Mesmo com o retorno quase total das atividades devido ao arrefecimento da pandemia, um crime que preocupa quem caminha pelas ruas da Capital continua em queda. Os registros de roubo a pedestre em Porto Alegre tiveram redução de 16,3% nos primeiros sete meses deste ano, se comparados a igual período de 2020.
Dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP), obtidos a pedido de GZH, mostram que, de janeiro a julho de 2021, ocorreram 8.073 assaltos a pedestre, uma média de 38 por dia ou pelo menos um caso a cada uma hora e meia. No mesmo intervalo de tempo do ano passado, as polícias registraram 9.646 casos, com média 45 ao dia.
A queda foi impactada por reduções em bairros que concentram a maior parte das ocorrências, como Centro Histórico, com decréscimo de 17,5%, Rubem Berta, na Zona Norte, com 28,4% de redução, e baixa de 14,2% na Restinga, no Extremo-Sul. Bairros que em 2020 estavam entre os 10 da Capital onde mais aconteciam essas abordagens violentas, como Menino Deus e Cidade Baixa, alcançaram recuos significativos de 42,5% e 36,2%, respectivamente, alteração que tirou os dois bairros da área dos mais visados para esse tipo de crime.
Depois de ver dois assaltos no Centro e flagrar um homem tentando abrir o zíper da sua mochila, a massoterapeuta Suelen Weber, 36 anos, passou a usar o acessório na frente do corpo e a adotar uma conduta preventiva. Moradora da Zona Norte, passa diariamente pelo Largo Glênio Peres para ir ao trabalho e percebe que as mulheres são os principais alvos do crime.
— No Centro de Porto Alegre conseguem tirar a meia sem mexer no tênis. Só este ano já vi gargantilha sendo arrancada de pescoço e mulher com duas crianças tendo bolsa levada. Isso tudo do meu lado — conta.
Polícia Civil intensifica operações
A conduta preventiva do pedestre pode inibir o ímpeto de alguns criminosos, mas a atuação das polícias é decisiva para responsabilizá-los. À frente da 2ª Delegacia de Polícia da Capital, que abrange os bairros Menino Deus, Azenha, Praia de Belas e parte do Medianeira, a delegada Ana Luiza Caruso afirma que a intensificação de operações, identificação de criminosos e aumento das prisões tem refletido na queda do indicador:
— O número de prisões subiu muito, em maio prendemos o mesmo que no ano passado inteiro. Isso acaba inibindo o criminoso. Estamos tentando ir para a rua o máximo que podemos. Tem o prende e solta, mas estamos fazendo nossa parte, atuando forte e prendendo em flagrante. Ainda considero um número alto de assaltos (em sete meses em 2021, o Menino Deus teve 115 ocorrências, frente a 200 em igual período de 2020), gostaria de fechar uma semana sem que ninguém passasse por isso. Para chegar nesse nível, é um trabalho que leva tempo.
BM usa georreferenciamento
No comando do 9º Batalhão de Polícia Militar (BPM), que atende a área central e tem maior diversidade de ocorrências da Capital, o tenente-coronel Alex Severo explica que o contingente de policiais nas ruas é praticamente o mesmo do ano passado e a circulação de pessoas no Centro de Porto Alegre já é semelhante a 2019, no período pré-pandemia. Para controlar o crime, é feita gestão semanal dos índices de violência. Reuniões de comando a cada 15 dias se debruçam sobre o comportamento de quatro indicadores principais no período: homicídio, roubo de veículo, roubo a estabelecimento comercial e roubo a pedestre.
A evolução dos registros é acompanhada com georreferenciamento, o que permite o planejamento do policiamento. Onde há crescimento de índices, com dados de localização e horário, é direcionado o foco da presença guarnições.
— Acompanhamos quase em tempo real. Não somos onipresentes e precisamos do georreferenciamento. Onde a gente coloca policial, a situação já muda. São feitas abordagens e identificações — afirma o comandante.
Apoio da tecnologia
A tecnologia apoia o trabalho da polícia também por meio do sistema de videomonitoramento, com câmeras do Departamento de Comando e Controle Integrado (DCCI) do Estado e do Centro Integrado de Comando de Porto Alegre (Ceic). Toda vez que o equipamento flagra algum assalto, as guarnições são avisadas e se deslocam para o local. Dentro do Centro Histórico, as equipes se deslocam a pé ou de motocicleta para ganharem mobilidade no trânsito, conforme as demandas vão surgindo.
— Fazemos prisões rotineiras com a monitoramento de câmera, acaba que é um aliado — conta o tenente-coronel.
Na avaliação do titular da 1ª DP de Porto Alegre, que abrange parte do Centro e a Cidade Baixa, Paulo Jardim, o flagrante de um assalto por câmera junto ao reconhecimento da vítima eleva a qualidade das provas no inquérito e tem facilitado a aceitação de prisões preventivas e temporárias, o que também está aliado, na percepção do delegado, a uma atuação mais preocupada do Ministério Público e do Judiciário com a criminalidade:
— Se está filmado, não tem como negar quem fez, e quem vai julgar não tem dúvida da autoria. Indo para a cadeia, não estão na rua. E, na hora em que solta, ele dá um tempo ou sai fora, vai para outra área, porque na nossa área se tornam conhecidos nossos e são abordados com frequência.
Um terceiro elemento que também apoia o trabalho da BM são as informações da comunidade repassadas por grupos de WhatsApp. Só no 9º BPM, são mais de 40 grupos divididos nas quatro companhias do batalhão administrados pelos policiais.
— Se eles enxergam algo, a gente vai verificar. Chegamos com cautela e abordamos. Orientamos que, se avistou algo e desconfiou, nos avise. A tecnologia, como um todo, está sempre a nosso favor, amplia o espectro de trabalho — avalia o tenente-coronel.
Se durante os meses de maior distanciamento social havia mais visibilidade do policiamento e, aos olhos do policial, o criminoso ficava mais visível, o retorno da alta concentração de público exige que o PM preste mais atenção em quem está disposto a cometer um assalto e faça abordagens, analisa o comandante:
— O marginal cria uma zona de conforto, ele gosta de roubar sempre na mesma esquina, no mesmo eixo, pois já identificou a área para se esconder e, por isso, essa gestão com georreferenciamento e horário. Se ficarmos cuidando, ele vai aparecer de novo e vamos prendê-lo.
Celular é o principal alvo dos criminosos
O celular segue sendo o principal alvo do assaltante, especialmente por ser uma moeda de troca para compra de drogas. Avisados por moradores, em 13 de setembro, policiais do 9º BPM abordaram uma mulher de 33 anos na Rua General Câmara, no Centro Histórico. Durante a revista, foram localizados crack, maconha, pasta base de cocaína, R$ 500 em dinheiro, revólver, seis celulares, quatro relógios e 28 pacotes de cigarro.
Com antecedentes por tráfico e roubo a pedestre, a mulher foi levada à 3ª Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA). Na avaliação do comandante, trata-se de um exemplo clássico de como o celular roubado vira pagamento para consumo de droga.
Orientações de segurança
- Evite se deslocar por lugares desertos ou mal iluminados
- Mantenha-se alerta em todo trajeto a pé, principalmente ao ingressar no seu veículo
- Cuidado na saída do trabalho e de bares e restaurantes
- Evite ostentar celular, cordões, relógios, joias e dinheiro
- Ao utilizar mochilas, certifique-se de que os bolsos estejam fechados. Se tiver zíper, se possível, use cadeado
- Ao circular com mochilas e bolsas, traga-as para a frente do corpo, com a mão sobre zíper
- Bolsa apoiada em um ombro por alça lateral pode ser facilmente levada
- Não use celulares nem fones de ouvido enquanto estiver caminhando
- Não utilize celular pendurado na bolsa ou na roupa
- Transporte carteiras e celulares nos bolsos da frente
- Se for vítima de assalto, não reaja. Além de o criminoso poder estar armado, em geral, assaltantes agem acompanhados
- Se estiver na rua, em local que considera de risco, para utilizar o celular entre em algum estabelecimento, como uma loja