A história de Saul Meotti, 74 anos, e da esposa, Audila Lampugnani Meotti, 75, mortos em um assalto dentro de casa no último dia 8, no município de Liberato Salzano, já havia comovido os moradores do município do norte do Estado antes. Cerca de seis anos atrás, quando descobriu um câncer de mama, Audila travou uma batalha incansável contra a doença, que incluiu cirurgia e sessões de quimioterapia. Com o apoio do marido, ela venceu o tumor e seguia ativa, conforme familiares.
No último dia 8, a história dos idosos, casados havia mais de 50 anos, voltou a comover os moradores da cidade. Em uma invasão à residência, foram baleados e mortos por um criminoso em um assalto. Meotti morreu na hora e Audila perdeu a vida a caminho do hospital. O caso é investigado pela Polícia Civil como latrocínio (roubo com morte).
Até aquela quinta-feira, a rotina dos dois era ativa. De dia, trabalhavam no bar e minimercado que tocavam juntos havia quase cinco décadas na comunidade de Linha Pinhalzinho Alto, no interior de Liberato Salzano. O trabalho começava pela manhã e ia até o fim da tarde. A residência do casal ficava ao lado do comércio e os dois atendiam a freguesia mesmo em finais de semana e feriados. Sempre que era preciso, Meotti pegava o carro e ia até um atacado, para repor mercadorias.
A rotina também incluía o cuidado com a lavoura nas terras da família, que o casal supervisionava. Além de almoços e jantares com familiares, eles também costumavam frequentar festas e confraternizações da comunidade. Audila também gostava de andar a cavalo e fazia exercícios ao ar livre, em uma academia perto da casa.
— Eles estavam muito bem. Iam a festas, almoços, eram muito queridos por todos aqui, participavam da comunidade. Meu pai fazia os briques, vendas pela região, ia para a roça, serrava lenha. A mãe fazia academia, andava a cavalo. Estava sempre brincando, ela pegava a bola aqui no pátio, dava "um balão". Eram de uma força que não se imagina — lembra o filho, Cleber Meotti, 45.
Uma das atividades preferidas do casal era ficar com a bisneta, de quatro anos, que os visitava a cada 15 dias.
— Ela estava sempre na volta da "nona". Ficava junto no bar, ganhava doces. A bisneta era a alegria deles.
Natural do município de Constantina, Meotti se mudou, ainda na infância, com os pais, para Linha Pinhalzinho Alto, assim como Audila, que nasceu em Santa Catarina e chegou a localidade aos seis anos, com a família. Foi no norte do RS que os dois se conheceram, engataram namoro e casaram. Da união, vieram os dois filhos, Cleber, que morava com o casal, e Clóvis, que reside atualmente no Mato Grosso.
No começo da vida de casados, os dois trabalhavam na lavoura. Depois, passaram a atender no minimercado da família. Segundo Cleber, eles nunca haviam sido assaltados, nem no bar nem em casa.
Neto tentou socorrer avós
A invasão a residência aconteceu por volta das 19h30min do dia 8, quando um homem encapuzado entrou no local e encontrou o casal na cozinha. O minimercado, ao lado, já estava fechado naquele horário.
No momento do assalto, o filho de Cleber se aproximava da casa dos avós. No caminho, ele disse ter ouvido gritos de Audila pedindo ajuda. Segundo Cleber, o jovem de 23 anos mora a cerca de cem metros de onde os avós viviam e costumava passar no local antes de ir para o trabalho.
— Ele sempre ia na casa dos avós antes, conversava com eles, via como estavam, e dali ia trabalhar. Naquele dia, chegando ali, ouviu a avó pedindo ajuda. Entrou na casa e encontrou os dois nonos no chão, o assaltante em cima do avô. Ele perguntou o que estava acontecendo e nisso já foi baleado. Foi tudo muito rápido. Saiu correndo para se proteger e pedir ajuda, mas logo depois ouviu mais dois tiros — relata Cleber.
Audila e Meotti foram baleados na cabeça. O idoso morreu na hora. Audila chegou a ser socorrida, mas morreu a caminho do hospital. O neto do casal foi atingido por um tiro no abdômen, mas já está recuperado, segundo a família.
— Ele não quis atendimento no começo, socorreu a avó e ficou o tempo todo ao lado dela. Depois foi ao enterro — lembra Cleber.
Apesar de morar na casa com os pais, Cleber conta que estava em Caxias do Sul, na Serra, naquele dia. Ele atua como caminhoneiro e se preparava para realizar mais um frete.
A morte do casal comoveu moradores e o sepultamento, no cemitério do município, foi realizado junto de dezenas de amigos.
Investigação
De acordo com o delegado Tiago Bittencourt, que comanda o inquérito, o caso é investigado como latrocínio (roubo com morte). As equipes realizam diligências para identificar o atirador.
— A gente acredita que foi um assalto malsucedido. Talvez o criminoso tenha sido surpreendido pela chegada do neto das vítimas ao local, um fator que não esperava. Possivelmente se trate uma pessoa inexperiente, que se assustou, e a situação saiu do controle. Trabalhamos com dois latrocínios consumados e um tentado. Não há nenhum indício que aponte para um homicídio, uma vingança ou algo do tipo — afirma o delegado.