A Polícia Civil apreendeu em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, pela primeira vez no Rio Grande do Sul, cocaína da cor preta. Um colombiano que guardava em casa 26 quilos do entorpecente foi preso.
Não se trata de uma droga nova: ela foi criada pelo Cartel de Cáli, na Colômbia, nos anos 1980. É caracterizada por não ter cheiro e não reagir a testes preliminares durante abordagens de autoridades. Além disso, é mais cara e mais viciante do que a cocaína tradicional.
A apreensão, realizada pela 1ª Delegacia de Novo Hamburgo, junto com a Receita Federal, foi divulgada na manhã desta quarta-feira (3), mas ocorreu na terça-feira à tarde.
O colombiano preso, que trabalhava em um estabelecimento comercial na área de gastronomia, estava sendo monitorado pelos agentes. Ele estava no Brasil desde 2011. Segundo a investigação, ele também possui uma empresa de fachada na cidade — uma loja de produtos naturais.
A chamada Operação Açaí recebeu este nome justamente porque o investigado comercializava a cocaína preta dentro de embalagens da fruta em pó para não chamar a atenção da polícia. Segundo o delegado Tarcísio Kaltbach, responsável pelo caso, a droga foi avaliada em R$ 6 milhões e nunca havia sido apreendia no Estado.
— Não é uma droga nova, foi desenvolvida na década de 1980 pelo Cartel de Cáli e já foi apreendida em outras partes do Brasil, mas aqui no Estado não temos conhecimento. Nunca havia sido apreendida antes. O preso informou que recebia R$ 10 mil por cada remessa de 13 quilos, e ele já havia recebido duas — conta Kaltbach.
A polícia destaca que a droga tem sido usada por traficantes do país porque não reage ao teste preliminar feito para detectar cocaína ou cloridrato de cocaína por meio de reação química — que deixa a droga com a cor azul. O teste é muito usado em aeroportos do mundo todo. O entorpecente também não tem cheiro, o que dificulta a identificação.
Além disso, é uma droga mais cara, tem efeito mais rápido e é mais prejudicial ao corpo humano do que a cocaína tradicional. Trata-se de uma mistura de pasta-base da droga com outras substâncias.
O diretor da da 3ª Delegacia Regional Metropolitana, delegado Eduardo Hartz, diz que o próximo passo da polícia será apurar quem iria receber o entorpecente, além de verificar se há mais pessoas envolvidas na distribuição. Segundo ele, a cocaína preta é pelo menos oito vezes mais cara do que a tradicional.
— Estamos trabalhando direto para não deixar este tipo de tráfico ocorrer no Estado e contamos sempre também com a participação das pessoas para denunciar qualquer tipo de venda de entorpecentes — ressalta Hartz.
Droga é periciada
O diretor do Departamento de Perícias Laboratoriais do Instituto-Geral de Perícias (IGP), Daniel Scolmeister, informou que foi acionado pela polícia para analisar a droga. Ele fez o teste inicial, que deixa o entorpecente com a coloração azul, e deu negativo.
— Realmente, havia um pó preto misturado e deveria ter ficado azul, mas não ficou. Também não tem odor mesmo — ressalta.
Depois do teste inicial, o material enviado pela polícia passou por três técnicas diferentes envolvendo dois equipamentos e todos confirmaram a existência de cocaína. Scolmeister diz que precisa ser feita uma nova análise para verificar o tipo de pó preto misturado e outra, ainda mais específica, para se ter certeza se a droga é mais viciante.
Um dos testes dá indícios de que o material apreendido pode ser mais forte. O infravermelho, por exemplo, geralmente não identifica o tipo de droga em um primeiro momento quando existe pouca concentração do entorpecente. Mas, no caso da cocaína preta, a confirmação ocorreu logo no início.
O IGP usou as seguintes técnicas: cromatografia em camada delgada; espectroscopia na região de infravermelho e cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas, que é o teste definitivo para confirmar a presença de drogas.