Durante a madrugada de segunda-feira (15), um idoso, morador da zona sul de Porto Alegre, acordou com o som da partida de um veículo, mas não deu importância. Na manhã seguinte, enquanto tomava café, viu uma reportagem na TV sobre um morto após arrombamento de um condomínio nas proximidades.
Baleado por um major da Brigada Militar, que reside no condomínio, no bairro Camaquã, Alexandre de Ávila dos Santos, 43 anos, acabou batendo o carro em um muro. O proprietário achou o Corsa muito parecido com o seu. Ao olhar para a rua, descobriu que seu carro havia sido levado.
A Polícia Civil acredita que antes de arrombar o prédio onde acabou morto, Santos tenha furtado o veículo. O automóvel foi levado de uma via paralela à Rua Padre João Batista Réus, onde fica o condomínio arrombado. Com ele, foi apreendida uma chave micha, usada para abrir portas de veículos, e uma faca.
— É um veículo antigo, daqueles que a pessoa consegue ligar sem ter a chave. O proprietário veio até a delegacia ontem à tarde. Ele não tem garagem, então o carro ficava do lado de fora, estacionado na rua — explica o delegado Newton Martins de Souza, da 6ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
O idoso contou aos policiais que acredita ter ouvido o barulho por volta das 3h30min. O fato no condomínio aconteceu por volta das 4h20min. Santos também residia no bairro Camaquã, na Vila Funil, a cerca de um quilômetro de onde aconteceu o caso. Segundo o delegado, ele possui histórico por crimes como furto e receptação de veículo desde 2008. No dia 9 de março, conforme a polícia, havia sido preso em flagrante por receptação de um automóvel. A maioria dos crimes aconteceram entre os bairros Tristeza e Camaquã.
A suspeita é que ele tenha arrombado a porta do condomínio, que estava danificada, para chegar até a garagem. O acesso a um residencial próximo também havia sido danificado. A polícia acredita que ele tenha invadido o outro prédio. Foram encontrados no veículo ainda um aparelho de som automotivo, um compressor de ar portátil para encher pneu e uma trava de bicicleta. Os objetos teriam sido retirados dos carros na garagem.
Major diz ter atirado três vezes
O major, que atua na Casa Militar — setor que tem, entre as funções, a segurança do governador —, foi ouvido pela Polícia Civil ainda na madrugada do caso. Em depoimento, ele disse ter atirado três vezes contra o ladrão. O oficial relatou que estava dormindo quando foi chamado por uma vizinha. A mulher disse que havia alguém na garagem do prédio. O oficial contou que desceu até o local, não viu ninguém e retornou para casa. Alguns minutos depois, a mesma moradora teria lhe chamado uma segunda vez, pelo mesmo motivo.
— Ele desceu novamente e aí deparou com essa pessoa. Quando ele abordou, mandou ele ficar quieto, deitado no chão. Mas ele arremessou uma sacola que tinha algumas coisas dentro, que havia tirado dos veículos, e foi direção ao major com uma faca. O major disse que, de início, achou que era uma régua metálica. Era de madrugada. Ele diz que neste momento deu um disparo, mas não sabe se acertou ou errou — afirma o delegado.
Na sequência, o homem teria corrido para o lado de fora do prédio, onde estava o veículo furtado. O major correu atrás dele, chegando até a rua. O oficial relatou à polícia que o ladrão teria tentado atropelá-lo com o veículo e que ele efetuou mais dois disparos em direção ao veículo. Baleado no peito, Santos teria seguido com o carro até bater contra um muro, na esquina com a Rua Victor Silva. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegou a ser acionado, mas quando chegou ele já estava morto.
A polícia aguarda algumas respostas da perícia para ter mais detalhes sobre como aconteceram os fatos. Uma das dúvidas é se o vidro do veículo foi estilhaçado pelos disparos ou pelo impacto da colisão do carro contra o muro. A perícia deve esclarecer, ainda, se a causa da morte foi pelos disparos ou se o acidente também contribuiu para o óbito. A investigação também busca imagens de câmeras e ouvirá testemunhas. O major poderá vir a ser ouvido novamente, caso a polícia entenda que é necessário esclarecer algum ponto.
— O que temos até o momento é o relato do major. Pelo que ele disse, caminha para legítima defesa. Mas vamos coletar imagens e ouvir mais pessoas. A vizinha, por exemplo, precisa ser ouvida. Somando tudo ao relato do major, vamos concluir se de fato configura legítima defesa ou não — explica o delegado sobre a investigação do caso.
A Brigada Militar também abriu um inquérito policial militar para apurar o caso. O prazo para a conclusão é de 40 dias, podendo ser prorrogado por mais 20 dias. O oficial foi encaminhado para acompanhamento psicológico.