Sepultado no fim da tarde desta terça-feira (14), o taxista Gilberto Bof, 72 anos, trabalhava a poucas quadras da casa onde morava, na zona sul de Porto Alegre. Na noite de segunda-feira (13), na mesma região, ele foi alvejado com dois tiros na cabeça. A principal suspeita da Polícia Civil é de que o motorista tenha sido morto durante um assalto. O veículo chegou a ser levado pelo criminoso, mas foi abandonado logo depois.
Um dos locais onde Bof trabalhava há pouco mais de um ano fica na esquina da Travessa Escobar com a Avenida Otto Niemeyer, no bairro Camaquã. É um ponto livre, onde os profissionais que não têm local fixo costumam parar. O ponto fica a poucas quadras de onde o taxista morava, no mesmo bairro.
Casado e pai de dois filhos, Bof nasceu em Gramado, na Serra, mas morou quando jovem no bairro Cavalhada, em Porto Alegre, na casa dos pais. Nesse período, começou a trabalhar vendendo pães produzidos pela mãe. Trabalhou ainda em um depósito de bananas. Depois de casado, passou a viver no bairro Vila Nova, onde cresceram os dois filhos. Aposentou-se como tesoureiro em uma loja, onde trabalhou por longos anos.
Mais tarde, passou a trabalhar como taxista. Exercia a profissão, segundo familiares, há cerca de 25 anos. Antes de atuar na Zona Sul, havia sido taxista no ponto do Centro Administrativo Fernando Ferrari. No início do ano passado, chegou a anunciar nas redes sociais que passaria a trabalhar no próprio bairro. Era por ali que fazia a maior parte das corridas atualmente.
Gostava de veranear no balneário Lami e na Costa do Sol. Além da esposa, Santa Isabel, dos filhos Everton e Juliano, e dois netos, deixa ainda duas irmãs.
"Não se recusava a levar corrida"
Com mais de duas décadas de serviço, Luís Henrique Mendes, 49, conta ter conversado com o colega mais de uma vez sobre os riscos da profissão e orientado para que redobrasse os cuidados:
— No começo, ele trabalhava durante o dia, mas, ultimamente, estava mais no horário da noite. A gente alertava, até por ser uma pessoa de idade. Ele atendia todo mundo. Não se recusava a levar corrida. A gente lamenta pela perda e pela família.
Na noite em que teria sido vítima do assalto, o taxista estava em outro ponto, perto dali, na Rua Afonso Arinos, junto à Otto Niemeyer.
— Sentimos muito por ele e pela família. Era uma pessoa calma, ficava na dele, dentro do táxi. Frequentava a igreja — diz o taxista Alexandre dos Santos, 44.
Investigação
Segundo a delegada Vivian do Nascimento, a polícia trabalha, no momento, para descobrir a rota feita pelo taxista e o criminoso. A investigação busca saber em que ponto o assaltante embarcou no veículo. O Etios passou por perícia para identificação de vestígios.
— Estamos atrás de imagens de câmeras de monitoramento. Vamos ouvir essas testemunhas do fato. Solicitamos perícia ao IGP (Instituto-Geral de Perícias) — afirma a delegada.
O IGP informou que impressões digitais que podem ter ficado no carro serão comparadas com a base de dados do órgão.
Diretora do Departamento de Polícia Metropolitana, a delegada Adriana Regina da Costa diz que a investigação ainda não sabe o que motivou a morte do taxista. A polícia ainda não ouviu familiares da vítima, por estarem envolvidos na cerimônia de despedida, para saber quais pertences podem ter sido levados.
— Todos os elementos iniciais apontam para latrocínio. O que aconteceu dentro do veículo nunca vamos saber. Somente se o preso, no futuro, confessar o fato e relatar em detalhes. Muitas vezes, as pessoas reagem. Não sabemos se neste caso houve reação. Sempre orientamos no sentido de que as vítimas evitem manifestação que seja reação, para que não acabe no latrocínio — diz.
O corpo do taxista foi sepultado às 16h no Cemitério São Miguel e Almas, no bairro Azenha, mesmo local onde foi velado. GZH esteve no local, mas, abalados, os familiares optaram por não se manifestarem no momento. Um parente do taxista disse à reportagem que estão todos chocados com a perda.