O já conhecido golpe dos nudes tem sido aplicado há vários anos no Estado e se intensificou durante a pandemia, assim como as ações policiais contra este tipo de crime. Nesta terça-feira (22), a Polícia Civil realizou mais uma operação para prender criminosos, descobrindo que os investigados adotaram uma nova tática para lesar em dobro as vítimas.
Os 19 suspeitos com mandado de prisão expedido, sendo quatro já no sistema prisional — e que comandavam os crimes de dentro das cadeias —, exigiam dinheiro de homens que acreditavam estar trocando imagens íntimas em um suposto relacionamento com adolescentes.
Além de pagar valores para que o fato não fosse exposto a familiares e autoridades, eles ainda tinham que desembolsar mais dinheiro para custear falsos tratamentos psicológicos de jovens que teriam ficado traumatizadas por terem mantido contato com adultos. Segundo a polícia, tudo era falso e fazia parte desta nova modalidade do golpe dos nudes.
Após cinco meses de investigação, a delegada Luciane Bertoletti, titular da Delegacia de Esteio, comanda nesta manhã a segunda fase de uma operação contra este tipo de delito. São cerca de cem agentes que cumpriram, além dos 19 mandados de prisão temporária, 23 de busca em 10 cidades gaúchas.
São pelo menos 14 vítimas já identificadas. A maioria é do Rio Grande do Sul, mas algumas são de São Paulo e uma delas reside no Japão. Até as 8h30min, 17 pessoas haviam sido presas.
Tratamento fake
Conforme a investigação, os criminosos usavam o nome de uma tradicional clínica de Porto Alegre para ampliar o golpe dos nudes. Além de pagarem valores para evitar a exposição dos fatos, a maioria entre R$ 5 mil e R$ 15 mil, as vítimas da quadrilha começavam a custear os falsos tratamentos psicológicos das supostas adolescentes.
Segundo a delegada, os homens recebiam até falsas ordens judiciais indicando valores e nomes dos envolvidos, neste caso, o adulto responsável pelo pagamento e a adolescente que "receberia" o tratamento.
— Os criminosos mandavam até fotos falsas de jovens sendo internadas na suposta clínica, inclusive, com enfermeiras em atendimento, como se a família da jovem traumatizada estivesse internando a suposta paciente — diz Luciane.
Além do golpe envolvendo a falsa internação da adolescente, que estaria traumatizada por ser vítima de um suposto abuso sexual, os criminosos também se passavam por policiais civis e por familiares da jovem. Eles ainda ameaçavam as vítimas enviando por mensagens contatos das esposas e filhos nas redes sociais.
Investigação
A investigação de cinco meses, que resultou na operação realizada nesta terça-feira, descobriu que não era uma única quadrilha, mas grupos associados. Ou seja, a delegada Luciane diz que não existe um líder, apenas responsáveis pelos núcleos — as divisões ocorreriam geralmente conforme as regiões de atuação. O trabalho é uma sequência de outro que ocorreu em setembro do ano passado ao investigar 32 suspeitos que aplicaram golpes em vítimas de vários estados brasileiros.
O cumprimento das ordens judiciais nesta segunda etapa da ação policial ocorreu em Esteio, Porto Alegre, Alvorada, Montenegro, Charqueadas, Farroupilha, Osório, Torres, São Borja e Itaqui. Além das 14 vítimas identificadas, Luciane acredita que existe um número ainda maior, mas destaca que muitos homens têm vergonha de denunciar os fatos.
Alguns dos homens que pensavam estar mantendo contato com adolescentes fizeram pagamentos via Pix e em duas vezes. A polícia obteve como prova alguns comprovantes bancários e contatos feitos por WhatsApp. Em algumas destas mensagens, as vítimas afirmavam que não sabiam que estariam trocando imagens com adolescentes e que deveriam também pagar por pelo menos parte de supostos atendimentos psicológicos.
O que é o golpe dos nudes
O golpe dos nudes ocorre quando uma pessoa finge ser uma adolescente e mantém contato com homens mais velhos para trocar imagens íntimas, simulando depois acionar pais e a polícia para exigir dinheiro, com o objetivo de não expor a situação para familiares da vítima ou até mesmo não iniciar uma suposta investigação policial.
Alguns golpistas atuam como falsos pais da suposta adolescente e outros como falsos advogados da família ou policiais, tudo para fazer com que a vítima desembolse dinheiro para realização de um prometido acordo.
Para transmitir credibilidade às exigências e causar pânico nas vítimas, os criminosos chegam a montar falsas delegacias de polícia, onde fazem imagens internas simulando a tramitação de investigações e até a expedição de supostos mandados de prisão. Desta vez, criaram até falsos tratamentos psicológicos de jovens traumatizadas com supostos abusos sexuais.