Para entender o papel de cada um dos envolvidos numa briga na orla do Guaíba ao amanhecer de 16 de janeiro, que resultou no assassinato de Felipe Morais da Silva, 33 anos, a Polícia Civil está confrontando depoimentos com vídeos obtidos pela apuração. A meta é definir quem será responsabilizado diretamente pelo homicídio – o farmacêutico foi morto a facadas durante a confusão. A investigação se aproxima da reta final e deve ser concluída entre o fim de fevereiro e início de março.
Até o momento, segundo o delegado Newton Martins de Souza Filho, da 6ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), pelo menos 10 pessoas foram identificadas por terem se envolvido na confusão. A maioria delas já foi ouvida pela investigação, embora ainda haja depoimentos previstos para os próximos dias. O que a polícia está fazendo no momento é comparar os relatos dessas pessoas com todas as imagens que puderam ser reunidas, tanto de câmeras de segurança, como vídeos gravados por populares que acompanharam a briga.
— Precisamos separar quem estava ali por conta de uma briga generalizada de quem de fato estava com a intenção de participar de um homicídio. Não necessariamente quem está na briga, deve ser indiciado por homicídio. Com a análise das imagens e dos depoimentos, vamos ter a dimensão do que de fato aconteceu — afirma o delegado.
Durante a investigação, inicialmente foram ouvidos os amigos da vítima, integrantes de um grupo de motociclistas, que estavam com ele no momento do crime e também se envolveram na briga. Nos dias seguintes, o autor confesso do crime se apresentou à polícia e admitiu ter assassinado o farmacêutico, mas alegou legítima defesa.
Na presença de advogado, o ambulante relatou que estava trabalhando na Orla, quando tentou fazer com que a vítima e seus amigos parassem de perseguir outros dois homens, e acabou sendo agredido. Por isso, em sua versão, teria pego uma faca e usado para se defender. O nome do ambulante não foi divulgado pela polícia, que entendeu que não havia elementos para pedir sua prisão.
Para o delegado, a análise realizada até o momento indica que a versão de legítima defesa não se aplica no caso.
— O meio empregado seria muito desproporcional. No meio de uma briga, ir com uma faca contra pessoas que não estão armadas. Por conta dessa desproporção, se descarta legítima defesa. Já vimos algo semelhante, inclusive em outro caso na Orla — recorda, sobre outro episódio do assassinato de um adolescente de 17 anos, em setembro de 2019, durante briga generalizada.
Pelo menos três ambulantes, a vítima e seus amigos teriam participado desse momento da briga, que resultou na morte do farmacêutico.
Silva era morador de Farroupilha, na Serra, mas estava em Porto Alegre para um encontro com amigos, e pediu para que fossem até a Orla naquela madrugada – ele não conhecia o local. Ali, segundo o que a polícia apurou até agora, um homem teria esbarrado na namorada de um deles. Em razão disso, iniciou uma discussão e perseguição. Na sequência, os ambulantes teriam tentado intervir, o que teria resultado em novo desentendimento e na briga.
A vítima foi atingida por pelo menos três golpes de faca durante a confusão – o objeto não chegou a ser entregue à polícia. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado e uma técnica em enfermagem que estava no local ajudou nos primeiros atendimentos, mas o farmacêutico não resistiu. Quando ouvidos pela polícia, os ambulantes relataram que permaneceram no local, até a chegada do socorro. Nenhum deles possui antecedentes.
Silva, que estava com a namorada na Capital, morava na Serra com o filho de seis anos – o menino já havia perdido a mãe em acidente de carro há quatro anos. Além de farmacêutico, ele era praticante de artes marciais e chegou a representar o Brasil em campeonatos internacionais, na Colômbia, no Japão e no Chile, em disputas de kudô (arte marcial japonesa), nas quais acumulou vitórias. O corpo dele foi sepultado em Paraí, município da Serra, de onde era natural.