
Um possível desentendimento durante o expediente acabou em assassinato em uma empresa de São Leopoldo, no Vale do Sinos, na segunda-feira (6). Um homem de 54 anos teria matado um colega de trabalho. Marcelo Camillo foi atingido por dois golpes no peito. Ele e o suspeito tinham histórico de desavenças.
O caso aconteceu dentro da Sulcromo, empresa de revestimentos industriais localizada na Avenida Getúlio Vargas, no bairro São João Batista, em São Leopoldo.
Em oito pontos, entenda o que a polícia já sabe sobre o crime e o que ainda precisa ser apurado.
Quem era a vítima?
A vítima foi identificada como Marcelo Camillo, 36 anos. Camillo não tinha antecedentes criminais. Segundo boletim médico do Hospital Unimed Vale do Sinos, Camillo foi atingido por duas estocadas de objeto cortante. Ele teve três paradas cardíacas, chegou a passar por cirurgia, mas não resistiu.
Seu corpo foi velado em Novo Hamburgo e sepultado no município de Segredo, no Vale do Rio Pardo, onde mora a família. Ele deixa um filho.
Quem é o suspeito?
Um homem de 54 anos que também trabalhava na empresa Sulcromo. Ele não tinha antecedentes criminais. O nome do suspeito não foi revelado pela polícia.
Qual foi a motivação para o crime?
A investigação, liderada pelo delegado André Serrão, titular da Delegacia de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) de São Leopoldo, apura o que motivou o crime. A Polícia Civil diz que já havia relato de discussões entre os dois, inclusive com ameaças. Além disso, algumas brincadeiras feitas pela vítima não teriam agradado o suspeito. É investigada a possibilidade de que tenha havido algum atrito entre eles relacionado ao consumo do café durante o expediente.
— Não está totalmente descartado (que o café tenha dado início a discussão), temos de reinquirir algumas testemunhas. Descartamos sim que houvesse alguma participação da empresa nisso, de proibir a pausa do funcionário. Acontece que o café não é permitido ali em razão da proliferação de metais pesados. Mas, mesmo assim, eles levavam o café escondido para dividir entre eles — diz o delegado.
O delegado acredita que foi um crime de ocasião, não premeditado.
A assessoria de imprensa da Sulcromo informou que não tem conhecimento das causas do crime. A empresa destacou que trabalha com horários para a realização de refeições e intervalos, “como qualquer outra”, mas frisou que não há qualquer tipo de restrição aos funcionários.
Qual foi a arma utilizada pelo autor para golpear o colega?
O autor do crime teria utilizado uma ferramenta para cortar vinil, que era costumeiramente usada pelos funcionários, para desferir dois golpes no tórax da vítima.
De acordo com a polícia, depois de acertar a vítima, o suspeito foi ao banheiro, retornou com o instrumento lavado e jogou sobre a bancada. A arma foi apreendida e será analisada pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP).
Imagens de uma câmera de segurança da empresa mostram a vítima logo após ter sido atingida. Na gravação, é possível ver o funcionário caminhando enquanto leva as mãos ao peito.
Autor e vítima tinham relação hierárquica na empresa?
A assessoria da Sulcromo afirma que os dois envolvidos exerciam a mesma função. A polícia apurou, contudo, que pelo fato de o suspeito estar na empresa há 20 anos e a vítima há dois anos e meio, havia uma espécie de grau hierárquico entre eles.
Em posicionamento à reportagem de GZH, a empresa negou que o crime tenha sido cometido por um supervisor. A companhia também enfatizou que os supervisores têm roupas de cores diferentes para que possam ser identificados caso os funcionários precisem de apoio.
O autor está preso?
O suspeito conseguiu fugir caminhando da cena do crime. Depois de três dias de buscas, o homem se apresentou à Delegacia de Polícia na São Leopoldo na quinta-feira (9). Ele foi detido temporariamente.
A prisão temporária tem validade de 30 dias, podendo ser prorrogada por mais 30. Neste período, a polícia espera concluir a investigação do caso.
O que o autor disse em depoimento?
O autor confessou o assassinato durante depoimento que durou uma hora e meia, mas alegou que não foi um crime, mas um acidente. O delegado contou que, segundo a versão do autor, Camillo não teria gostado de uma brincadeira e isso teria gerado um atrito entre eles.
— Ele disse que passou a mão nas partes íntimas da vítima, mas que isso seria uma brincadeira recíproca. Só que nessa situação a vítima não gostou e foi para cima do autor, que diz ter se protegido com esse instrumento utilizado para o trabalho — explicou o delegado, na sexta-feira (10).
Ainda segundo a polícia, o funcionário alegou que usou o instrumento para se proteger e que acabou caindo sobre o corpo da vítima. Afirmou ainda que pensou que o sangue que estava em sua mão fosse dele mesmo e, por isso, foi ao banheiro lavar.
— Ele alega que foi acidental. Ele falou que eles tinham uma boa relação, que por vezes pegava carona com a vítima até em casa. Mas no cenário atual continuamos investigando como um homicídio doloso qualificado, por motivo fútil — afirma o delegado.
O que diz a empresa?
A Sulcromo, onde aconteceu o crime, enviou a seguinte nota:
"Nota de Esclarecimento
A Sulcromo e seus colaboradores permanecem consternados e comovidos com a perda do colega Marcelo Camillo. Viemos também a público, em respeito à comunidade e nossa equipe, esclarecer informações que vem sendo divulgadas em relação ao caso ocorrido:
- A empresa informa que sempre esteve e continuará à disposição dos órgãos envolvidos nas investigações de forma voluntária e colaborativa;
- Os funcionários envolvidos no caso não exerciam hierarquia um sobre o outro, ambos se reportavam a supervisão de produção da empresa;
- A diretoria e supervisão da Sulcromo não promove, compactua ou se abstém frente a qualquer forma de violência;
- A Sulcromo está apoiando a família do Marcelo, em tudo que necessitam;
- Estamos também empenhados em proteger a segurança de nossos funcionários, sem envolvimento com o caso, contra qualquer tipo de exposição e represália;
Pedimos que toda e qualquer informação sobre o caso seja direcionado para a linha direta da Polícia Civil 0800 642-0121 ou pelo WhatsApp (51) 98585-6111.
A Direção
São Leopoldo, 8 de junho de 2022"