O avanço dos casos de coronavírus no Rio Grande do Sul nas últimas semanas também refletiu na disparada de contaminação dentro da Brigada Militar (BM). Em 10 dias, o número de policiais militares contaminados triplicou. Os dados foram informados pelo próprio comandante-geral da BM, coronel Rodrigo Mohr, em entrevista a Rádio Gaúcha nesse domingo (28) e detalhados a GZH nesta segunda-feira (1º).
Ao longo da pandemia, a BM registrou média de 40 a 50 contaminados simultâneos. O aumento passou a ser observado a partir de 9 de fevereiro. No dia 17 no mesmo mês, já eram 80 policiais com diagnóstico de covid e, no último sábado (27), o total já havia saltado para 246 policiais – acréscimo de 207,5% – que testaram positivo para a covid-19. Destes, 22 estão internados.
— Assim como no Estado, estamos no pior momento da pandemia, com maior número de afastados e hospitalizados. Estamos com o hospital da BM quase lotado. Momento muito complicado. Em todo o ano passado, não tivemos nenhum momento semelhante ao que estamos vivendo hoje. Em dois dias mais do que dobramos o número de PMs hospitalizados. A contaminação foi geral, entre praças e oficiais. O vírus não escolheu posto e graduação. Tem muitos tenentes, até comandantes e o pessoal do serviço interno — afirma Mohr.
Todos os policiais contaminados ficam pelo menos 10 dias afastados. Durante toda pandemia, quatro policiais da ativa já morreram por coronavírus. Segundo coronel Mohr, os diagnósticos estão pulverizados em praticamente todos os batalhões do Estado. A maior quantidade de contaminados, no entanto, está concentrada no Litoral Norte (2,9% do total), em Porto Alegre (2,4%) e no departamento de saúde (2%).
— Dá para ver claramente que onde tem o maior número de ocorrências envolvendo aglomerações, tem mais contaminados. O policial está no contato diário com as pessoas, atendendo toda e qualquer ocorrência, está sempre tentando fazer uma mediação, conversa e pode estar tendo contato com pessoas com o vírus — afirma.
O aumento nos casos também refletiu na alta demanda do Hospital da Brigada Militar em Porto Alegre, que está operando com a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) próxima do limite. A corporação tem instituições de atendimentos específicas para PMs na Capital e em Santa Maria. Nas demais regiões do Estado, o policial procura atendimento na mesma rede que atende civis.
Com o agravamento dos números, o comando-geral reforçou a adoção de protocolos, como uso de máscara, álcool gel, distribuição de face shield e limpeza das viaturas na trocas de turnos. Coronel Mohr afirma que a importância do uso de máscara em serviço foi reforçada junto à tropa:
— Assim como a população, os policiais também acabaram relaxando com o passar do tempo e o começo da vacinação. Agora voltamos a bater nessa tecla e reforçamos todas aquelas orientações do começo da pandemia.
O que é preocupante e que fiz questão de trazer a público é o aumento da contaminação em poucos dias. Quando a população aglomera e deixa de usar máscara, põe em risco também aquele que tem a missão de protegê-la. Muitos ainda não se convenceram da gravidade do momento.
CORONEL RODRIGO MOHR
Comandante-geral da BM
A BM explica que, embora esteja com maior número de policiais contaminados desde o começo da pandemia, os afastamentos, na prática, não afetam a operação de policiamento de forma perceptível à população. A quantidade de contaminados representa menos de 2% de toda a tropa. Até agora, a corporação havia registrado picos de contágio em julho e setembro, mas a situação atual acendeu o alerta na cúpula da BM
— Não há grande prejuízo para a operação e não vamos diminuir nossa atuação, mas demonstra o tamanho da gravidade do momento que afeta todas as áreas. O momento é realmente delicado. O que é preocupante e que fiz questão de trazer a público é o aumento da contaminação em poucos dias. Quando a população aglomera e deixa de usar máscara, põe em risco também aquele que tem a missão de protegê-la. Muitos ainda não se convenceram da gravidade do momento.
Associações ressaltam que PMs são mais expostos ao vírus
Por ter exposição diária e contínua, o presidente estadual da Associação dos Servidores de Nível Médio da Brigada Militar (Abamf), José Clemente Silva Corrêa, acredita que o número de policiais contaminados tende a se agravar nos próximos dias. O dirigente defende que o governo agilize a vacinação dos profissionais da segurança pública:
— Nossa maior preocupação é que isso vire uma epidemia dentro dos quartéis da BM e, com isso, a segurança da população vai estar em risco. Não queremos exclusividade ou furar a fila da vacinação, mas o Estado não nos dá toda atenção que deveria. A BM é um setor muito vulnerável. Há várias situações que o policial se expõe por mais que use máscara, lave a mão e tenha álcool gel.
Nossa maior preocupação é que isso vire uma epidemia dentro dos quartéis da BM e, com isso, a segurança da população vai estar em risco. Não queremos exclusividade ou furar a fila da vacinação, mas o Estado não nos dá toda atenção que deveria.
JOSÉ CLEMENTE SILVA CORRÊA
Presidente estadual da Associação dos Servidores de Nível Médio da Brigada Militar (Abamf)
À frente da Associação dos Oficiais da Brigada Militar, coronel Marcos Paulo Beck afirma que a BM está pagando um preço alto pela pandemia. Reforça que é da natureza do trabalho do policial atuar em conjunto – entre dois ou mais – o que expõe o servidor e facilita o contágio. Por isso, ele lamenta que a BM não está na lista dos setores prioritários para vacinação.
— Somos um dos setores mais expostos, não existe policiamento por home office. A BM não se omitiu na pandemia. Gostaria que o governo nos olhasse com a dignidade que merecemos. As medidas de higiene precisam ser realmente obedecidas pois a polícia trabalha em grupo, somos uma entidade coletiva. O trabalho é raramente em isolamento.
Nesta segunda-feira (1º) a Polícia Civil tinha 61 servidores contaminados com coronavírus, dos quais quatro estão internados.