A investigação do ataque a tiros que resultou em dois mortos e três feridos no domingo (17), durante festa após partida de futebol na Associação Comunitária Parque dos Maias (Acopam), no bairro Rubem Berta, zona norte de Porto Alegre, realizada pela 3ª Delegacia de Homicídios, ainda não aponta os motivos do crime, bem como se as vítimas eram o alvo dos atiradores.
A polícia já começou a ouvir testemunhas e uma das pessoas baleadas, além de confirmar que houve tiros de pistola 9 milímetros e fuzil calibre 556. Eram pelo menos quatro atiradores e, entre as vítimas, há pessoas com antecedentes criminais por tráfico e roubo de veículos.
A Polícia Civil está averiguando todas as situações e tem, até o momento, duas principais linhas de investigação: desentendimento envolvendo o próprio jogo de futebol, que pode também ter sido gerado pelo fato de pessoas ligadas aos dois times terem envolvimento com facções, ou disputa entre organizações criminosas, no qual um grupo aproveitou que havia uma reunião entre integrantes da outra quadrilha.
A diretora do Departamento de Homicídios, delegada Vanessa Pitrez, diz que a 3ª delegacia já começou a busca por provas. Segundo ela, em depoimento as pessoas relataram que havia um torneio amador e o último jogo, entre um time da região e outro da Zona Sul, foi violento e com ameaças. Entre as pessoas que acompanhavam os jogadores, segundo a apuração, vários estavam armados, são integrantes de quadrilhas de traficantes rivais e com antecedentes criminais.
Tiros no fim de festa
Após a vitória do time da Zona Norte por 3 a 0, ocorreu uma confraternização entre as pessoas que são ligadas à equipe do Rubem Berta. Houve até uma roda de samba. A maior parte do evento foi tranquila, mas, no final, um homem teria discutido com outro dentro do banheiro da associação comunitária.
Em depoimento, uma pessoa que estava no local contou que um homem apontava uma arma para uma das vítimas que morreu no ataque. Ao mesmo tempo, gritava dizendo ser policial. Segundo Vanessa, seria uma forma de intimidar a vítima. Depois disso, na saída do evento, quatro homens armados chegaram ao local em um veículo e começaram a atirar.
Foram vários disparos de pistola e fuzil, mas não se sabe ainda a quantidade. Por isso, se apura se os crimes foram motivados por algum desentendimento no jogo, entre os dois homens no banheiro, ou se alguma quadrilha aproveitou a festa para executar algum desafeto da própria facção ou algum rival de grupo contrário.
Quando a polícia chegou na associação, várias pessoas foram embora a pé ou em veículos. Mas os investigadores encontraram três carros estacionados. Um deles era um Sandero roubado e clonado, abandonado no local, e a polícia não descarta que possa ser dos atiradores. Nos outros dois veículos estavam os corpos das duas pessoas que morreram — um em cada.
Jean Carlos Santos Huff, 17 anos, sem passagem pela polícia, estava no banco traseiro de uma Land Rover. O veículo estava logo atrás do Sandero, atravessado na passagem e impedindo que outro veículo cruzasse o trecho. A delegada Vanessa diz que o motorista da Land Rover, não localizado, bateu em um guarita e no portão da associação em provável tentativa de fuga.
Já em um Corolla, que estava à direita do Sandero, foi encontrado morto o motorista Fabiano Leon Vieira, 41 anos. Segundo a polícia, ele possui diversos antecedentes criminais por tráfico de drogas, homicídio, roubo, receptação e furto.
Feridos
Outras três pessoas ficaram feridas. Uma delas ainda não sabe como foi atingida, mas as outras duas, ao ouvirem os disparos, fugiram para uma região atrás do campo de futebol. Um deles, menor de idade, prestou depoimento inicial à polícia. Ele foi atingido por um tiro de raspão nas costas.
O adolescente disse que ainda socorreu o outro homem baleado nos braços e no tórax. A outra vítima, em estado grave, também foi identificada e tem passagem pela polícia por porte ilegal de arma de fogo, desobediência e crimes ambientais.
Os nomes não foram divulgados pelos agentes, tanto por envolver um adolescente quanto por questões de segurança. O local onde foram hospitalizados está sendo mantido em sigilo.
Durante o ataque, a polícia confirmou que houve ainda revide. Ou seja, algumas pessoas que estavam na festa também dispararam contra os quatro atiradores. No Sandero foram encontrados um carregador de arma e um boné, ambos encaminhados para a perícia. Outros resultados, como número de projéteis e impressões digitais, são aguardados. As câmeras de segurança do local não estavam funcionando.
"Nada tem a ver com o futebol", garante vice-presidente administrativo da Acopam
A Associação Comunitária Parque dos Maias (Acopam), onde ocorria o jogo de futebol, fica na Avenida Gamal Abdel Nasser, no bairro Rubem Berta. Foi fundada em 1978 e dispõe de uma área de lazer para a comunidade da região. Procurado, o vice-presidente administrativo da Acopam, Carlos Alberto Dutra, afirmou que um dos salões havia sido alugado para um evento, no qual haveria samba e galeto. Segundo ele, o ataque a tiros não tem relação com o jogo de futebol que aconteceu antes.
— Nada tem a ver com futebol, como estão noticiando. A verdade é o que futebol, dentro da Associação Comunitária Parque dos Maias, durante os 40 anos, nunca deu problema. Nem perto do que o que ocorreu ontem. Infelizmente, estão aproveitando a situação para massacrar a Acopam — afirmou Dutra.
Ele ainda reforçou o trabalho que a diretoria da Acopam realiza "em prol da comunidade e fora dela".
— A nossa associação é palco de inúmeras escolas que diariamente frequentam o estabelecimento, grupos de terceira idade. Existe um projeto chamado "Futuro cidadão" na qual encaminhamos diversos de cidadão para o mercado de trabalho. Nos deixa bastante feliz e gratificado porque trabalhar com adolescente não é fácil, principalmente quando você não tem recurso— completou.