Depois de operação deflagrada na manhã desta quinta-feira (6), em Porto Alegre, motivada pelo caso de um servidor da Caixa Econômica Federal (CEF) que repassava dados de clientes para uma financeira, a Polícia Federal (PF) apreendeu documentos e materiais para apurar se há mais funcionários envolvidos e outras empresas. Além disso, o objetivo é investigar se há mais do que 127 vítimas — já confirmadas — nos três Estados do Sul e no Amazonas.
A investigação iniciou em janeiro deste ano, após denúncia feita à Ouvidoria da PF. O delegado Davi Jacobs de Souza passou a buscar elementos para comprovar os fatos e conseguiu confirmar o envolvimento de um servidor. Segundo o policial, o funcionário recebia uma comissão ou algum valor fechado por informação, que são dados de quem fez empréstimos consignados, repassada para uma financeira.
Após o cumprimento de dados na casa dos investigados, nos bairros Menino Deus e Alto Petrópolis, e na financeira, no Centro, Souza destacou que um dos objetivos é saber se tem mais servidores envolvidos, assim como outras empresas. Até agora se chegou a 127 vítimas do Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, no Paraná e no Amazonas, que tiveram seus dados vazados. Com as apreensões realizadas pela manhã, a PF tenta descobrir também se esse número é ainda maior, o que não é descartado.
Como o esquema funcionava
Souza diz que o servidor, com participação já comprovada, foi assediado por uma financeira para vender informações de empréstimos consignados. Tudo era feito por e-mail. A financeira quitava a dívida com o banco, com um valor inferior ao montante das prestações, e passava a ser credora do cliente.
— Ele, por e-mail, encaminhava dados dos empréstimos, juntamente com boletos e os saldos devedores desses contratos. Assim, a financeira quitava boletos com a Caixa e se tornava a verdadeira credora, ou seja, o cliente da Caixa passava a ser devedor da financeira — explica Souza.
A quitação por parte da financeira tinha sempre um valor inferior ao montante das prestações do contrato. Segundo o delegado Souza, a CEF teve prejuízos, como redução da carteira de crédito e a consequente perda de faturamento, já que a instituição deixa de receber valores dos empréstimos que seriam feitos pelos seus clientes. Já estes, além dos dados vazados, podem ter tido ainda informações revendidas para outras empresas e para criminosos que aplicam golpes.
Como a investigação continua, nomes não foram divulgados. O servidor foi afastado e responde administrativamente em uma sindicância interna. Na PF, ele está sendo responsabilizado por violação de sigilo funcional, com pena de prisão de dois a seis anos, mais multa, e por corrupção ativa, com reclusão de dois a 12 anos, além de multa, e corrupção passiva, com punição variando de prisão, que começa com três meses e pode chegar até um ano, a multa.
A CEF, em resposta a GZH, informou que está colaborando com a polícia. Confira nota enviada pelo banco:
"A CAIXA informa que atua conjuntamente com a Polícia Federal e demais órgãos de segurança pública na identificação e investigação de casos suspeitos e prevenção de fraudes. A CAIXA esclarece ainda que informações sobre suspeitas de ações criminosas são repassadas exclusivamente às autoridades policiais envolvidas, e que o banco presta irrestrita colaboração nas investigações."