronteira", o sul-mato-grossense Jorge Rafaat Toumani, em junho de 2016. A morte teria sido uma estratégia apoiada, na época, tanto pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), que tem origem em São Paulo, quanto pelo Comando Vermelho (CV), com origem no Rio de Janeiro, as duas maiores facções criminosas do país. Depois desse crime, uma guerra do tráfico começou na fronteira do Brasil com o Paraguai — Pavão é considerado o sucessor de Fernandinho Beira-Mar na região —, resultando em mais de uma dezena de mortes.
Em 2017, o irmão do traficante, o empresário e pecuarista Ronny Chimenes Pavão, foi morto com 12 tiros, aos 38 anos, quando saía de uma academia em Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul. No mesmo ano, a advogada de Pavão, Laura Marcela Casuso, 54 anos, foi executada a tiros na cidade paraguaia Pedro Juan Caballero, na fronteira com o Mato Grosso do Sul.
Contraponto
Jean Severo é um dos advogados que defendem Jarvis Chimenez Pavão.
— Nós temos absoluta certeza de que ele não tem envolvimento com o homicídio e o tráfico. E temos convicção de que o Conselho de Sentença vai absolver o Jarvis, que é um homem inocente — sustenta Severo.