Ao tentar alugar uma casa próxima a agências do Banrisul e do Sicredi, em Lagoão, no Vale do Rio Pardo, uma mulher chamou atenção de moradores e passou a ser monitorada pela Brigada Militar (BM). A inteligência policial descobriu que a inquilina era, na verdade, esposa de um assaltante de banco. Após acompanhá-la, em agosto de 2020, foram presos quatro homens com armas. O grupo se preparava para atacar as agências na cidade de 6,4 mil habitantes que não tem acesso asfáltico.
— A prisão foi por porte ilegal de armas, mas sabíamos que estavam se estruturando para um ataque a banco — afirma o subcomandante-geral da BM, coronel Vanius Santarosa.
Antecipar a ação dos criminosos e retirá-los de circulação, como aconteceu em Lagoão, foram duas das principais estratégias da BM para reduzir em 55% os ataques a banco ao longo de 2020. Em paralelo, a produção de provas qualificadas, por parte da Polícia Civil, para embasar inquéritos que possam levar à denúncia e a posterior condenação dos assaltantes também são fatores que justificam a queda.
Nos últimos 12 meses, o Rio Grande do Sul registrou o menor número de furtos e roubos a agências bancárias desde 2012, quando passou a contar de forma individual e sistematizada esse tipo de crime. Foram 49 ocorrências, frente a 110 registradas em 2019 (veja no quadro abaixo). Os meses de abril e novembro não tiveram nenhum ocorrência de roubo — e apenas uma de furto cada.
Na BM, a Operação Angico reforçou a fiscalização de uso e transporte de explosivos por meio dos Batalhões Ambientais, tornando mais difícil a chegada de dinamites às mãos de ladrões. No mercado formal — onde é necessário ter empresa registrada, justificar o uso e há controle por numeração —, o assaltante não consegue ter acesso a esse tipo material. Os explosivos só chegam ao criminoso por desvio ou roubo. Outro eixo da estratégia da BM é capturar foragidos que integram organizações criminosas ligadas a ataques e roubos a banco.
Atualmente, o Bope e a inteligência da corporação têm pelo menos cinco nomes que são monitorados. São homens que seguem procurando grupos para se reestruturar e passam a ensinar outros ladrões a atacar e explodir caixas eletrônicos.
Interior
A BM também monitora uma lista de municípios sensíveis a esse tipo de ação. Em geral, são cidades pequenas, que possuem dois ou três bancos com endereços próximos, pouca população, rota de fuga para outras regiões e dificuldades de acesso. Assim, a BM reposiciona os batalhões de choque na tentativa de adiantar a presença policial em possíveis datas e locais de ações criminosas.
— É um jogo de gato e rato: eles tentando burlar o sistema e nós tentamos nos adiantar a eles. Estar um passo à frente é fundamental. As ações planejadas por eles não têm uma fórmula, estão o tempo todo se atualizando — afirma o coronel.
Com pronta-resposta maior, envolvendo batalhões de operações especiais, de choque, inteligência e aviação, as ações também têm sido mais violentas, como aconteceu em março, em Paraí, na Serra, quando sete assaltantes prontos para explodir duas agências foram cercados e morreram em troca de tiros.
— Os criminosos que optam pelo confronto ao ouvir voz de prisão sofrem a reação. O número de mortos em confronto em comparação a outros anos também subiu. Quando esses bandos de criminosos andam juntos, sentem-se mais fortes e com mais condição de enfrentar a polícia, mas estamos bem treinados e bem equipados — conclui Santarosa.
O caminho do dinheiro
Chegar aos valores roubados das agências e mapear o patrimônio das quadrilhas de roubo a banco são dois desafios que envolvem as investigações da Polícia Civil, segundo o delegado João Paulo de Abreu, titular da Delegacia de Roubos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
—Estamos buscando mapear se houve compra de imóveis. Ao fazer a prisão, tentamos apreender carros e outros bens para tentar realmente ressarcir o valor roubado. O nosso desafio é conseguir produzir provas boas e de qualidade, que não sejam refutadas durante o processo criminal e que sejam capazes de apontar quem são os autores e condená-los
A própria responsabilização dos assaltantes —ou a morte em confronto com a polícia — tem efeito pedagógico para reduzir o número de ataques.
—Tem pessoas que estão presas e que, se estivessem soltas, certamente estariam agindo — avalia.
O policial entende que cada ação —seja à noite ou durante o dia, no Interior ou na Capital — tem características específicas, o que torna as investigações ainda mais complexas:
—Em geral, (os assaltantes) não são aventureiros, são pessoas treinadas, com armamento pesado, algo que demanda uma organização. Cada um tem suas características e diferentes níveis de preparação. Não é nada sempre muito igual e não há um padrão que se repete a cada ataque.
Os números de ataques a banco:
Furtos
2019: 58
2020: 36
Roubos
2019: 52
2020: 13
Total
2019: 110
2020: 49
Redução de 55%