Há quatro anos sem visitar os parentes em Belém, no Pará, Iuri Rodrigues Fraga, 38 anos, morador de Dubai, nos Emirados Árabes, pensou que nessas férias conseguiria fazer isso. Com a esposa e as duas filhas, arrumou as malas e avisou os familiares no Brasil sobre a chegada. Mas a viagem, que ficou só nos planos, foi transformada em dor de cabeça e prejuízo. O professor de jiu-jitsu faz parte de um grupo de brasileiros que relata ter sido enganado por uma moradora de Porto Alegre ao comprar passagens pela internet. A suspeita de estelionato é investigada pela Polícia Civil.
Fraga soube dos serviços prestados pela vendedora por meio de dois amigos, que já haviam adquirido passagem para viajar ao Brasil. Na época, a família dele estava pesquisando valores para passar as férias em Belém. O custo para os quatro — o professor, a esposa e as duas filhas — era de cerca de R$ 40 mil. O valor oferecido pela moradora da Capital foi de R$ 27 mil — as negociações se deram pela internet. Foram pagos R$ 7 mil por meio do cartão de crédito e R$ 20 mil via Pix. A viagem deveria ocorrer no fim de julho, e a família passaria um mês no Brasil.
Após a compra, Fraga passou a pedir que fossem enviados os bilhetes das passagens para que pudesse apresentar na base militar onde ministra as aulas de jiu-jitsu para as Forças Armadas. No entanto, até 29 de julho, quando a família deveria embarcar, ainda não havia recebido os vouchers. O voo deveria sair no início da madrugada. No entanto, a família foi informada que havia ocorrido um problema e seria necessário fazer uma escala na Grécia, onde permaneceriam dois dias.
— Trinta minutos depois, ela disse que ia nos mandar para Madri (na Espanha). A mesma coisa. Ficaríamos dois dias lá, e depois embarcaríamos para o Brasil. Por último, disse que iríamos para Portugal, que conseguiria um voo direto de Lisboa para Belém. Foi passando a hora e nada. A gente com as malas arrumadas, a nossa família esperando lá. Assim ela ficou nos enrolando durante mais cinco dias. Passei uma semana sem sair de casa. Ela acabou com as minhas férias, e com a nossa paz — desabafa.
Dos pagamentos realizados, ele conseguiu estornar R$ 7 mil do cartão de crédito, mas aguarda até hoje receber de volta os R$ 20 mil. Ao longo deste período, a vendedora alegou que tinha tido problema com a compra por meio de milhas e prometeu devolver o dinheiro, mas isso ainda não aconteceu. Ao saber que outras pessoas também relatam ter sido lesadas, ele decidiu registrar o caso na polícia. Prestes a terminar as férias, Fraga não conseguiu viajar para o Brasil.
— Infelizmente, é um período muito caro para viajar aqui nos Emirados. Como está muito calor, todo mundo está viajando. Hoje uma passagem para o Brasil custa aproximadamente R$ 20 mil por pessoa. Pensamos em economizar, mas não economizamos nada. Fora a parte financeiramente, o psicológico pesou muito. Acabou com a nossa paz. Nossa família no Brasil ficou preocupada. Só o ano que vem para planejar novamente. Uma situação horrível, que não desejo para ninguém — lamenta.
GZH não divulga o nome da investigada neste momento porque ela ainda não foi ouvida pela polícia para apresentar versão dos fatos.
Grupo de clientes
Um grupo de WhatsApp com moradores dos Emirados, que acreditam terem sido vítimas do mesmo golpe, reúne pelo menos 25 participantes. O professor de artes marciais Elton Teixeira de Souza, 39 anos, está entre os mobilizados. Em março deste ano, a família passou a pesquisar passagens para a viagem que ocorreria em julho. Queriam visitar o Rio de Janeiro e depois seguir de ônibus até Minas Gerais para rever a família. Da mesma forma, souberam sobre a vendedora de Porto Alegre por amigos que tinham adquirido bilhetes para o Brasil com ela.
— Fizemos a cotação do preço das passagens e vimos que a dela estava um pouco mais barata, e que compensava. Fizemos a compra, pedimos três passagens: para o meu filho, meu enteado e minha esposa. A empresa onde eu trabalho pagaria a minha. Pedimos as passagens com duas malas para cada e que o voo fosse pela mesma companhia e data do meu, para todos irem juntos — recorda Souza.
Depois disso, Souza diz que começou a cobrar os bilhetes, mas só recebia o código da reserva. Ele conta que, depois de muita insistência, a mulher enviou duas passagens dois dias antes do embarque e que teria somente uma mala.
— Estava faltando a passagem do meu filho pequeno e as três malas. No dia da viagem, ela mandou a última passagem. Chegamos na companhia, e não tinha as malas. Ela alegava ser problema no sistema — diz o professor de artes marciais.
A família pagou R$ 4,4 mil pelo despacho das bagagens de Dubai até o Rio de Janeiro, com a promessa de que teria o dinheiro de volta. No trajeto, passaram ainda por mais transtornos. Durante a escala em São Paulo, não localizavam no guichê da companhia as passagens dos familiares de Souza. Foi quando descobriram que os três teriam de partir de outro aeroporto, na cidade de Campinas.
— Ela falou que estava tudo certo, mas quando chegamos lá não tinha passagem. O meu voo ia sair e minha esposa e meus filhos não. A gente começou a brigar com ela. Ela enrolando. Minha esposa teve de sair do aeroporto, pegar um táxi, ir até Viracopos para poder embarcar — recorda Souza.
O transtorno foi tanto que a família desistiu de passar alguns dias no Rio de Janeiro e seguiu direto para Minas Gerais, de ônibus.
— Até agora, ela não mandou os R$ 4,4 mil, nem a passagem de volta da minha família. Isso é apenas o meu caso. Só estando na pele para poder saber. Eu senti muito, mas imagino as pessoas que foram para o aeroporto, com bebê de colo, e não conseguiram viajar — afirma o professor de artes marciais.
Apuração
As ocorrências foram registradas pela Delegacia Online e remetidas para a 17ª Delegacia de Polícia da Capital. Segundo o delegado Thiago Bennemann, titular da DP, um inquérito foi instaurado. A apuração deve ouvir nos próximos dias as vítimas que alegam terem sido enganadas e posteriormente os investigadores pretendem ouvir a suspeita.
— O caso se encontra sob apuração da 17ª DP. Precisamos ouvir todo mundo, até para saber se ela tem alguma justificativa para os fatos — afirma o delegado.