Patrícia Augsten (*)
Um pioneiro na pesquisa sobre cibercrime e investigação criminal em fontes abertas, Emerson Wendt imprimiu em 520 páginas, divididas em dois livros, sua experiência de 23 anos como delegado da Polícia Civil — sendo três deles na chefia da instituição — e um arcabouço teórico-metodológico ímpar adquirido no mestrado e no doutorado (em andamento) em Direito.
Escrito em parceria com o também delegado Cristiano de Castro Reschke e com a advogada Mayumi Matsubayaci, o livro Infiltração Policial: Da Tradicional à Virtual traz à luz um dos assuntos mais instigantes na área. Técnica muito explorada no cinema, a infiltração é uma das ferramentas especiais de investigação que mais curiosidade provocam nos alunos recém chegados às Academias de Polícia. Contudo, a infiltração policial não é de simples execução.
Embora não haja consenso quanto ao seu surgimento, pode-se afirmar que o crime organizado ganhou notoriedade mundial após a globalização da economia e dos meios de comunicação. Com a tecnologia, a internet e o novo mundo virtual, conexões criminosas foram potencializadas e novas modalidades de crimes e novos modus operandi para crimes antigos surgiram, desafiando ainda mais o Estado.
Os autores procuram responder às perguntas de como enfrentar o crime organizado, compreender e desarticular suas estruturas sem fazer parte dele. A resposta, segundo Wendt e Reschke, está na própria pergunta: fazendo parte dele. Chegar ao núcleo financeiro, aos centros de decisão dos rumos da locomotiva do crime, passa pelo processo de obtenção de informações fidedignas e relevantes. Resultados excepcionais requerem medidas excepcionais, como a infiltração.
O livro faz um tour pela teoria, passando pela história e pelos avanços legislativos, abordando aspectos práticos e críticos desta técnica especial aliada da investigação criminal. São apresentadas as duas espécies de infiltração: a física (tradicional) e a virtual ou cibernética (resultado da evolução das relações sociais em ambiente de internet).
De acordo com os autores, pensar a investigação criminal moderna, eficaz e eficiente sem considerar a seara da lavagem de dinheiro é desprestigiar o bom senso. Mas será que todos os responsáveis são capazes de desempenhar tal investigação?
Nada mais urgente do que a troca de expertises entre os policiais para a evolução da investigação criminal. É justamente isso que o livro Investigação de Lavagem de Dinheiro e Enfrentamento à Corrupção no Brasil, organizado por Wendt e Reschke, busca: o compartilhamento de conhecimento por aqueles que já desenvolveram investigações diferenciadas nessas temáticas, aplicando o direito penal e o processual penal, com recursos tradicionais e também com uso de modernas e especiais ferramentas na busca da materialidade e autoria do crime.
Há duplo objetivo com a obra: demonstrar tipologias, auxiliando na identificação das práticas criminosas assemelhadas, fomentando, assim, novos trabalhos; e também oportunizar o adequado uso de técnicas investigatórias. Os autores apresentam abordagem crítica, destacando dificuldades encontradas e possíveis soluções para o aprimoramento do arcabouço sistêmico, jurídico, legislativo e operacional, correlato ao tema. São abordados, nos 13 capítulos, casos reais representativos de ações e estratégias especializadas no enfrentamento ao crime de lavagem de dinheiro e à corrupção, decorrentes de investigações das Polícias Civil e Federal, com apuração de crimes de tráfico de drogas, estelionato, corrupção, jogos de azar e delitos cibernéticos, como antecedentes do crime de lavagem de dinheiro.
A felicidade do livro repousa no fato de saber compartilhar, numa abordagem clara e objetiva, conhecimento capaz de criar não só nos policiais, mas nos estudantes, advogados, promotores, juízes e em outros interessados no assunto, uma visão prática e crítica para o avanço na construção de soluções estatais eficazes frente ao crime, sobretudo, o organizado.
(*) Jornalista
Os livros
Infiltração Policial: Da Tradicional à Virtual, de Emerson Wendt, Cristiano de Castro Reschke e Mayumi Matsubayaci, e Investigação de Lavagem de Dinheiro e Enfrentamento à Corrupção no Brasil, de Emerson Wendt e Cristiano de Castro Reschke (organizadores). Editora Brasport, R$ 75 o primeiro e R$ 90 o segundo (desconto de 20% no site da editora). Sessão de autógrafos no dia 16 de setembro, às 19h, na Livraria Santos, no ParkShopping Canoas.