Os indicadores de criminalidade do mês de fevereiro no Rio Grande do Sul indicam aumento em dois crimes graves: latrocínios, que são os roubos com morte, e feminicídios, assassinatos de mulheres em contexto de gênero. Por outro lado, os homicídios seguiram em queda no comparativo com o mesmo período do ano passado. Os dados fazem parte do balanço mensal apresentado pela Secretaria da Segurança Pública (SSP).
Cinco latrocínios foram registrados no Estado em fevereiro — quatro a mais do que no mesmo período do ano passado, num acréscimo de 400%. Em 2021, o RS tinha alcançado nesse indicador a menor marca da série histórica, com um caso. Os casos de 2022 foram registrados em Montenegro, no Vale do Caí, Santa Rosa, no noroeste do RS, Gravataí, na Região Metropolitana, Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, e Rio Grande, no Sul.
Dos cinco casos, segundo as informações divulgadas pela SSP, quatro estão esclarecidos, resultando na prisão de cinco suspeitos e um, em Santa Cruz do Sul, está sob investigação. Em Porto Alegre, neste ano ainda não houve registros de latrocínio – em fevereiro do ano passado também não ocorreram casos.
O aumento dos latrocínios acontece em um cenário de redução dos crimes patrimoniais, como os assaltos. Isso se explica, segundo a Polícia Civil e a Brigada Militar, pelo fato de os roubos com morte serem um tipo de ocorrência que depende de série de fatores, como possível reação da vítima, ação surpreendida por testemunhas, consciência do assaltante alterada por uso de entorpecentes e até mesmo eventual nervosismo do criminoso, entre outros.
Outro crime que também teve aumento no RS, e que segue desafiando a segurança pública, é o feminicídio. Nove mulheres foram assassinadas neste contexto em fevereiro no RS – no mesmo período do ano passado tinham sido seis vítimas (aumento de 50%). Entre as nove vítimas, quatro tinham registro de ocorrência anterior contra o autor do feminicídio ou outro agressor. Outras cinco acabaram mortas sem terem realizado comunicação anterior às autoridades.
Entre as vítimas, está uma mulher de 26 anos morta a tiros na frente do residencial onde vivia em Canoas no início de fevereiro. Quando ela foi assassinada, o ex-namorado estava com prisão decretada, por ter descumprido a medida protetiva e ter feito novas ameaças. Antes que ele fosse localizado pela polícia, a jovem acabou morta. Dias depois, o suspeito do crime foi preso. A investigação apontou que ele criou uma emboscada para assassinar a ex.
O homem teria se passado por oficial de Justiça em conversas via aplicativo com a vítima com o objetivo de atrai-la para fora do condomínio. No dia do crime, inclusive, segundo a polícia, ele tentou ingressar mais cedo no local por meio de uma visita via corretor de imóveis. Após atirar contra a ex — que foi atingida na cabeça, nos braços e no pescoço —, ele teria roubado um Peugeot de um outro morador, que chegava ao local no momento do crime.
O mapa dos feminicídios divulgado pela Polícia Civil na semana passada aponta que fazer com que as vítimas quebrem o silêncio ainda é o maior desafio. Das 96 vítimas de feminicídio em 2021, 10 possuíam medida protetiva de urgência. Ou seja, 89,6% das vítimas não tinham o amparo dessa medida legal. O estudo apontou ainda que 67% das 96 vítimas nem sequer tinham algum registro de ocorrência contra o agressor.
No ano passado, esse tipo de crime já havia apresentado aumento no Estado. Série de ações foram criadas ao longo dos últimos anos com objetivo de reduzir os assassinatos de mulheres nesse contexto. Entre eles, as Salas das Margaridas, implantadas nos plantões das delegacias, as Patrulhas Maria da Penha, projeto da Brigada Militar para fiscalizar medidas protetivas, e o incremento de canais de denúncia. Ainda assim, frear esse tipo de crime segue sendo desafio para o RS.
Homicídios caem
Em contrapartida, os homicídios seguem em queda no Estado, tendência apresentada nos últimos anos. O RS encerrou fevereiro com redução de 15,3% nos assassinatos em relação ao mesmo mês de 2021, passando de 144 vítimas para 122, o menor total para o mês desde 2006.
O destaque na queda de assassinatos em fevereiro foi São Leopoldo, no Vale dos Sinos. Com 240 mil habitantes, a nona maior população no RS, a cidade terminou fevereiro sem homicídios. É a primeira vez desde 2012 que São Leopoldo fecha fevereiro sem assassinatos — em 2017, a cidade chegou ao pico de 16 homicídios no período de 28 dias. Neste ano, a cidade também não registrou no mês nenhum latrocínio ou feminicídio.
— Em São Leopoldo, em toda a linha histórica, nunca se viu tamanha queda nos indicadores criminais, notadamente homicídios. Estamos há quase 50 dias sem um homicídio sequer no município — descreve o delegado Eduardo Hartz, titular da 3ª Delegacia de Polícia Regional Metropolitana.
Em Porto Alegre, também houve redução de 21 para 13 vítimas de homicídio, retração de 38,1% e também o menor total na série mensal desde 2010.