A Polícia Civil descobriu mais uma forma de atuação das facções criminosas que agem no Estado. A exemplo de empresas especializadas em cobranças, integrantes de um destes grupos começaram a comprar dívidas de credores. A diferença é que fazem um negócio ilegal para depois ameaçar e extorquir as vítimas, a maioria da Região Metropolitana. Até 7h, seis suspeitos haviam sido presos e mais de R$ 700 mil foram apreendidos em uma casa na cidade de Novo Hamburgo. Além disso, esmeraldas e barras de ouro foram localizadas em outra residência da cidade.
Após investigação iniciada em setembro do ano passado, uma operação foi deflagrada nesta quarta-feira (24) com 200 agentes para cumprimento de 39 ordens judiciais em sete cidades gaúchas contra este esquema — criado para captar mais dinheiro ao tráfico de drogas.
Muitos credores se utilizam de empresas especializadas, que têm como objetivo cobrar dívidas de uma forma legalizada. Para isso, negociam valores mais baixos com os credores — que acabam vendendo como último recurso para recuperar o dinheiro investido. Desta forma, dentro das normas exigidas pelo mercado, os valores são cobrados em comum acordo entre inadimplentes e a empresa que adquiriu a dívida.
Segundo o delegado Thiago Lacerda, da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) de Canoas, os responsáveis por investir valores obtidos com o tráfico e por fazer a prática da lavagem de dinheiro de uma facção, que tem base no Vale do Sinos, começaram a imitar esta forma de recuperação de valores.
Cobranças
Ao todo, 27 suspeitos identificados compravam ilegalmente dívidas que comerciantes e empresários não estavam conseguindo cobrar. De posse das informações repassadas pelos credores, os traficantes passaram a ligar e a mandar mensagens para os devedores.
Em alguns casos, foram até as residências e locais de trabalho, principalmente de empresários, comerciantes e profissionais liberais da Grande Porto Alegre. Além disso, cobravam juro por conta e estipulado sem nenhuma referência de mercado.
Lacerda diz que ainda está sendo apurada a forma como os investigados mantinham relação com credores para receber dados das vítimas, como telefone, endereço e até informações de familiares.
— Após um pagamento ou até do pagamento total, os traficantes, muitas vezes, voltaram a extorquir as vítimas, pedindo mais dinheiro, apesar de ela já ter efetuado o pagamento. Os criminosos se utilizavam da violência para obter mais dinheiro, se tornando uma roda viva impagável. Além disso, estamos investigando se algumas dessas dívidas realmente existiam — diz Lacerda.
O diretor da 2ª Delegacia Regional Metropolitana, delegado Mario Souza, diz que os investigados faziam questão de se identificar como integrantes de uma facção, inclusive se passando por lideranças destes grupos criminosos.
— Assim, seguiam ameaçando a vítima e os familiares, sempre dizendo que ela deveria dar um jeito de pagar, pois sabiam quem eram seus filhos e onde trabalhavam ou estudavam, referindo ainda que, se não pagasse, haveria uma vigilância 24 horas por dia, dando 24 horas como prazo para pagamento — exemplifica Souza.
Operação
A Polícia Civil de Canoas descobriu o crime, passou a investigar e nesta quarta-feira realizou a chamada Operação Outback. Participaram 200 agentes em sete cidades para prender oito suspeitos, quatro com prisão temporária e outros quatro com prisão preventiva decretada. Também foram cumpridos 32 mandados de busca e apreensão.
A operação ocorreu em Esteio, Canoas, Sapucaia do Sul, São Leopoldo, Novo Hamburgo e Gravataí, no Vale do Sinos e na Região Metropolitana. Além destas seis cidades, a ação também foi realizada em Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo.
A polícia não está repassando muitos detalhes das vítimas por questões de segurança e não está divulgando os nomes dos suspeitos porque a investigação continua.