Na noite da última quinta-feira (18), uma sequência de disparos chamou a atenção de quem reside nas proximidades da Rua Corrêa Lima, entre os bairros Menino Deus e Santa Tereza, em Porto Alegre. Dois criminosos desembarcaram de um veículo e executaram a tiros Elisandro da Rosa Verdum, 40 anos. Morador de rua, ele mantinha com a companheira um casebre enfeitado na esquina com a José de Alencar. O crime é investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Segundo o que foi apurado até o momento pela polícia, os dois executores desembarcaram de um veículo perto da casinha improvisada por volta das 22h. O motorista ficou aguardando no automóvel. Na sequência, os dois homens armados ingressaram no casebre e alvejaram a vítima repetidas vezes. Pelo menos oito tiros teriam sido disparados — a necropsia vai confirmar quantos efetivamente acertaram o morador.
As motivações do crime ainda são apuradas pela investigação do DHPP. A companheira da vítima foi ouvida e relatou como se deu o crime. Logo após o assassinato, com medo, ela deixou a casinha onde os dois viviam, segundo moradores das proximidades.
Disputa de facções
Conforme o delegado Eibert Moreira Neto, diretor da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa, uma das suspeitas investigadas é de que o carro de onde desembarcaram os atiradores seja o mesmo encontrado incendiado na madrugada dessa quinta-feira (25), no bairro Belém Velho, na zona sul de Porto Alegre. Dentro deste veículo — um HB20 — foi encontrado um corpo decapitado.
O automóvel queimado seria o mesmo com o qual horas antes foi deixada uma cabeça num saco de lixo na Vila Cruzeiro, também na zona sul da Capital.
— Constatamos passagens no cercamento eletrônico em momentos diversos, que nos permitem acreditar que foi o mesmo carro utilizado para levar os executores lá — afirma Eibert.
Segundo o delegado, o que foi apurado até o momento indica que o crime esteja vinculado a outros homicídios. Por trás desses fatos, estaria a disputa entre duas facções criminosas de Porto Alegre. A polícia ainda busca identificar quem foram os criminosos que executaram Elisandro.
— Essa investigação não envolve um fato isolado. Abrange o contexto de vários inquéritos. Pelo contexto que está acontecendo na região, acreditamos que tenha relação com esses outros fatos — explica o delegado.
Embora haja essa suspeita, ainda não se sabe o motivo que levou ao assassinato do morador. Elisandro possuía um mandado de prisão em aberto, em razão de uma condenação por furto. Natural de Porto Alegre, foi sentenciado a pena de dois anos e dois meses. O mandado foi expedido pela 2ª Vara de Execuções Criminais da Capital em agosto de 2020.
Casal recebia doações
O crime deixou os moradores, que costumavam ajudar Elisandro e a companheira com doações, consternados e intrigados. Morador do bairro Medianeira, Geison Jardim, 46 anos, era um dos que com frequência auxiliava o casal com doações de alimentos.
— Costumo passar ali todo dia. Juntava comida, roupas e doava para eles. A vizinhança costumava ajudá-los — recorda Jardim.
O vigilante costuma passar pelo local diariamente, ao levar e buscar os filhos do colégio. Por mais de uma vez, Elisandro presenteou a filha de Jardim com brinquedos, que ele costumava expor e comercializar. Após o crime, quando a pequena questionou ao pai onde estava Elisandro, o vigilante respondeu que ele havia viajado.
— Da minha parte, ele sempre foi muito bondoso, especialmente com a pequena. Um urso que ela tem, foi ele quem deu. Me parecia uma boa pessoa — diz o morador.
Em frente ao casebre, que está fechado e ainda isolado com fita, permanecem expostos alguns dos poemas escritos pelo morador.